Uma escada até as nuvens
Certo dia, Darlene e eu fomos a um enorme parque urbano, no
sul da Califórnia, com nossos filhos, na época pré escolar. Era o tipo de
parque que faz um homem crescido desejar voltar a se tornar criança. Havia
balanços, labirintos, gangorras, mais o mais emocionante eram os escorregadores
– não apenas um, mas três – um pequeno, um médio e um gigante. David, que na
época tinha cinco anos, correu como uma bala na direção do pequeno.
- Porque você não desce com ele? – perguntou Darlene. Mas
eu tinha outra ideia.
- Vamos esperar e ver o que acontece – disse eu.
Assim, relaxamos num banco próximo e ficamos observando.
David subiu depressa ao topo do escorregador menor. Acenou para nós com um
enorme sorriso nos lábios e deslizou rapidamente.
Sem hesitação, ele resolveu partir para aquele de tamanho
médio. Começou a subir a escada e, na metade do trajeto olhou para mim. Virei o
rosto. Ele analisou suas opções por alguns instantes e, cuidadosamente, começou
a descer, degrau por degrau.
- Querido, você precisa ir até lá e ajudá-lo – disse minha
esposa.
- Ainda não – respondi, na esperança de que minha piscada
de olho pudesse dizer a ela que não estava sendo descuidado com o menino.
David ficou alguns minutos na base do escorregador olhando
outras crianças subirem, escorregarem e correrem de volta para subir de novo.
Finalmente ele decidiu. Criou coragem, subiu e escorregou para baixo. Na
verdade fez isto três vezes sem olhar para nós.
Então, vimos nosso filho encarar o maior escorregador de
todos. Neste momento, Darlene ficava ansiosa.
- Bruce, acho que ele não deveria ir naquele escorregador
sozinho.
- Concordo – respondi claramente – mas acho que ele também
não vai querer fazer isso. Vamos ver...
Quando chegou ao pé do escorregador, ele gritou:
- Papai!
Mas eu olhei novamente para o outro lado, fingindo não tê-lo
ouvido.
Ele deu mais uma olhada na escada. Em sua imaginação
infantil, aquela escada deveria chegar até as nuvens. Ficou olhando um
adolescente descer voando. Então, enfrentando o seu medo, ele decidiu tentar.
Passo a passo, uma mão após a outra, devagar David avançou escada acima. Antes
da metade da escada, ele de repente congelou.
Naquele momento, o adolescente já
estava atrás dele e gritou para que ele subisse logo. Mas David não podia. Não
conseguia nem subir nem recuar. Ele havia chegado a ponto do evidente fracasso.
Corri para ele e perguntei, da base da escada:
- Tudo bem filho?
Ele olhou para mim, tremendo, mas segurando a escada com
forte determinação. Ele tinha uma súplica na ponta da língua:
- Papai, desce comigo? – O adolescente estava perdendo a
paciência, mas eu não queria deixar a oportunidade passar.
- Por que, filho? – perguntei-lhe, olhando atentamente para
seu pequeno rosto.
- Não consigo fazer isso sem você, papai – disse ele
tremendo. – É muito grande para mim!
Estiquei-me o mais que pude para alcançá-lo e o levantei em
meus braços. Então subimos juntos aquela longa escada até as nuvens. Chegando
no topo, coloquei meu filho entre minhas pernas e o segurei com força. Então,
descemos o escorregador gigante, rindo e gritando por todo o trajeto.
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