terça-feira, 5 de maio de 2009

A VOZ PROFÉTICA PARA UM MUNDO EM CRISE

_ “Eu senti a presença poderosa do SENHOR, e o seu Espírito me levou e me pôs no meio de um vale onde a terra estava coberta de ossos. Ele me levou para dar uma volta por todos os lugares do vale, e eu pude ver que havia muitos ossos, muitos mesmo, e estavam completamente secos”.[1]

Normalmente oramos ao Senhor para que nos conduza com sabedoria em meio às circunstâncias; pedimos-Lhe que guie os nossos passos, oriente a nossa vida confirmando o que Ele mesmo nos diz em Sua Palavra.[2]

E Deus ouve e atende a nossas orações. Aí, como num pesadelo, de repente nos encontramos numa cidade violenta, perigosa, com uma vizinhança estranha, suspeita e carente... Enfim, definitivamente, não foi esse o nosso “sonho dourado”; não foi essa a nossa intenção quando oramos para que o Senhor nos conduzisse. Certamente alguma coisa deu errada, ou o Senhor não atendeu ou entendeu nosso pedido – assim imaginamos.

Mas, se de fato somos homens e mulheres que desejam ser guiados pelo Espírito, precisamos discernir a vontade do Senhor em cada circunstância em que nos encontramos. Ele, o Senhor, é quem nos conduz, seja para habitarmos numa linda e confortável casa, ou num lugar ou situação desprovidos de beleza, conforto e saúde. Deus tem determinado que alguns de Seus servos vão morar entre favelados, outros em meio a viciados em todo tipo de drogas; outros entre enfermos contagiosos e repulsivos, seja trabalhando na área da saúde ou mesmo entre os próprios enfermos. Deus tem determinado que alguns de nós, Seus filhos, vão viver em meio às circunstâncias desalentadoras e caóticas, como nas enchentes, secas, terremotos, acidentes geográficos de grande proporções, etc.

Deus tem determinado que alguns de nós esteja no local e tempo de um ataque terrorista; que alguns de nossos filhos e demais parentes estejam envolvidos em acidentes aéreos... Enfim, Deus determina qual o vale de ossos secos em que vamos percorrer; numa epidemia, pandemia, enchente, secas ou vale da sombra da morte no qual devemos habitar, e no qual devemos exercer a nossa função profética. Isto, naturalmente, não quer dizer que vamos sair por aí nos envolvendo deliberadamente em conflitos e confusões. Não significa que devamos assumir uma postura conformista ou derrotista. Não significa que o crente deva ser uma pessoa acomodada e passiva. Ao contrário, Deus nos coloca em tais circunstâncias para sermos a Voz Profética, a voz que clama, alguém que faz a diferença. Deus quer que sejamos irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeçamos como luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida.[3]

Ezequiel se viu no meio de um grande cemitério repleto de ossos ressecados e deslocados uns dos outros. Não havia qualquer sinal de vida, beleza ou esperança para aqueles ossos ressequidos. Algumas vezes nos encontramos em situações semelhantes; quando tudo ao nosso redor parece triste e desolador. Em tais circunstâncias, provavelmente ouvimos palavras como as dos israelitas no tempo de Ezequiel: “Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo exterminados...”[4]

Em momentos assim o crente, que também passa por semelhantes tribulações ou calamidades, tem a sublime missão de ser a voz profética de esperança e despertamento para quem já perdeu toda esperança de recuperar tudo que julgava ser a razão de sua vida: bens materiais, emprego, família, pessoas queridas, filhos, pais e irmãos... Em momentos assim, o servo de Deus não pode se entregar ao desespero e desânimo como os que não têm a esperança da glória de Deus. Mas precisamos atentar para o fato de que é Deus quem nos conduz nesse tempo e lugar, especificamente, para resplandecermos como astros no mundo caótico e ressequido espiritualmente.

