terça-feira, 22 de novembro de 2011

MEIO CEGO

Marcos cita um episódio muito curioso no treinamento que Jesus realizava com seus discípulos, o qual ilustra significativamente a situação de quem se acomodou apenas com a primeira experiência com Jesus: “Depois Jesus e os discípulos chegaram ao povoado de Betsaida. Algumas pessoas trouxeram um cego e pediram a Jesus que tocasse nele. Ele pegou o cego pela mão e o levou para fora do povoado. Então cuspiu, passou a saliva nos olhos do homem, pôs a mão sobre ele e perguntou: —Você está vendo alguma coisa? O homem olhou e disse: —Vejo pessoas; elas parecem árvores, mas estão andando. Jesus pôs outra vez as mãos sobre os olhos dele. Dessa vez o cego olhou firme e ficou curado; aí começou a ver tudo muito bem” (Mc 8.22-25).

O cego, inevitavelmente, estava feliz em perceber que já podia distinguir alguma coisa, ainda que de forma turva, confusa, insipiente. O primeiro toque da bênção divina já lhe fora motivo de muita gratidão e alegria. Até então ele não podia contemplar absolutamente nada, era completamente cego.

Assim, estar vendo alguma coisa já parecia ser suficiente; quando, na verdade, ele ainda estava “meio cego”. Não será esse o nosso principal problema hoje? Vida cristã não se resume às atividades eclesiásticas, ao ativismo religioso. Muitas pessoas, inconscientemente, se envolvem exaustivamente com muitas coisas (como Marta) para não se prostrarem submissas e atentas aos pés do Senhor Jesus. Muitas de nossas atividades eclesiásticas não passam de fuga espiritual. Quantas vezes o crente está vivendo comprometido com o mundo e, por não sentir-se capaz de confessar seus pecados, sua dureza de coração, se envolve sacrificialmente até o limite de suas forças como uma forma de compensação!

Na verdade, aquela pessoa sente-se, de certa forma, recompensado emocionalmente pelo fato de experimentar as bênçãos de Deus e as manifestações do Espírito Santo; ou por exercer alguma atividade que seja útil, honesta, e que contribua para a alegria e edificação do povo de Deus. Porém, ainda assim, precisamos não apenas nos contentar com as bênçãos de Deus, mas sim com Deus mesmo. Precisamos nos certificar de nossa salvação em Cristo, e não apenas com as coisas relacionadas com Ele; ainda que sejam maravilhosas essas experiências, elas precisam ser experimentadas através da graça de Cristo e não apenas nas bênçãos que Ele proporciona. Por isto, o escritor de Hebreus assim nos diz:

“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, 5 e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. 7 Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; 8 mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada” (Hb 6.4-8).

A cegueira espiritual nos impede de querer mais de Deus, tanto para a nossa própria salvação e edificação como para abençoar a outros; e, principalmente, para a glória de Deus sobre todas as coisas. Esquecemo-nos de que se somos salvos é para servir e glorificar a Deus, e não apenas para participarmos das bênçãos e consolações do Senhor. Daí porque o apóstolo Pedro escreveu desta forma:

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma” (1Pe 1.3-9).

Pedro continua a encorajando o povo de Deus no sentido de praticar a fé de uma forma viva e eficaz, até ao capítulo primeiro da segunda carta. Especialmente nos versos 8-11:
“Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.10-11).

Pedro diz claramente que aquele que não atenta para o exercício da fé, não é apenas meio cego, mas, diz ele: É cego!

Ainda que estejamos vivendo conforme a vontade de Deus, contudo, Aquele que sonda os nossos corações sabe que podemos crescer muito mais em nosso relacionamento com Ele e com o nosso próximo. Com o toque das mãos de Jesus aquele homem sentiu-se maravilhosamente abençoado; porém, o que ele não sabia é que o Senhor ainda tinha mais a lhe oferecer. Aquele que começou a boa obra na vida dele, haveria de completá-la, como nos diz o apóstolo Paulo: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fl 1.6).

Vanderlei Faria

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