quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ATSAKILÜ (I) - MINISTÉRIO "DIAS ÍNDIOS"

Amados companheiros de jugo e de júbilo, retornamos! E como vocês lerão logo abaixo, esta nova etapa que se inicia ligada à tradução das narrativas bíblicas e ensino é um momento de compartilharmos as glórias que pertencem tão somente a Deus!
O nosso desejo é continuarmos sendo abençoados e abençoarmos também. Assim, com as histórias que enviaremos, sei que os queridos se aproximam mais da realidade da evangelização transcultural e todas as suas dificuldades. Nosso objetivo é que a cada história você ORE a Deus por aquilo que você leu e que mais chamou sua atenção. Você verá que precisamos de muitas coisas: sabedoria, conhecimento, intimidade com Deus, união e harmonia na nossa família para podermos trabalhar em paz; precisamos de amor, bondade, longanimidade, etc. Enfim, precisamos de você nesta obra conosco.
Mas lembre-se: por motivos que os queridos já sabem (mas que voltarei a esclarecê-los depois, por causa, principalmente, dos que estão chegando agora) as informações aqui repassadas não podem vincular o nosso nome e o nome do nosso povo e nem localização.
Muito obrigado por tudo queridos.
Abraços sempre afetuosos de nós mesmos.

PS1 - Bem, vocês já notaram que Dias Índios agora será ATSAKILÜ. Esta pequena palavra da língua deles é síntese do que faremos a partir de agora e pelos próximos anos. Ela significa: revelar. Esta é a nossa oração: que as histórias ensinadas na língua do povo e a nossa presença aqui possam revelar o amor e a salvação de Deus aos povos da Região.

PS2 - Começamos as correções das histórias bíblicas já produzidas no ano passado e queremos avançar logo terminemos essas correções. Por favor, orem especificadamente para que o filho do cacique continue disponível a nós para o trabalho de tradução.

A 1ª oração

Mal havíamos entrado na cidade, recém-chegados de nossas férias, percebemos logo as boas obras que Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Ainda sequer entráramos em casa, pois descobrimos que as chaves das portas estavam com defeito, fomos almoçar num restaurante da cidade. Terminado o almoço, ainda na calçada, encontramos com o filho do cacique (o mesmo que está traduzindo as histórias bíblicas para a língua), que veio nos ver com um sorriso no rosto, mas, depois das primeiras palavras afetuosas de saudação, seu sorriso se desfez numa fisionomia muito preocupada.
- Professor, minha irmã acabou de chegar na cidade. Trouxeram ela de avião... a filha dela (4 meses de idade apenas) teve uma parada cardíaca.
- Querido! Como você ficou sabendo disso?
- O pessoal do rádio acabou de me avisar.
Dissemos que iríamos em casa para deixar as coisas que estavam no carro e, depois, procuraríamos por ele.
Assim foi feito. Saí, encontrei-o e o levei para a unidade mista do hospital da cidade. Bem na entrada, quanta alegria em encontrarmos nossa grande amiga e enfermeira Lolita, com quem temos muitas histórias de apoio e oração mútua desde 2006. Rapidamente, ela nos levou até a criança. Ao entrarmos no quarto do hospital, logo vi minha irmã e meu cunhado índígenas apreensivos. Eles disseram que ela não estava querendo mamar e isso os preocupava.
- Não - disse Lolita - não precisa se preocupar. Ela chegou aqui muito desidratada. Tomou os remédios e está no soro. Realmente, ela não vai mamar agora. Ela precisa descansar para ganhar mais força.
- Explica na língua - disse ao filho do cacique - para eles não ficarem tão preocupados.
Enquanto ele explicava os detalhes na língua aos pais da criança, Lolita saiu do quarto. E naquela situação toda, ficava perguntando a Deus, no silêncio do meu coração, se não caberia uma oração audível de intercessão. Seria a primeira vez. Eles sabem que nós somos cristãos e já nos viram orando antes das refeições, tanto na aldeia como na cidade. Mas orar audivelmente, intercedendo por cura e sobre eles, isso seria a 1ª vez. Mas como fazê-lo? Estenderia a mão? Tocaria na criança? Não queria que houvesse uma identificação com o pajé ou com a pajelança. Mas ela estava ali, nos braços de sua mãe, uma criança linda, já com uma cabeleira bem preta igual a do tio. Ela estava bem gordinha, mesmo desidratada. Linda!
- Bem, Professor, podemos ir.
- Meu irmão - disse, olhando nos olhos dele – lembra da história de Jonas? Que ele orou, conversou com Deus no momento do perigo lá na barriga do peixe, lembra?
- Sim.
- Então, eu poderia orar a Deus pela criança como Jonas fez?