O pior mesmo é quando a sequidão espiritual vai adentrando e contaminando as nossas vidas e famílias. E quando menos percebemos já não temos prazer nas coisas de Deus; não nos emocionamos mais com o mover do Espírito em nosso meio; não conseguimos mais distinguir as coisas espirituais entre as pecaminosas e mundanas; não vibramos com os louvores de gratidão ao Senhor, não temos mais prazer em ler, ouvir ou meditar na Palavra de Deus. Passamos a “assistir aos cultos” até como bons ouvintes, mas não cultuamos de fato ao Senhor. Contentamo-nos com os rituais religiosos desprovidos do vigor do Espírito Santo. Então nos tornamos parte dessa ossada barulhenta e movimentada, porém sem a verdadeira vida. E passamos à sequidão completa quando as coisas espirituais, a ação poderosa do Espírito Santo começam a serem vistas por nós como se fora mero emocionalismo, fanatismo ou desvio doutrinário. Evocamos nossa tradição religiosa, nossas doutrinas engessadas, e nos revoltamos contra aqueles que têm a ousadia de agirem como a Voz Profética no meio de uma geração ressequida pelo pecado.
De qualquer forma, somos desafiados a clamar aos céus pela vida plena concedida pelo Espírito Santo de Deus em nome do Senhor Jesus.

Na experiência do profeta Ezequiel, primeiramente ele contemplou a situação de completa desolação daqueles ossos, os quais representavam o povo para o qual Deus havia lhe enviado a fim de pregar a mensagem de restauração e avivamento. Em seguida Deus lhe mostrou que poderia haver um grande ajuntamento sem, contudo, haver vida plena.[5] Aqui temos um grande despertamento para a liderança de nossas igrejas. É o perigo de nos contentarmos com os grandes ajuntamentos; muita gente feliz, vibrante e animada. Casa cheia de gente vazia, sem o enchimento do Espírito Santo. Corremos o risco de nos contentarmos com os elogios pelos belos sermões; com a inspiração e enlevo espiritual de nossa música sacra de primeira qualidade; com as festas sociais de nossa juventude; com as programações festivas celebrando os dias especiais de nossa ortodoxia... Enfim, corremos o risco de nos contentar com o fato de que estamos ativos, vibrantes e atuantes em nossa sociedade... Mas, uma questão precisa ser lembrada constantemente: estamos de fato sendo movidos pelo Espírito de Deus ou pelo espírito de orgulho e vaidade da instrumentalidade humana? É o Espírito de Deus quem está movendo as nossa vidas, ou somos movidos pela cultura secular e pela sabedoria humana?

Os passos anteriores são fundamentais e sumamente importantes para profetizarmos com o poder do Espírito, porém não são suficientes sem a ação do Espírito. Precisamos nos dar conta de que não estamos nesse vale por acaso, é o Senhor quem nos conduz a fim de sermos e fazermos a diferença entre um mundo em crise, seco e desprovido da verdadeira vida cristã. O ajuntamento das pessoas é importante e indispensável, embora não o suficiente. Tudo isso é necessário, mas não podemos parar aí. Nossa missão principal é pedir a Deus que derrame Seu poder e glória sobre essa geração entre a qual vivemos.

Escrevo estas linhas exatamente quando o Brasil experimenta as consequências da crise financeira mundial; ao mesmo tempo em que o mundo se vê alvoroçado com a mais recente peste: a gripe suína; quando o noticiário da TV nos informa das enchentes no norte e nordeste de nosso país, especialmente no Pará, Maranhão, Piauí e Ceará; enquanto na cidade de Erechim, RS, há uma seca de proporções semelhantes às que ocorrem quase todos os anos no nordeste. Diante de tais circunstâncias calamitosas no Brasil e no mundo, além dos problemas pertinentes a cada região, o Conselho de Pastores de Volta Redonda – RJ, sugeriu um período de jejum e oração contra a violência, o roubo de veículos e a pedofilia em nossa região. Tendo reservado esse dia para jejuar e orar nesse sentido, oro para que Deus nos conceda a graça de sermos seus porta-vozes no meio dessa geração perversa e corrupta. Oro pela Igreja do Senhor de um modo geral, a fim de que não nos contentemos com o ativismo e o proselitismo, ou com o excesso de otimismo pelo fato de haver encontros vibrantes, animados mas destituídos do enchimento do Espírito. Oro para que Deus nos dê a visão de Ezequiel a fim de percebermos com precisão a verdadeira situação em que vivemos entre ossos secos. Que o Senhor nos dê o discernimento entre “barulho santo” e o mover do Espírito; ajuntamento religioso e ajuntamento movido pelo Espírito de Deus. Que Ele, portanto, nos abençoe nesse propósito. Amém.


Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

LEIA EM BREVE O LIVRO “ENSINA-NOS A CONTAR OS NOSSOS DIAS” – VANDERLEI FARIA –
Visite o Portal: www.midiasound.com

[1] Ez 37.1-2
[2] Rm 8.14
[3] Fl 2.15,16a
[4] Ez 37.11b
[5] Ez 37.7-8

Nenhum comentário: