sábado, 1 de janeiro de 2011

ELEIÇÃO E PERSEVERANÇA DOS SANTOS

“... Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias ... pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos ...”

A doutrina da perseverança dos santos é uma das heranças da Reforma Protestante. Esta verdade foi crida e defendida pelas principais igrejas históricas contra os abusos da Idade Média. Nós, batistas, seguindo a tradição reformada, cremos, defendemos e cunhamos o princípio da perseverança dos santos – mas nem por isso devidamente entendido em alguns círculos.

Muitas pessoas, não entendendo devidamente esse princípio, acabaram naufragando na fé por imaginarem que esse princípio estivesse falando de gesto, pensamento positivo ou coisa parecida. Entretanto, o que o princípio sempre ensinou é que uma pessoa que morreu com Cristo, portanto “salvo” – usando o vocabulário de Paulo, “eleito, vocacionado e justificado” –, herdará a vida eterna – “glorificado” (cf. Rm 8.30). O salvo é alguém que morreu com Cristo; alguém que possui as marcas da cruz no seu caráter.

O texto citado acima está inserido no contexto do “sermão profético”, proclamado por Jesus. Seu conteúdo retrata o fim de Jerusalém, ocorrido no ano 70 A.D., pelas mãos do General Tito, e o fim de todas as coisas, que culminará com a segunda vinda do Senhor Jesus. Tanto a hora final de Jerusalém, como a hora final do mundo, teria sérias implicações para a igreja de Jesus.
Após a destruição de Jerusalém, muitos judeus deixaram Jerusalém sem rumo certo. Dentre eles estavam os cristãos. A partir de então, eles passaram a ser conhecidos, no caso dos cristãos, por “crentes da dispersão”, como encontramos em algumas cartas escritas após o evento do ano 70 A.D.

Quanto à hora final da história do mundo, o apóstolo João disse que eles já estavam vivendo. Sua palavra foi: “Filhinhos, já é a última hora ...” (1 Jo 2.18). Nós estamos na última hora.
Tanto a destruição de Jerusalém, ocorrida em 70 A.D., quanto o futuro fim de todas as coisas, segundo Jesus, teriam um ambiente comum: tensão. A própria Bíblia indica que o fim seria marcado por muito sofrimento e luta, além dos dissabores dos desapontamentos. Entretanto, a mesma Bíblia diz que Deus proveu um escape para o seu povo.
O primeiro deles é:

1. O sofrimento final será abreviado por causa dos eleitos
Jesus disse:

“Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias” (v. 20).
O povo aqui chamado de “eleitos que ele escolheu” não é um povo qualquer. É o povo amado por Deus. Só o povo amado por Deus poderia receber a bênção da graça de não sofrer um sofrimento insuportável que lhe impediria de herdar a salvação. Se Deus não tomasse tal providência, “ninguém se salvaria”. Por causa dos eleitos, até mesmo o mundo receberia algum benefício, pois não sofreria tudo o que deveria sofrer aqui. Por causa dos eleitos, o sofrimento final será abreviado. Nesse ponto há um aspecto bem prático para nós.

A eleição é a garantia da salvação da igreja de Jesus. Deus não permitirá que sua igreja sofra a ponto de não ser salva. Se ele não decretasse que os dias seriam abreviados, ninguém se salvaria. Como ele abreviou, isso significa que a igreja de Jesus será salva. Nisso está a garantia de nossa salvação. Servimos ao Deus de toda a perseverança, por isso perseveramos. Nós perseveramos porque Cristo persevera a nosso favor. Cristo não apenas intercedeu por nós (Jo 17.20), mas continua intercedendo, pois ele “está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm 8.34). Deixará Deus de atender a oração de Cristo glorificado?
O segundo deles é:

2. Os eleitos não serão enganados definitivamente
Jesus disse:

“... pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos” (v. 22).

Como já lhes disse, o fim de todas as coisas será marcado por uma grande tensão. Dentre a diversidade de tensões está a tensão entre a verdade e a mentira. Muitos se levantarão dizendo ser o próprio Cristo, proclamando tantas coisas, operando muitos sinais e prodígios, que não serão poucos os que se renderão à mentira. De alguma maneira, já somos testemunhas dessas coisas. Mas uma certeza o Senhor Jesus nos permite ter: os eleitos não serão enganados definitivamente. De tempos em tempos os membros do corpo de Cristo são acometidos de dúvidas, mas não o será definitivamente. Nesse ponto há um segundo aspecto prático.

A eleição é fonte de grande consolação. Certamente não são poucos os que imaginam haver uma grande incompatibilidade entre eleição e consolação, até porque, onde ela é pregada, normalmente, não vemos consolação, senão perturbação. Mas, independente disso e da maneira de pensar de muitos cristãos, ela é altamente consoladora. Nela encontramos encorajamento. Na luta Deus oferece o escape em grande medida. A Bíblia diz: “... quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda verdade” (Jo 16.13). A obra do Espírito nos capacita à perseverança final. Viver no Espírito significa viver

na verdade. Pode o mundo “enfeitar o pavão” em suas propostas, entretanto, Jesus não permitirá que nenhum daqueles que o Pai lhe deu se perca (Jo 6.39), cumprindo, assim, a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Irmãos, a perseverança dos santos é um dos muitos temas ausentes dos estudos e conversas na igreja hoje. Na própria história de nossas declarações de fé isso está muito claro. Por esta razão, não são poucas as pessoas que vivem na dúvida de sua salvação. Mas a Bíblia nos garante que “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1.6). Jesus não é do tipo “começa e não termina”. Lucas 14.28-30 mostra que o que ele realizou ele o fez após calcular devidamente o preço. Nós muitas vezes começamos e não acabamos, mas Jesus jamais. Ele é grande em glória.

Quero concluir encorajando a serem profundamente agradecidos a Deus pela perfeição de suas obras em Cristo Jesus. Ao bradar do alto daquela cruz no Gólgota “está consumado”, Jesus concluiu o plano perfeito para a salvação de todo aquele que se arrepender e crer na suficiência da obra do Calvário, pelo sangue derramado e remissão dos pecados, plano este estabelecido desde os tempos eternos.

Postado por Paulo César Valle

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