Toda essa preparação era necessária. Quando estávamos adaptando a história de Jonas , que fora feita pelo Jaime e pela Kioko para um outro povo (povo parente do nosso), Jaime pediu que eu tivesse atenção na palavra que seria escolhida para “oração”. Lembro que, naquela manhã, gastamos bastante tempo discutindo sobre essa palavra.
- Mas - disse ao filho do cacique – quando o pajé “reza” é essa palavra também que vocês usam?
- Sim.
- Então, precisa ser alguma coisa de diferente, sabe por quê? Quando o pajé “reza”, ele está fazendo algo para obrigar o espírito a parar com aquela opressão, não é? Na verdade, o espírito está recebendo as ofertas exigidas para que ele deixe de trazer a doença. Nesta situação, o pajé faz para manipular o espírito. Olha, com o Deus de Jonas é diferente. Jonas sabe que seu Deus é livre, independente e que nada pode manipulá-lo ou forçá-lo. A oração de Jonas não tem poder de obrigar Deus a fazer algo para ele. Jonas sabe que fez uma coisa errada, mas ele confia na misericórdia de Deus, então ele acredita que Deus poderá salvá-lo, se Ele quiser. Mas, veja, não é um poder na reza, que por causa dessa reza, do ritual, da pajelança, Deus teria agora a obrigação de responder em favor de Jonas.
Caro leitor, companheiro de jugo e de júbilo, como eu disse, passamos quase uma manhã inteira conversando sobre isso. Não foi fácil. Não é fácil. Pense que mesmo dentro da nossa cultura, dentro das igrejas, muitos se relacionam com Deus como se fossem pajés e Deus fosse o espírito que deve ser coagido a agir em nosso favor! Contudo, creio que ao fim daquelas horas de conversa sobre a pessoa de Deus e a natureza da oração, chegamos a alguma palavra próxima aquilo que é mais fiel ao texto bíblico.

“Sim, pode orar, Professor”. Diante disso, mesmo sabendo que os pais da criança não entenderiam nada, simplesmente porque não falam português, aproximei-me um pouco mais e ergui minha mão sobre aquela vidinha de apenas 4 meses de idade. Orei: “Jesus, estou aqui com essa linda índiazinha tão novinha. Ela é sua. Ela pertence a Ti, Jesus. Por isso mesmo, eu a entrego aos seus cuidados. Jesus, você sabe o que a está deixando doente. Eu oro para que todo o mal, tudo aquilo que está machucando ela, possa ser retirado pelo Seu poder. Obrigado, Jesus. Amém”!

Saímos do hospital e entramos no carro. Então, o filho do cacique me disse: “Professor, sabe o que está fazendo mal a ela? É a avó dela... Como que fala?... Quando a criança nasce, ela não nasce com uma coisa nela... a placenta! Isso! Na nossa cultura, a gente diz que a placenta é a avó da criança e se a mãe e o pai não tratarem bem a criança, a avó avança contra a criança e pode mesmo até matá-la!

--
Visite: Blog do Casal 20
www.casal20ribas.blogspot.com

Nenhum comentário: