quarta-feira, 6 de maio de 2009

O SACERDÓCIO CRISTÃO PARA UM MUNDO EM CRISE

Deus age frequentemente, e com muito mais eficácia, através do sofrimento de homens e mulheres envolvidos de corpo e alma com a dor alheia. Não apenas com eles, mas entre eles. Não apenas curando suas feridas, mas sofrendo com as suas dores. Não curando superficialmente as feridas do povo, mas buscando com eles a cura profunda e eficaz de suas dores e sofrimentos físicos, emocionais e espirituais. E isto só é possível se estivermos completamente envolvidos, primeiramente com o Senhor, e também com a dor alheia. E o meio pelo qual Deus nos faz sensibilizar com os outros é fazendo-nos viver os seus próprios conflitos e ais.

Lembro-me de ter ouvido um missionário há algum tempo o qual dizia exatamente isto. Deus o fez pregar para uma colônia de leprosos, não por sua livre e espontânea vontade, mas por que ele mesmo tornou-se leproso. Tendo que viver entre aquelas pessoas sofridas e marginalizadas, sofrendo e chorando com eles, aquele homem de Deus sentia-se plenamente confiável e inserido em seu contexto humano. Sua mensagem não soava como paliativo de quem não sabe o que é padecer daqueles males, porque ele também estava vivendo em circunstâncias semelhantes. Aliás, foi assim que o Filho de Deus veio ao mundo; Ele sofreu como cada um de nós, e muito mais do que nós. Ele levou sobre Si os nossos pecados e as nossas dores, por isso sabe o que é padecer! Quando Ele fala conosco, não o faz com insensibilidade e frieza porque Ele sabe realmente como nos sentimos. Se quisermos seguir os Seus passos temos que estar preparados para enfrentar dores e lágrimas em nossa caminhada também. Assim, não só exercemos a condição profética mas, também, a sacerdotal, o sacerdócio cristão. Nos juntamos aos que sofrem, sofrendo com eles e clamando, intercedendo a Deus juntamente com eles, e não apenas por eles.

Quando choramos juntos, não apenas por polidez, solidariedade, simpatia ou empatia, mas pelo fato de sermos parte da vida daquela pessoa, por sermos atingidos também com os mesmos sentimentos de perdas e tristeza, o nosso clamor a Deus não soa superficial ou insensível, porque vem do coração, do mais profundo de nossas entranhas. Desta forma, além de agirmos com sinceridade, solidariedade e empatia, agradamos a Deus com a nossa postura cristã sacerdotal e profética, consolando e edificando as pessoas com a palavra que o Senhor coloca em nossa boca. Não somos mais um tipo “estranho no ninho”, mas alguém do meio, gente como a gente, que chora junto, caminha junto, se alegra junto e invoca a Deus junto. Dessa forma, podemos observar algumas frases muito frequentes nas orações dos profetas; tais como “nós pecamos, Senhor”; Oh, Deus, não nos desampares”; “aviva-nos, Senhor! Etc. Isto porque eles não se limitavam a falar ao povo como se fora de um alto e inatingível palanque, mas de coração para coração, como o Senhor Jesus faz conosco.

O Brasil é um canteiro de ossos secos. O mundo em que vivemos é um tremendo vale de ossos secos; vidas secas, como escreveu Graciliano Ramos. Gente que perdeu toda esperança, se arrastando pelas igrejas e ruas em busca do socorro vão. Há desolação e morte por todo lado. Gente que já não sabe mais o que fazer e em quem confiar. As instituições falharam, as autoridades decepcionaram, os amigos lhes faltaram e a religião tornou-se um grande mercado comercial. Muitos estão como que proferindo as palavras do profeta Jeremias: “Os nossos olhos desfaleciam, esperando vão socorro; olhávamos atentamente para gente que não pode livrar”.[1] E nós, os salvos por Cristo, não podemos entrar nesse oba-oba da religiosidade do sucesso e da prosperidade. Mas, que vivamos na dependência do Senhor, sabendo que o nosso trabalho não é vão, no Senhor.[2]

É provável que, enquanto você está lendo esse texto, algum filho de Deus, em algum lugar na face da terra, esteja passando por terríveis perseguições e afrontas, enquanto outros estejam sendo mortos por causa do nome de Jesus. Talvez você mesmo esteja sofrendo terríveis provações, levando a preciosa semente. Então, lembremo-nos da promessa de Deus: “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes”.[3] Paulo, apóstolo completa: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”.[4]


Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

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[1] Lm 4.17 – RC
[2] 1Co 15.58
[3] Sl 126.5-6
[4] Gl 6.9-10

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