“Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim; há  contenda e o litígio se suscita. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o perverso cerca o justo, e a justiça é torcida” (Hc 1.2-4).
Habacuque  levanta o seu clamor devido a  sua perplexidade em face dos  acontecimentos tenebrosos e  assustadores em seu tempo.
Mas e quanto  a nós; o que dizer aos pais do menino João Hélio, morto de  forma covarde e cruel no Rio de Janeiro,  quando  ouvimos dizer que seu assassino é  privilegiado pela “justiça”[1] brasileira, como se aquele crime brutal  não passasse de um simples deslize moral de um “pobre adolescente”?  O que dizer à família de um trabalhador que é morto quando viajava  num ônibus com objetivo de chegar ao trabalho onde  ganhava o pão de cada dia, por um motivo tão fútil,  apenas porque se recusara a  fechar a janela de seu lado?
O que dizer aos familiares de Idalmo e Mildrede, mortos num acidente  de carro provocado por um desastrado e infeliz motorista, o qual  invadiu  a pista no sentido contrário com  um caminhão, jogando-os  em um precipício  de cerca de dez metros?
O que dizer aos familiares do casal morto quanto  voltava do hospital onde  levaram a filha querida; especialmente  quando somos informados de que o delinquente  que dirigia na contra mão  estava bêbado, sem carteira de  habilitação e reincidente em pelo menos cinco delitos semelhantes?!!!!
O que dizer à família daquele jovem pai que é atropelado quando  brincava com seu filhinho de  8 meses no parquinho, em São Paulo?  E isto, considerando ainda que  o tal infrator, criminoso, também já cometeu delitos semelhantes  outras quatro ou cinco vezes, sem que nada lhe aconteça em termos de  punição pela “justiça” brasileira. Como consolar  os familiares e amigos das vítimas daquela chacina ocorrida recentemente na Nigéria? 
E a cada dia nos indignamos com as notícias de  pessoas, quase sempre jovens, que são brutalmente assassinadas. Como dois jovens que foram recentemente assassinados  em  minha cidade, Volta Redonda; um deles era padre, de 32 anos, o outro um ex-seminarista católico, de 28 anos. Uma  tristeza, vidas ceifadas tão precocemente!
 
Parece que a violência  está tão comum que as pessoas  já não se  impressionam, não  se  incomodam nem ficam indignadas  com a  ocorrência de mortes, furtos ou qualquer outro tipo de  crimes. 
Habacuque estava  angustiado e perplexo diante  da situação conturbada na qual se encontrava. E, como Asafe, o salmista, ele também não se acomodou nem se acovardou com a situação. Mas o que fazer em tais circunstâncias?  Se nos envolvermos podemos ser a próxima vítima. Nem sempre podemos socorrer ou defender os oprimidos  e vítimas da violência urbana.
Mas, como servos do Deus Altíssimo, podemos e devemos agir como sal da terra e luz do mundo, como Jesus nos ordenou, clamando a Deus em favor dessa geração  corrupta e pervertida da qual fazemos parte. Não diz a Bíblia que  “muito pode, por sua eficácia, a oração do justo”? Pois então, por que  não experimentamos agir dessa forma em favor de nossa  gente aflita e angustiada?
Foi o que fizeram os santos do passado. Eles tiveram participação ativa no mundo em que viveram; não se enclausurando em mosteiros ou redomas “espirituais”. Eles se indignaram, se incomodaram, e, de certa forma, incomodaram a Deus pelo que  presenciaram. E nós, como reagimos a tudo isso que acontece a cada dia ao nosso redor?
Primeiramente o texto supra mencionado nos mostra como o profeta reagiu e como devemos  imitá-lo diante da situação caótica de um mundo em crise. O salmista “confrontou”[2] a Deus em oração. Da mesma forma, Habacuque “questionou”[3] e invocou ao Senhor, clamou a Deus por  Sua graça e misericórdia. E ambos obtiveram as respostas que desejavam. Habacuque faz uma  súplica ousada: “Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão?” (Hc 1.2,3a).
 É como se ele dissesse: “Até quando vou ficar aqui tendo que  suportar tudo isto, sem poder fazer nada, falando sozinho, sem que Tu me responda e me dê alguma explicação a respeito da Tua soberania em tais circunstâncias?
As palavras do profeta nos são tremendamente familiares. Até parece o que lemos a cada dia nas manchetes dos jornais das grandes cidades de nosso país. São fatos  que presenciamos  todos os dias, tanto no Brasil como no resto do mundo: “Pois que a destruição e a violência estão diante de mim; há  contenda e o litígio se suscita. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o perverso cerca o justo, e a justiça é torcida” (Hc 1.3b,4).
Mas, graças a Deus, o profeta não estava falando ao vento – suas palavras estavam chegando ao trono da graça de Deus, suas lágrimas (como as  nossas também) estavam sendo recolhidas no odre divino, como bem expressou Davi em outro salmo: “Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolhestes as minhas lágrimas no teu odre. Não estão elas inscritas no teu livro?... Neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei.  Que me pode fazer o homem?” (Sl 56.8,11). Que Deus nos abençoe a fim de obtermos confiança semelhante. Amém.
Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
[1] não dá nem para  usar essa palavra no sentido literal
[2] É com temor e tremor que  uso  tais palavras, apenas por falta de outra que melhor traduza nosso pensamento.
[3] Idem
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