É muito significativo que Jesus, contemplando o caos  da existência humana, tenha  proferido estas palavras:  “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mt 5.6).
Há um clamor engasgado, atravessado na garganta de quem se vê  desamparado, solitário, sem ninguém na vida. Um clamor por justiça, ainda que não verbalizado, nos corações marginalizados, esquecidos e  maltratados. Há um clamor da justiça da solidariedade humana, respeito, amizade e consideração. Há um clamor pela justiça no atendimento digno no atendimento aos enfermos e deficientes físicos, mentais e sociais. Infelizmente a religião, ao invés de trazer o alívio  de um atendimento respeitoso, honesto e misericordioso, ao contrário, a própria  religião se envolveu  na busca frenética, desenfreada e desavergonhada  pela glória humana do sucesso material.
Assim, agindo mais com o propósito de auto promoção e marketing do que  na entrega  solidária  de afeto e compaixão – algo que expresse verdadeiramente  o que seja o amor cristão – então se rebaixa e se nivela com o mundo vil e pecaminoso. Daí a decepção e desolação  de tantos em nossos dias, como nos dias de Jeremias. Os nossos olhos, hoje mais do que nunca,  desfalecem, nadam em lágrimas diante da perplexidade vigente. Sentimo-nos sufocados. Não conseguimos orar nem ler a Bíblia. Não conseguimos sorrir e nem chorar. Faltam-nos emoções suficientes para  podermos expressar tais reações. Como disse o salmista no Sl 77.2, recusamo-nos ser consolados.
Todos nós precisamos de companheirismo, boas amizades. Este é um mundo carente, triste, agonizante. O nosso povo atravessa uma tremenda crise de confiabilidade. Enquanto isso, milhares de pessoas continuam quase vencidas, como o povo no tempo de Jeremias: “Os nossos olhos ainda desfalecem, esperando vão socorro; temos olhado das vigias para um povo que não pode livrar” (Lm 4.17). Não havia perspectivas alvissareiras, seus sonhos, suas esperanças foram frustradas. A decepção, o desânimo e a falta de credibilidade nas pessoas e nas instituições havia tomado conta de  seus corações. Olhavam atentamente, na expectativa de  vislumbrarem algum resquício, algum fio de esperança. Mas  perceberam, com muita tristeza e desolação,  que já não lhes restava mais nenhuma  esperança. Em meio às lágrimas da desolação não conseguiam vislumbrar o raiar de um novo dia, novos horizontes. Queremos participar, compartilhar, ajudar, sermos  alguém na vida de alguém!
Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
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