“Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus...”[1]
Pai, quanto emoção sentimos quando nos damos conta de que fomos agraciados com o dom da paternidade, e, naturalmente, também da maternidade!
Guardo ainda na lembrança a forte emoção que senti quando do nascimento de meu primogênito, Vander. Depois de tomá-lo nos braços e apertá-lo bem junto do coração, eu não conseguia me conter de alegria, dizendo para mim mesmo: “É incrível, eu sou pai!”
Quando deixei o hospital naquele dia, entrei em meu fusquinha e saí como um doido, passando pelas casas dos irmãos da igreja para comunicar-lhes o fato. E justamente eu que achava ridícula a atitude eufórica dos pais ao comunicarem o nascimento de seus filhos. Enfim, chegou a minha vez!
Essa emoção foi se repetindo com a chegada das filhas, Vanice e Vanessa. Agora, acrescido de uma preocupação a mais: “Estaria eu preparado para criar filhas?” A verdade é que não estava preparado convenientemente nem para criar o filho, quanto mais as filhas. O fato é que sentia-me, como ainda me sinto, profundamente privilegiado pelo dom da paternidade, que graciosamente me foi concedido pelo Pai celestial. Com o tempo, porém, cheguei à conclusão de que o maior privilégio continua sendo o fato de sermos filhos. Como disse um saudoso amigo, Dr. Jacy Leite, dias antes de sua morte: “Fico feliz em pensar que vou morar para sempre num lugar onde jamais serei pai, somente filho”. Naturalmente, ele se referia ao fato de que ia para o céu e não teria mais nenhuma preocupação de cuidar de filhos.
O nome Pai, em referência a Deus, é muito caro a nós. É um nome extremamente carinhoso que nos traz muito conforto. Jesus nos ensinou a chamar Deus de “nosso Pai”. Todavia, o uso que fazemos desse nome não tem a mesma conotação que tem para Jesus. Para Ele é uma questão de essência, pois o Filho é da mesma natureza do Pai. É ímpar o uso que Jesus faz desse nome, pois Deus é nosso Pai numa conotação bem diferente. Por causa da nossa salvação é que podemos chamar Deus de Pai. Em amor, Deus nos adotou como Seus filhos. Todavia, Jesus fez questão de dizer que Deus era “meu Pai e vosso Pai”...
Em Gl 4.1-7, Paulo usa duas expressões para “pai”, uma grega (Páter) e a outra aramaica (Abba). Essas expressões, como usadas por Paulo, possuem uma conotação de ternura, docilidade e proximidade de um pai com seus filhos. Nesses versos, Paulo ensina que entramos no estado de filiação pela obra de Cristo, que assegura a nós o recebimento do Espírito do Filho. Esse Espírito é que nos faz chamar por esse Abba tão terno e bondoso (v.6). Como consequência dessa filiação, Deus nos faz Seus herdeiros (v.7), tornando-nos participantes de todas as coisas que um Pai cheio de ternura concede aos seus filhos...
Numa noite fria e escura, quando faltou luz em nossa casa, Vander, com cerca de três anos, amedrontado, pulou de seu berço para a nossa cama. Agarrado ao meu pescoço, embaixo da coberta, sussurrou: “Papai amigo, papai amigo!” Sem dúvida alguma, essa foi para mim a melhor interpretação, ou aplicação, da expressão bíblica “Aba-Pai”. Hoje, quando me sinto perplexo e inseguro diante dos temporais da vida, neste mundo hostil e assustador, volto meu pensamento àquele momento da infância de meu filho. Então relembro aquelas palavras carregadas de emoção e confiança, e considero: Se eu, sendo tão imperfeito e pecador, consegui transmitir segurança e paz a meu filho, quanto mais o nosso Pai do céu!? Oh, bendita consolação, eu tenho um Pai no céu! Um Pai amigo e compassivo, que me aconchega e me sustenta; que me anima, dá-me força e coragem em meio ao desalento de uma da noite escura e fria!
Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
[1] Mt 6.9a
[2] Mc 1.11
[3] Manning, Brennan - A Assinatura de Jesus, p.138-140 – Ed. Textus.
[4] Carlos de Campos, Heber – O SER DE DEUS E OS SEUS ATRIBUTOS – Coleção Evangélica – Ed. Cultura Cristã – P. 100, 101
[5] Mc 14.36
[6] Hendriksen, William – Comentário do Novo Testamento – Gálatas – p.235, 237
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