O  poeta Gióia Júnior, de saudosa memória, descreve numa linda poesia, intitulada. “ORAÇÃO DA MAÇANETA”,  o que todos nós pais, que temos filhos  jovens,  já experimentamos algum dia:
_ “Não há mais bela música que o ruído da maçaneta da porta quando meu filho volta para casa.
_ Volta da rua, da vasta noite da madrugada de estranhas vozes, e o ruído da maçaneta e o gemer do trinco, o bater da porta que novamente se fecha; o tilintar inconfundível do molho de chaves, são um  doce acalanto, uma suave cantiga de ninar.
_ Só assim fecho os olhos, posso dormir e descansar.
_ Oh! A longa espera, a negra ausência, as histórias de acidentes e assaltos que só a noite como ninguém sabe contar!
_ Oh! Os presságios e os pesadelos, o eco dos passos nas calçadas, a voz  dos bêbados na rua e o longo apito  do guarda medindo a madrugada, e os cães, uivando na distância e o grito lancinante da ambulância!
_ E o coração descompassado a pressentir e a martelar na arritmia do relógio do meu quarto esquadrinhando a noite e seus mistérios.
_ Nisso, na sala que se cala, estala a gargalhada jovem da maçaneta que canta a festiva cantiga do retorno. E sua voz engole a noite imensa com todos os ruídos secundários.
_ Oh! Os címbalos do trinco e os clarins da porta que se escancara, e os guizos das muitas chaves que se abraçam, e o festival dos passos que  ganham a escada!
_ Nem as vozes da orquestra e o tilintar  de copos, e a mansa canção da chuva no telhado podem sequer se comparar ao som da maçaneta que sorri quando meu filho  volta.
_ Que ele retorne sempre são e salvo, marinheiro depois da tempestade a sorrir e cantar. E que na porta a maçaneta cante a festiva canção do seu retorno que soa para mim como suave cantiga de ninar.
_ Só assim, só assim meu coração se aquieta, posso afinal dormir e descansar”  (Gióia Júnior).
Você sabe o que significa ter um Pai amoroso, terno, todo poderoso, o Senhor do Universo, o Deus de misericórdia?  O Pai celeste, com quem podemos falar a todo  momento, apresentando-Lhe os nossos conflitos mais íntimos, nossos problemas, temores  e rancores? Você conhece esse Pai?  É dele que foge o Filho Pródigo, conforme a narrativa de Lucas (Lc 15.11-24). Vemo-lo agora longe do pai, tendo abandonado a casa paterna na busca frenética e descuidada por fazer novos amigos a qualquer preço. Além de desperdiçar seus bens materiais, desperdiçou  e desconsiderou algo mais precioso e indispensável: A companhia do pai. Em conseqüência  à  leviandade e superficialidade de seus relacionamentos, acabou perdendo tudo. Queria tudo, queria abraçar e conquistar o mundo, ficou sem nada; todos o abandonara. Todos a quem confiara seu tempo, seus bens, sua vida. Tinha apenas a companhia mal cheirosa dos porcos, de  quem deveria  cuidar, pastorear... Ele fracassara até mesmo  como mendigo: Ninguém lhe dava nada...  Um quadro tão comum em todos os tempos.
Você já pensou na possibilidade de Deus estar privando-o de alguns privilégios, tirando alguns de seus bens materiais, seu prestígio social, enfim, coisas importantes e relevantes, com  o propósito de impedi-lo de pecar mais, e, assim, voltar a conviver com o Pai?!
O filho havia esbanjado em tempo de crise. Ao trabalhar com  porcos (animais imundos para os judeus), renunciara sua religiosidade. O arrependimento tornou-se possível  ao reconhecer sua triste situação e abrir mão do orgulho, aceitando a graça. Ao contrário do filho mais velho que desce e não sobe, não retorna, não demonstra  qualquer reação positiva à graça oferecida; o filho mais novo sabe que está perdido e necessitado. Então ele desce para subir  no amor  do pai. E assim  voltou. Perdera  todo o direito de ser  tratado como filho, seria  apenas  um empregado remunerado, mas estaria junto ao pai, e isso lhe bastava. Quem sabe, em sua vida, amado leitor, Deus esteja permitindo que haja  algumas perdas significativas, fome de paz, fome de pão, fome de Deus, para conduzi-lo de volta  ao amor do Pai!?  Então, diga como o filho da parábola: “Sinto muito o que tenho feito, mas não sou um inútil. Ainda  constituo em  matéria prima de boa qualidade, fui criado por Ti, ó Deus! Molda-me conforme a Tua vontade, pois tenho fracassado num país distante...”
_ “Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor” (Lm 3.40). Você  também pode  dizer: “Pai, pequei... esqueci  teu amor. Ofendi o Teu  santo nome, tenho  andado  longe de Ti... Não sou  digno  de ser  chamado  Teu filho!”  Então encontrará  os braços  ternos do  Senhor Jesus, conduzindo-o  de volta  à cada do  Pai: “Porque este meu filho  estava  morto  e reviveu, estava  perdido  e foi achado...”    Ouça  novamente a voz  de convite do Salvador:  “Tornai-vos  para mim, diz o  Senhor dos exércitos, e eu  me tornarei para vós” (Zc 1.3).  “O que  vem a mim, de  modo  algum o lançarei  fora.” – disse Jesus em João, 6.37. E ainda: “Desfaço  as tuas transgressões como a névoa, e  os  teus pecados como a  nuvem; torna-te  para mim, porque  eu te  remi” (Is  44.22). Amém.
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