“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”
4. Vemos aqui a absoluta singularidade do Salvador.
O Senhor Jesus morreu como nenhum outro jamais morreu. Essa
foi a sua afirmação: “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para
tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho
poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo 10.17,18). As várias
provas de que a vida de Cristo não foi tirada dele foram expostas diante do
leitor na Introdução deste livro.
A mais convincente demonstração de todas foi
vista na entrega de seu espírito nas mãos do Pai. O Senhor Jesus mesmo disse:
“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”, mas o Espírito Santo, ao descrever
a verdadeira renúncia da sua vida, emprega três diferentes expressões que dão a
conhecer mui convincentemente o fato que nós estamos ora considerando, e as
várias palavras empregadas pelo Espírito são mais apropriadas aos respectivos
evangelhos em que são encontradas.
Lemos em Mateus 27.50: “E Jesus, clamando outra vez com
grande voz, rendeu o espírito”. Mas tal tradução não consegue salientar a força
própria do original: o sentido no grego é o de que ele “despachou seu
espírito”. Essa expressão é a mais apropriada em Mateus, que é o evangelho do
rei, apresentando nosso Senhor como “O Filho de Davi; o Rei dos judeus”. Um tal
termo é lindamente adequado ao evangelho real, pois o ato do Senhor tem
conotação de autoridade, como de um rei mandando embora um servo.
A palavra
usada em Marcos — que apresenta nosso Senhor como o servo perfeito — é a mesma
de nosso texto — tomada de Lucas, o evangelho da perfeita humanidade de Cristo
— e significa, ele “soprou para fora seu espírito”. Foi sua passiva tolerância
da morte. Em João, que é o evangelho da glória divina de Cristo, uma outra
palavra é empregada pelo Espírito Santo: “Inclinando a cabeça, entregou o
espírito” (Jo 19.30), ou liberou, talvez fosse mais exato. Aqui, o Salvador não
“encomenda” seu espírito ao Pai como no evangelho de sua humanidade, mas, de
acordo com sua glória divina, como alguém que tem completo poder sobre ele,
“libera” seu espírito!
Duas coisas eram necessárias para se fazer propiciação:
primeiro, uma satisfação completa deve ser oferecida à santidade de Deus
ultrajada e à sua justiça ofendida, e isso, no caso de nosso substituto,
somente podia ser por ele sofrendo a ira divina derramada. E isso tinha sido
suportado. Agora ali restava apenas a segunda coisa, e essa era para o Salvador
provar o gosto da morte. “Aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo
depois disso o juízo” (Hb 9.27).
Com o pecador é, primeiro, a morte, depois o
julgamento; com o Salvador a ordem, naturalmente, foi invertida. Ele suportou o
juízo de Deus contra os nossos pecados e depois morreu. O fim agora era chegado. Perfeito senhor de
si mesmo, não subjugado pela morte, ele brada com uma grande voz de vigor não
exaurido, e entrega seu espírito nas mãos do Pai, e nisso sua singularidade foi
manifestada.
Ninguém mais jamais agiu ou morreu assim. Seu nascimento foi
singular. Sua vida foi singular. Sua morte foi singular. Ao “dar” a sua vida,
sua morte foi diferenciada de todas as outras mortes. Ele morreu por um ato de
sua própria volição! Quem, a não ser uma pessoa divina, poderia ter feito isso?
A um mero homem teria sido suicídio; mas, para ele, era uma prova de sua
perfeição e singularidade. Ele morreu como o Príncipe da Vida!
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