sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O PERIGO DO “ORGULHO SANTO”

Ao longo dos séculos a soberba humana tem sido camuflada, com muitos apelidos ou com nomes mais sugestivos, menos escandalosos, mais atraentes e até convincentes... Hoje em dia é muito comum ouvir-se a expressão “orgulho santo”, como se de fato Deus estivesse aprovando e Se alegrando com um tipo de comportamento e atitudes soberbas da parte daqueles que são agraciados com Suas extraordinárias bênçãos espirituais. Na verdade, todo orgulho é diabólico e deplorável aos olhos de Deus. Basta uma leitura superficial na Palavra de Deus para percebermos o quanto este tipo de pecado ofende e desagrada ao Senhor. E o chamado “orgulho santo” é o mais deplorável exatamente porque o homem procura se engrandecer “espiritualmente” em nome de Deus, como se Deus estivesse dando-lhe aprovação e consentimento para manipular as Suas bênçãos. Por isso Jack Deere diz que o pior tipo de orgulho, ou de soberba, é o religioso.

Quão frequentemente verificamos religiosos contando as bênçãos como quem conta vantagem, com exaltação pessoal, da mesma forma que os ímpios contam suas vantagens materiais, pessoais... No caso do crente há uma capa de santidade com nome de orgulho santo. Na verdade é uma expressão para se tentar camuflar e se justificar a soberba ou orgulho do inferno com capa de santidade, zelo, trabalho e sacrifício cristão.

Normalmente o que se pretende dizer é mais ou menos o seguinte: Vocês podem até não me valorizarem pelo que sou ou tenho feito, mas o fato é que estou fazendo muito mais do que muitos famosos e valorizados homens de Deus de nosso tempo... Qualquer coisa semelhante que, “humildemente”, se diga o quanto somos importantes e relevantes para o reino de Deus na terra. Tão importantes que sem a nossa atuação jamais algumas coisas seriam conseguidas ou jamais se conquistaria tantas vitórias onde estamos trabalhando...

Nessas circunstâncias, quase sempre, Deus interfere em nossa trajetória levando-nos a “beijar a lona”, com a boca no pó, nos humilha e nos leva ao quebrantamento por meio de fracassos e problemas pessoais, até que nos lembremos que somos pó, que somos menos de que nada diante dEle,[1] e, se temos ou somos alguma coisa que se possa dizer que valha a pena é exclusivamente pela graça de Deus. Quando nos damos conta de nossa real situação diante de Deus, então, fazemos como Jonas no ventre do peixe, desesperado, orando ao Senhor: “Quando dentro de mim, desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e subiu a ti a minha oração, no teu santo templo” (Jn 2.7).

Normalmente, enquanto não chegamos a uma situação deplorável e difícil, como Jonas, não nos humilhamos diante do Senhor. Foi o que aconteceu com meu amigo bancário, só depois de se ver abandonado pela esposa a quem amava ardentemente é que se deu conta de seu estado deplorável de pecado e rebelião contra Deus. Alguns, pela graça de Deus, reconhecem ainda cedo na vida que são o que são pela graça de Deus. Outros, infelizmente, levam a vida toda de nariz empinado, até que o Senhor os quebrante quando já não há mais tempo de recuperação, “sem que haja cura”, como nos diz o Senhor: “O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura” (Pv 29.1).

VALE A PENA LER E OUVIR SOBRE A VIDA DE UM SANTO HOMEM DE DEUS, CHAMADO Martyn Lloyd-Jones:

