terça-feira, 22 de julho de 2014

ORGULHO SANTO


 

Ao longo dos séculos a soberba humana tem sido camuflada com muitos apelidos ou com nomes mais sugestivos, menos escandalosos, mais atraentes e até convincentes...  Hoje em dia é muito comum ouvir-se a expressão “orgulho santo”, como se de fato Deus estivesse aprovando e Se alegrando com um tipo de comportamento e atitudes soberbas da parte daqueles que são agraciados com Suas  extraordinárias bênçãos espirituais.  Na verdade, todo orgulho é diabólico e deplorável  aos olhos de Deus. Basta uma leitura superficial na Palavra de Deus para percebermos o quanto este tipo de pecado ofende e desagrada ao Senhor. E o chamado “orgulho santo” é o mais deplorável exatamente porque o homem procura se engrandecer “espiritualmente” em nome de Deus, como se Deus estivesse dando-lhe aprovação e consentimento para manipular as Suas bênçãos. Por isso Jack  Deere diz que o pior tipo de orgulho, ou de soberba, é o religioso.

Creio que o orgulho religioso, teológico, doutrinário, pode se manifestar de duas maneiras. Há, primeiramente, e mais frequentemente, aqueles que se acham suficientemente capazes para explicar e desvendar  os mistérios  divinos em toda a sua plenitude. Isto acontece com aqueles  que se julgam preparados, cultural e intelectualmente, nas ciências médicas, psicológicas ou sociais. Estes desprezam a Bíblia julgando-a simplória e ultrapassada; julgando-se os únicos capazes de  apresentarem os recursos plausíveis para  os conflitos humanos, tendo como argumento o fato de estarem baseados  em dados científicos. Eles se acham  donos das respostas aos anseios humanos.  Com base nessa mesma premissa, há  quem  se ufane  pelo fato de ter obtido conhecimento teológico, exegético, à luz da interpretação bíblica  mais profunda, embasados  na pesquisa  das línguas originais...  
 
Então, esse tipo de orgulho diz respeito ao orgulho intelectual, cultural,  a respeito das coisas espirituais. É um dos maiores causadores da  frieza  espiritual do povo de Deus;  levando o crente a não confiar na oração e não se achegar a Deus. Perdendo, assim, o privilégio de conhecer a voz de Deus. 
 
Tais pessoas, embora defendam  doutrinariamente que o Senhor Jesus é o mesmo ontem, hoje e para sempre, e que  Ele é o nosso  único mediador entre Deus e os homens; ainda assim, na  realidade acham que isso não  é algo para se  vivenciar, para se experimentar na prática diária. Tudo isso é fruto da arrogância e orgulho dos “mestres” que passam essa ideia  de que somente  aqueles que muito estudaram e alcançaram  determinado grau de conhecimento intelectual  são capazes de  oferecer qualquer solução ou alternativas para os problemas espirituais dos dias atuais.

Por outro lado, o diabo  tem usado o orgulho religioso com aqueles que já  experimentaram, de fato, um relacionamento mais profundo  com Deus. Aqueles que  foram impactados com a voz de Deus, com o mover do Espírito,  correm o risco de  serem afetados com o orgulho do poder de Deus.  São aqueles que se julgam tão íntimos  de Deus a ponto de  terem  sempre e a qualquer  hora a capacidade e possibilidade para manifestarem o poder de Deus, como se  tivessem uma procuração direta do céu para realizarem tudo o que  desejam, ou peçam; como se  todo o poder lhes fosse dado, no céu e na terra... Esquecendo-se que essa prerrogativa diz respeito ao Filho de Deus, e somente a Ele. Esse tipo de orgulho leva  ao fanatismo religioso, no sentido de se julgarem capazes e  autossuficientes para manipular o poder de Deus de acordo com  seus próprios  interesses e para o seus próprios benefícios.

Às vezes o orgulho nos impede de sermos transparentes e sinceros para com aqueles  a quem amamos. Temos vergonha  de  demonstrar nossa fragilidade e sentimentos mais íntimos. Temos vergonha de demonstrar que nem sempre estamos de bom humor; que temos  carências afetivas, emocionais e espirituais... Jesus revelou Sua intimidade emocional para os Seus, e o fez tanto com atitude como em  palavras: “E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai” (Mc 14.34).
É preciso muita humildade para que alguém tão acima do normal, tão fora de  série, possa admitir-se profundamente triste e angustiado diante de seus auxiliares, subalternos. Ele não apenas  os repreendeu por estarem dormindo naquele momento tão difícil para Ele, mas as  Suas  palavras também demonstram a ternura de Seu coração numa franca demonstração de carência afetiva, algo tão  comum entre os humanos.

 

Vanderlei Faria

pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

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