domingo, 2 de maio de 2010

VIDA ABUNDANTE

Logo que iniciei no ministério pastoral, tomei conhecimento de uma situação escabrosa na família de uma das minhas ovelhas. Disse-me ela que havia se separado do marido porque ele cometera incesto com a filha mais velha. A jovem ficou arrasada e muito confusa, mas não deu parte à polícia, nem quis abortar a criança. E dessa relação, veio a conceber uma linda filha. Anos depois, ao voltar àquela cidade fiquei conhecendo a menina. Realmente, uma doce e encantadora pessoa.

O tempo passou, a moça converteu-se a Cristo, tornou-se ativa nas atividades de sua igreja, vindo posteriormente a estudar teologia. Hoje é missionária, realizando um profícuo ministério. Esse é o nosso Deus, que transforma os nossos desertos e misérias, ainda quando nos deixam marcas indeléveis e deprimentes.

Recentemente ouvi a respeito de outra estória fantástica do amor misericordioso de Deus. Uma missionária foi estuprada na África. Quando se comunicou com a junta missionária que a sustentava, foi aconselhada a fazer o aborto, conforme as leis brasileiras permitem. Ela, porém, não quis tirar a criança, vindo a ganhar um robusto menino. Criou-o com amor e carinho, próprios de uma mãe cristã. Hoje, o rapaz está com dezoito anos e, segundo a própria mãe, é uma bênção no cuidado e auxílio daquela missionária em seu ministério.

Se você também está passando por experiência semelhante, creia, Deus há de confortá-lo (a) e enxugar suas lágrimas, mesmo ainda nesta vida! E quando eu for também, espero deixar na memória das pessoas mais queridas algumas boas e saudosas marcas, apesar das más, as quais não posso apagar. E que possamos voltar a sorrir ainda um dia, todos nós! Sorrir não significa banalizar o que se viveu, ou o que se esteja sentindo. Mas, sim, uma olhada em outra direção; como acontece quando mudamos o nosso foco, nossa atenção.

Quantas vezes estamos chorando, mas, de repente uma criança passa, dá-nos um adeusinho, abrindo aquele sorriso desdentado mais lindo do mundo... Então, enxugamos as lágrimas e sorrimos de volta, compartilhamos com ela, pelo menos naquele momento, de sua alegria.

Quando o convido a "contemplar" alguma coisa alegre e descontraída, estou tentando fazê-lo olhar um pouquinho em outra direção. Penso que isto não significa ser leviano com quem está sofrendo. Até mesmo os médicos já chegaram à conclusão de que é importante levar um pouco de alegria para os enfermos. Porém, não podemos simplesmente pensar e falar de vida sem levarmos em conta esse turbilhão de fatos, os quais são inerentes, indubitavelmente, à existência humana. Inevitavelmente, tenho que concordar com a irmã referida acima quando ela diz que não pode falar de vida sem considerar a morte com seus dramas e tristezas, os quais fazem parte do enredo da própria vida. Esta é a vida, e não o seu avesso. No entanto, Jesus disse que veio trazer vida abundante.[1]

Como o Senhor não se contradiz, visto que Ele fala que no mundo teremos aflições; como conciliar esses dois conceitos, aparentemente contraditórios? Uma coisa não exclui a outra. Ter a vida abundante que Jesus prometeu não impede que passemos por tribulações.

Jesus não disse que teríamos a vida abundante em toda a sua plenitude aqui na terra – o que só ocorrerá no céu, onde não haverá a contaminação do pecado. Ele não disse, mas a própria realidade nos dá o entendimento de que o sofrimento é um componente importante e indispensável para podermos experimentar e valorizar a verdadeira e suprema alegria e felicidade.

Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

[1] Jo 10.10

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