sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MEU NATAL INESQUECÍVEL

O texto de Lucas 2:8-21 faz-me lembrar de um Natal de minha infância; o que poderia chamar de Meu Natal Inesquecível. Eu tinha cerca de nove anos apenas. Nossa família, apesar de pobre, era unida, alegre e bem equilibrada de um modo geral. Meu pai era agricultor; um pequeno sitiante que saíra da cidade grande (Volta Redonda, RJ), fugindo da poluição e da agitação comercial. Meus irmãos e eu (cinco até então) pouco fazíamos para ajudar na manutenção da casa. Minha mãe, ao contrário, trabalhava duro lavando roupas para ajudar no suprimento do orçamento doméstico. Mas vivíamos tranquilos, sem grandes preocupações, pelo menos nós, os menores. Naturalmente que os “velhos” tinham lá as suas preocupações e ansiedades, como todos os pais responsáveis, pela alimentação e educação daquelas vidas preciosas, como são todos os filhos. Mas creio que não eram tantas as preocupações da família, considerando-se as condições em que vivíamos.

Naquele fim de semana, porém, as circunstâncias eram por demais desalentadoras, sombrias. A lavoura de meu pai fora totalmente dizimada por uma forte geada. O pequeno cafezal era a esperança de fartura e novos investimentos. A colheita era esperada com profunda expectativa, ansiedade e muito entusiasmo. De repente, drasticamente, em apenas uma noite de geada toda a economia e esforços de anos de trabalho duro e honesto se desfizera. Na noite de Natal haveria, como de costume, a programação festiva em nossa casa, onde se reunia a congregação da Igreja. Meu pai era o exemplo de resignação e fé. Minha mãe redobrava seus esforços para minimizar as dificuldades, lavando roupas aos montões. Eu, que não entendia praticamente nada quanto à gravidade da situação, brincava tranquilamente com os demais meninos de minha idade. Enquanto aguardávamos o início do culto especial de Natal, um coleguinha pôs-se a choramingar e resmungar ao meu lado.

Procurei saber o motivo do seu descontentamento. E ele então começou a maldizer suas botas novas, por estarem apertando seus pés. Com toda humildade própria de uma criança, perguntei-lhe: "Quer trocar com os meus sapatos? Eles não machucam!" Imediatamente ele parou de chorar. Enxugou as lágrimas, e, verificando as péssimas condições das minhas sandálias (Alpargatas Rodas), velhas, rasgadas, furadas e desfiguradas, disse-me sem pestanejar: "Não precisa, já parou de doer!" Desde então, muitos natais já se passaram, porém, não posso esquecer daquele Natal de minha infância. Sempre que sou tentado a lamentar e angustiar-me, devido aos "sapatos velhos" que a vida me proporciona, lembro-me daquele inesquecível Natal.
Na vida sempre somos tentados a viver lamentando a nossa "triste sorte" dos "sapatos velhos"; ou lamentando profundamente pelo desconforto e apertos que nos causam as novidades que ostentamos. Quando reconhecemos o quanto somos ingratos e mesquinhos, então percebemos que ainda estamos em vantagem. Nossa dor e sofrimento são amenizados e suportados com mais entendimento, resignação e coragem, quando percebemos que há sempre alguém em pior situação que a nossa. E nem por isso estão a lamentar e a maldizer-se.

Naquele Natal de minha infância, apesar dos meus sapatos velhos, rotos, eu era feliz. Sentia-me feliz. Estava envolvido, impregnado do verdadeiro sentimento natalino: paz no coração e alegria na alma! Havia entre nós uma preocupação maior e mais vibrante do que comer, beber e vestir roupas novas: Jesus Cristo, Paz na Terra entre os homens que de boa vontade O recebem em seus corações. Eu queria saber, conhecer melhor a fascinante história do Menino pobre que se tornara Rei dos reis. Queria saber o significado mais profundo de toda aquela linda história. E, mais ainda, o que isso tudo tinha a ver com todos os meninos pobres e rejeitados de minha terra.
Inesquecível Natal! Faz-me pensar e considerar que preciso continuar lutando, e crendo sempre. Preciso enfrentar a vida. Lutar muito, continuar a caminhada, sabendo que não estou sozinho. Jamais estarei só. Porque Jesus, o Rei dos reis, o Filho do Deus Altíssimo está comigo, sempre e eternamente. Ainda que venham as tempestades e calamidades, Ele comigo estará, sempre. Posso confiar em Suas palavras: "Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós" (Jo 14.18). Caminhando com sapatos novos que dilaceram os pés, ou com chinelos velhos que entristecem a alma, causando vergonha, humilhação e tristeza; Natal sempre há de proporcionar-me a certeza de que o Menino pobre da manjedoura de Belém tornou-se o meu Senhor e Salvador amado. Eu sei que o meu Redentor vive! Sei que Ele tem cuidado de nós, porque "Ele sabe o que é padecer". Foi o Senhor Jesus que assumiu na cruz do Calvário as nossas dores, culpas, enfermidades e pecados. Ele é real. NEle eu posso confiar. NEle você também pode confiar, ainda que seja de pés descalços, cansados da longa e estafante caminhada. Ele está conosco, enxugando nossas lágrimas e estimulando-nos a prosseguir.

Hoje, aquela cena inesquecível de minha infância faz-me compreender melhor a grande e preciosa experiência dos pastores de Belém. Homens simples do campo que foram agraciados com a extraordinária notícia do primeiro Natal. Mais que isso, eles fizeram parte ativa, experimental, vibrante, da própria história natalina. Sem dúvida alguma, a mensagem do nascimento do Filho de Deus na Terra, estaria para sempre impregnada indelevelmente naqueles corações humildes e cansados: Jesus nascera em Belém, e eles haveriam de ser as primeiras testemunhas oculares do maior milagre ocorrido no mundo: Deus na Terra, paz conosco! Natal seria, desde então, e para todo o sempre, a maior e mais vibrante notícia a ser proclamada. Um grito altissonante de Missões Mundiais: Jesus está vivo, Jesus nasceu, chegou ao mundo, "porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mt 1.21).

Agora posso entender o verdadeiro sentido do Natal de Jesus: É a verdadeira vida abundante, para todos quantos nEle crêem. Aprendi, então, que Natal é Paz real. É sentir paz mesmo! E que isso não quer dizer apenas ausência dos problemas externos. É não temer o presente de secas e enchentes, geadas, furacões ou vendavais. Não temer o futuro certo ou incerto. Não temer a morte e a eternidade. E isso sim é que significa VIDA MAGISTRAL! É viver em paz aqui na Terra e continuar em paz para a eternidade. Amém.

Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

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