domingo, 12 de setembro de 2010

QUANDO UM FILHO VOLTA

O poeta Gióia Júnior, de saudosa memória, descreve numa linda poesia, intitulada. “ORAÇÃO DA MAÇANETA”, o que todos nós pais, que temos filhos jovens, já experimentamos algum dia:

_ “Não há mais bela música que o ruído da maçaneta da porta quando meu filho volta para casa.
_ Volta da rua, da vasta noite da madrugada de estranhas vozes, e o ruído da maçaneta e o gemer do trinco, o bater da porta que novamente se fecha; o tilintar inconfundível do molho de chaves, são um doce acalanto, uma suave cantiga de ninar.
_ Só assim fecho os olhos, posso dormir e descansar.
_ Oh! A longa espera, a negra ausência, as histórias de acidentes e assaltos que só a noite como ninguém sabe contar!
_ Oh! Os presságios e os pesadelos, o eco dos passos nas calçadas, a voz dos bêbados na rua e o longo apito do guarda medindo a madrugada, e os cães, uivando na distância e o grito lancinante da ambulância!
_ E o coração descompassado a pressentir e a martelar na arritmia do relógio do meu quarto esquadrinhando a noite e seus mistérios.
_ Nisso, na sala que se cala, estala a gargalhada jovem da maçaneta que canta a festiva cantiga do retorno. E sua voz engole a noite imensa com todos os ruídos secundários.
_ Oh! Os címbalos do trinco e os clarins da porta que se escancara, e os guizos das muitas chaves que se abraçam, e o festival dos passos que ganham a escada!
_ Nem as vozes da orquestra e o tilintar de copos, e a mansa canção da chuva no telhado podem sequer se comparar ao som da maçaneta que sorri quando meu filho volta.
_ Que ele retorne sempre são e salvo, marinheiro depois da tempestade a sorrir e cantar. E que na porta a maçaneta cante a festiva canção do seu retorno que soa para mim como suave cantiga de ninar.
_ Só assim, só assim meu coração se aquieta, posso afinal dormir e descansar” (Gióia Júnior).

Você sabe o que significa ter um Pai amoroso, terno, todo poderoso, o Senhor do Universo, o Deus de misericórdia? O Pai celeste, com quem podemos falar a todo momento, apresentando-Lhe os nossos conflitos mais íntimos, nossos problemas, temores e rancores? Você conhece esse Pai? É dele que foge o Filho Pródigo, conforme a narrativa de Lucas (Lc 15.11-24). Vemo-lo agora longe do pai, tendo abandonado a casa paterna na busca frenética e descuidada por fazer novos amigos a qualquer preço. Além de desperdiçar seus bens materiais, desperdiçou e desconsiderou algo mais precioso e indispensável: A companhia do pai. Em consequência à leviandade e superficialidade de seus relacionamentos, acabou perdendo tudo. Queria tudo, queria abraçar e conquistar o mundo, ficou sem nada; todos o abandonaram. Todos a quem confiara seu tempo, seus bens, sua vida. Tinha apenas a companhia mal cheirosa dos porcos, de quem deveria cuidar, pastorear... Ele fracassara até mesmo como mendigo: “Ninguém lhe dava nada...” Um quadro tão comum em todos os tempos.

Você já pensou na possibilidade de Deus estar privando-o de alguns privilégios, tirando alguns de seus bens materiais, seu prestígio social, enfim, coisas importantes e relevantes, com o propósito de impedi-lo de pecar mais, e, assim, voltar a conviver com o Pai?!

O filho havia esbanjado em tempo de crise. Ao trabalhar com porcos (animais imundos para os judeus), renunciara sua religiosidade. O arrependimento tornou-se possível ao reconhecer sua triste situação e abrir mão do orgulho, aceitando a graça. Ao contrário do filho mais velho que desce e não sobe, não retorna, não demonstra qualquer reação positiva à graça oferecida; o filho mais novo sabe que está perdido e necessitado. Então ele desce para subir no amor do pai. E assim voltou. Perdera todo o direito de ser tratado como filho, seria apenas um empregado remunerado, mas estaria junto ao pai, e isso lhe bastava.

Quem sabe, em sua vida, amado leitor, Deus esteja permitindo que haja algumas perdas significativas, fome de paz, fome de pão, fome de Deus, para conduzi-lo de volta ao amor do Pai!? Então, diga como o filho da parábola: “Sinto muito o que tenho feito, mas não sou um inútil. Ainda constituo em matéria prima de boa qualidade, fui criado por Ti, ó Deus! Molda-me conforme a Tua vontade, pois tenho fracassado num país distante...”

_ “Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor” (Lm 3.40). Você também pode dizer: “Pai, pequei... esqueci teu amor. Ofendi o Teu santo nome, tenho andado longe de Ti... Não sou digno de ser chamado Teu filho!” Então encontrará os braços ternos do Senhor Jesus, conduzindo-o de volta à cada do Pai: “Porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado...” Ouça novamente a voz de convite do Salvador: “Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos exércitos, e eu me tornarei para vós” (Zc 1.3). “O que vem a mim, de modo algum o lançarei fora.” – disse Jesus em João, 6.37. E ainda: “Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem; torna-te para mim, porque eu te remi” (Is 44.22). Amém.

Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

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