“Para muitos, citações e referências repetidas, feitas à pessoa e obra do Dr. Martyn Lloyd-Jones são excessivas, e num mundo de diversidade de pensamento como o nosso, insistir em apenas um ponto de vista quase "ad nauseam", pode parecer antiquado e pouco inteligente. Contudo, somente quem tem o costume frequente de ler os escritos do expositor da Capela de Westminster, sabe o quanto suas obras são valiosas e têm feito diferença no âmbito da teologia reformada! Facilmente identificamos as mentes de pregadores que foram, de alguma forma, influenciadas pelas exposições do "Doutor". Não por coincidência, os pregadores nacionais e internacionais mais proeminentes da atualidade, são leitores assíduos e exibem em suas prédicas, traços evangélicos tipicamente herdados do púlpito congregacional ocupado pelo "Doutor" durante 30 anos! Alguns "highligts" ou pontos culminantes desta história podem ser destacados, como segue:
1) Lloyd-Jones chama sempre a atenção para o fato do nascimento humilde de servos que foram muito úteis ao serviço cristão. Aurélio Agostinho, bispo de Hipona, nasceu na insignificante Tagaste, no norte da África. Spurgeon, de igual modo, na pouco expressiva Kelvedon (Inglaterra). Whitefield, numa singela pensão da cidade de Gloucester (Inglaterra). Os famosos metodistas calvinistas de Gales; Howell Harris (pequeno povoado de Trevecca) e Daniel Rowland (Pant-y-beudy ou Nantcwnlle), também não nasceram em cidades de destaque. Com Lloyd-Jones, não foi diferente; nasceu na interiorana Cardiff, em Gales. Aliás, como sempre frisa Lloyd-Jones, o próprio Senhor Jesus, nasceu na pequena Belém e pior, cresceu e veio da repudiada Nazaré (vide reação de Natanael).
2) A exemplo do "príncipe" Spurgeon, não passou por formação teológica formal. Os dois, contudo, sempre foram fortemente contrários ao obscurantismo. Tanto que Spurgeon fundou sua Escola de Pastores e Lloyd-Jones (apesar de ter declinado do convite para dirigir o seminário presbiteriano de Bala, em Gales do Norte, e assumido o púlpito em Westminster) "devorava" os compêndios teológicos de sua época e se entorpecia com os escritos dos puritanos. Às vezes, penso que estes dois tinham tanta vocação nata para a exposição da Palavra, que talvez tivessem medo de se tornar técnicos.
O fato é que Deus, para ratificar a passagem de 1 Corintios – "Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são" – usou e usa pescadores, camponeses, médicos, advogados, etc. Logicamente usa também teólogos/filósofos por excelência, vide Paulo e Tomás de Aquino.
3) Embora muitos associem o nome do "Doutor" à famosa Capela de Westminster, nas proximidades do Palácio de Buckingham, em Londres, é preciso lembrar que ao abandonar a Medicina, seu pastorado se iniciou numa cidade interiorana e pobre, Abevaron, em Gales; constituída, em sua maioria, de carvoeiros incultos e gente de marcada simplicidade.
4) Por fim, chamaria a atenção para algo notável na história do ministério de Lloyd-Jones: Procurava sempre evangelizar os miseráveis e desvalidos da cidade!
É preciso concordar com a posição do bispo anglicano J. C. Ryle, no seu excelente "Uma palavra aos moços" (Editora Fiel). Neste livro Ryle diz: "A experiência me diz que os corações das pessoas dificilmente mudam, se não mudarem enquanto elas são jovens. Na verdade, poucos homens são convertidos em sua velhice. Os hábitos têm raizes profundas. O pecado, uma vez que você permita que se aninhe em seu coração, não o deixará, mediante um pedido seu. Na nascente do Rio Tâmisa, uma criança pode brincar de rolar na água, mas, nas proximidades do encontro do rio com o mar, pode navegar o maior navio que existe. Assim acontece com os hábitos: quanto mais antigos, mais fortes eles ficam; quanto mais tempo prenderem a alma, mais difícil de serem eliminados".
Apesar de legítima a posição deste último, a visão do Dr. Lloyd-Jones sobre o assunto não foi levada tão a sério! A congregação em Abevaron passou a contar com muitos idosos, alcolátras, gente simples e até verdadeiras escórias daquela sociedade, tão logo se iniciou seu ministério por lá. Logo logo, deverá ser lançada em português pela Editora PES, uma narrativa envolvente escrita pela esposa do "Doutor˜, a também médica Bethan Lloyd-Jones. Neste livro, de nome "Memories of Sandsfields" (Lembranças de Sandsfields), traduzido pela filha do nosso querido Rev Folton Nogueira (Gláucia Nogueira), há relatos preciosos, cativantes e muito singelos dos primeiros dias do Dr. Martyn Lloyd-Jones à frente da Igreja Metodista Calvinista ou Presbiteriana de Abevaron!”
Em Cristo, Einstein Arruda

Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br



[1] Isaías 41.24,29

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