_ “Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a
face, e a minha vida foi salva. Nasceu-lhe o sol, quando ele atravessava
Peniel; e manquejava de uma coxa” (Gn 32.30-31).
Quando eu era garoto ficava
apavorado quando, em tempo de Carnaval, encontrava algum mascarado. Não
entendia que debaixo daquela máscara
havia alguém com cara normal igual à minha. Depois ficava imaginando qual o
motivo e prazer que levava alguém a sair
na rua pulando e dançando sem que outros
pudessem reconhecê-lo...
Na verdade, ainda hoje eu não entendo como
alguém pode se satisfazer em “brincar o
carnaval” como anônimo, sem poder
desfrutar do companheirismo e da cordialidade humana. Porém, isso também me faz
pensar na realidade de nossa
religiosidade aparente e superficial com a qual procuramos impor respeito e admiração das
demais pessoas ao nosso redor.
Na verdade, todos nós,
conscientes ou não, estamos sempre
representando algum tipo de papel na vida. Estamos sempre tentando ser aquilo
ou como gostaríamos de fazer com que os outros nos vissem; ou agimos da maneira
que melhor agrada e satisfaz ao modelo esperado por quem, como nós, ocupa
determinada função ou posição social na qual estamos vivendo.
Dificilmente
conseguimos ser autênticos e
transparentes todo o tempo e em todos os lugares onde vivemos. Daí o fato de que alguns, em tempo
de Carnaval, ainda que usando uma fantasia fisicamente, na realidade é quando
estão sendo o que sempre desejaram ser
ou que de fato são no íntimo. Alguns se vestem de mulher porque no fundo sempre foram homossexuais, mas
sempre procuraram se conter, se reprimir, devido tanto à posição que ocupam como pelo desejo
de viverem de acordo com os padrões morais
recebidos desde a infância.
Fico imaginando com quanta frequência nos
apresentamos diante de Deus e das
pessoas portando uma máscara de alegria, santidade, humildade, fidelidade
conjugal, etc; quando na realidade nosso
pensamento e sentimento estão
longe daquilo que fazemos ou
fingimos sentir. E o mais lamentável é que
de tão acostumados a viver com nossas máscaras, elas acabam se
incorporando em nosso modo de ser e viver. Acabamos nos adaptando ao seu uso até acreditarmos que somos aquilo que
representamos. É como o mentiroso, de tanto afirmar determinadas mentiras ele
acaba acreditando que aquilo de fato é a pura verdade. Aí já não conseguimos nos despir das máscaras, mesmo quando nos apresentamos
diante de Deus em oração pessoal, solitária.
Vanderlei Faria
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