O texto de  Lucas 2:8-21 
faz-me lembrar de um Natal de minha infância; o que poderia chamar de  Meu
Natal Inesquecível. Eu tinha cerca de nove anos apenas. Nossa família,
apesar de pobre, era unida, alegre e bem equilibrada de um modo geral. Meu pai
era  agricultor; um pequeno sitiante que saíra da cidade grande (Volta
Redonda, RJ), fugindo da poluição e da agitação comercial. Meus irmãos e eu
(cinco até então) pouco fazíamos para ajudar na manutenção  da casa. Minha
mãe, ao contrário,  trabalhava duro lavando roupas para  ajudar no
suprimento do orçamento doméstico. 
Mas vivíamos tranquilos, sem grandes
preocupações, pelo menos nós, os menores. Naturalmente que os “velhos” tinham
lá as suas preocupações e ansiedades, como todos os pais responsáveis, pela
alimentação e educação daquelas vidas preciosas, como são todos os
filhos.  Mas creio que não eram  tantas as preocupações da família,
considerando-se as condições em que vivíamos. 
Naquele fim de semana, porém, 
as circunstâncias eram por demais  desalentadoras, sombrias. A lavoura de
meu pai fora totalmente dizimada por uma  forte geada. O pequeno cafezal
era a esperança de fartura e novos investimentos. A colheita era esperada com
profunda expectativa, ansiedade e muito entusiasmo. De repente, drasticamente,
em apenas uma noite de geada toda a  economia e esforços de anos de
trabalho duro e honesto se desfizera. 
Na noite de Natal haveria, como de
costume, a programação festiva em nossa casa, onde  se reunia a
congregação da Igreja. Meu pai era o exemplo de resignação e fé. Minha mãe
redobrava seus esforços  para minimizar as  dificuldades, lavando
roupas aos montões. Eu, que não entendia praticamente nada quanto à gravidade
da situação, brincava tranquilamente com os demais  meninos de minha idade.
Enquanto aguardávamos o início do culto especial de Natal, um coleguinha pôs-se
a choramingar e resmungar ao meu lado. 
Procurei saber o motivo do seu
descontentamento. E ele então começou  a maldizer suas botas novas, por
estarem apertando seus pés. Com toda humildade própria de uma criança,
perguntei-lhe: "Quer trocar com os meus sapatos? Eles não machucam!"
Imediatamente ele parou de chorar. Enxugou as lágrimas, e, verificando as
péssimas condições das minhas sandálias (Alpargatas Rodas), velhas, rasgadas,
furadas e desfiguradas, disse-me sem pestanejar: "Não precisa, já parou de
doer!" 
Desde então, muitos natais já se passaram, porém, não posso
esquecer daquele Natal de minha infância.  Sempre que sou tentado a
lamentar e angustiar-me, devido aos "sapatos velhos" que a vida me
proporciona, lembro-me daquele inesquecível Natal.  
Na vida sempre somos tentados a viver
lamentando a nossa "triste sorte"  dos "sapatos
velhos"; ou lamentando profundamente pelo  desconforto e apertos que
nos causam as novidades que ostentamos. Quando reconhecemos o quanto somos
ingratos e mesquinhos, então percebemos  que ainda  estamos em
vantagem. Nossa dor e sofrimento são amenizados e suportados com mais
entendimento, resignação e coragem, quando percebemos que há sempre alguém em
pior situação que a nossa. E nem por isso estão a lamentar e a maldizer-se. 
Naquele Natal de minha infância,
apesar dos meus sapatos velhos, rotos, eu era feliz. Sentia-me feliz. Estava
envolvido, impregnado do  verdadeiro sentimento natalino: paz no coração e
alegria na alma! Havia entre nós uma preocupação maior e mais vibrante do que
comer,  beber e vestir roupas novas: Jesus Cristo, Paz na Terra entre os
homens que de boa vontade O recebem em seus corações. Eu queria saber, conhecer
melhor a fascinante história do  Menino pobre  que se tornara 
Rei dos reis. Queria saber o significado mais profundo de toda aquela linda
história. E, mais ainda, o que isso tudo tinha a ver  com todos os meninos
pobres e rejeitados de minha terra. 
Inesquecível  Natal! Faz-me
pensar e considerar que  preciso continuar lutando, e crendo sempre.
Preciso enfrentar a vida. Lutar muito, continuar a caminhada, sabendo que não
estou sozinho. Jamais estarei só. Porque Jesus, o Rei  dos reis, o Filho
do Deus Altíssimo está comigo, sempre e eternamente. Ainda que venham as
tempestades e calamidades, Ele comigo estará, sempre. Posso confiar em Suas
palavras: "Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós" (Jo 14.18).
Caminhando  com sapatos novos  que dilaceram  os pés, ou com
chinelos velhos  que entristecem a alma, causando vergonha, 
humilhação e tristeza; Natal sempre há de proporcionar-me  a certeza 
de que o Menino pobre da  manjedoura de Belém tornou-se  o meu Senhor
e  Salvador amado. Eu sei que o meu Redentor vive!  Sei que Ele tem
cuidado de nós, porque  "Ele sabe o que é padecer".  Foi o
Senhor Jesus que assumiu  na cruz do Calvário as nossas dores, culpas,
enfermidades e pecados. Ele é real. NEle  eu posso confiar. NEle
você  também pode confiar, ainda que seja de pés descalços, cansados da
longa  e estafante caminhada. Ele está conosco,  enxugando nossas
lágrimas e estimulando-nos a prosseguir. 
Hoje, aquela cena inesquecível 
de minha infância faz-me compreender melhor a grande e  preciosa
experiência dos pastores de Belém. Homens  simples do campo que foram
agraciados com a extraordinária notícia do primeiro Natal. Mais que isso, eles
fizeram parte  ativa, experimental, vibrante, da própria  história
natalina. Sem dúvida alguma, a mensagem  do nascimento do Filho de Deus
na  Terra, estaria para sempre impregnada indelevelmente naqueles corações
humildes  e cansados: Jesus nascera em Belém, e eles haveriam de ser as
primeiras testemunhas oculares do maior milagre  ocorrido no mundo: Deus
na Terra, paz conosco! 
Natal seria, desde então, e  para todo o sempre, a
maior e mais vibrante notícia a ser proclamada. Um grito altissonante de
Missões Mundiais: Jesus está vivo, Jesus nasceu, chegou ao mundo, "porque
Ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mt 1.21). 
Agora posso entender o
verdadeiro sentido do Natal de Jesus: É a verdadeira vida abundante,  para
todos quantos nEle creem. Aprendi, então, que  Natal é Paz real.  É
sentir paz mesmo! E que isso não quer dizer apenas ausência dos problemas
externos. É  não temer o presente de secas e enchentes, geadas, furacões
ou vendavais. Não temer o futuro certo ou incerto. Não temer a morte e a
eternidade. E isso sim é que significa VIDA MAGISTRAL! É  viver em paz
aqui na Terra e continuar em paz  para a eternidade. Amém. 
Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
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