A voz da seriedade: "E a mão do Senhor era forte sobre mim!" 
Creio que esta expressão tanto serve de conforto, saber que a mão do Senhor está sobre nós, nos protegendo, nos guardando; como, também,  nos faz lembrar que  pesa sobre nós uma tremenda responsabilidade. A mão de Deus pesa sobre nós, fazendo-nos sentir que não podemos  trapacear e manipular com a Sua Palavra. Ezequiel é um exemplo do homem de Deus que exerce o ministério da pregação e exposição da Palavra de Deus  com absoluta autenticidade e  seriedade.
Na vida há muito desses contrastes que, em alguns casos, são complementares. Parece que um  não existe sem o permanente  convívio com o oposto. O texto, portanto, retrata a integridade, seriedade e alcance do efeito da Palavra de Deus. O profeta diz que ao se alimentar, engolindo o livro de Deus, sentiu alegria e gozo  no  coração. A doçura   era pelo conteúdo contido no livro, pela sua origem: era a Palavra de Deus. Este envolvimento, este debruçar-se perante as verdades divinas, proporciona regozijo e alegria.  É a palavra divina que faz com que  as experiências mais amargas da vida sejam recebidas com doçura e gozo na alma.  Quando nos alimentamos e nos deleitamos  do ensino claro da  Palavra, ela, então, proporciona uma inigualável satisfação e conforto ao coração. Mesmo quando em meio às dores e  lágrimas, há gozo e paz no coração do crente.   
A  Palavra de Deus é sempre conforto e despertamento. Ela é o bálsamo que refrigera a alma; mas, também,   espada de dois gumes.  Esta é a situação acridoce da Palavra de Deus, quando todo amargo é doce, e todo doce tem a sua amargura latente, profunda. É quando sentimos que todo amargo tem sua doçura e todo doce pode ser amargo no final...
Essa seriedade com a Palavra, ainda que seja prazerosa quando nos alimentamos da mesma,  a reflexão e consideração quanto à sua profundidade nos levará a sentir o peso da mão de Deus sobre nós. Nos tornando conscientes da tremenda responsabilidade que pesa sobre nossos ombros  diante do desafio de sermos portadores, intérpretes e expositores da  mensagem santa  do amor de Deus.  Então é quando ficamos pasmados, perplexos, diante  da realidade, profundidade e alcance da mensagem profética, sob o peso da responsabilidade que nos foi confiada: “Então o Espírito me levantou, e me levou; e eu me fui, amargurado, na indignação do meu espírito; e a mão do Senhor era forte sobre mim” (Ez 3.14).
No exercício da exposição da Palavra  há que se considerar a seriedade com que assimilamos, recebemos a mesma; como também a seriedade com que a proferimos  para os outros. É preciso antes de mais nada que haja empatia para com os ouvintes. O profeta  Ezequiel começou a considerar as consequências  terríveis da não observância da Palavra. E também a iminência do castigo divino; já que os ouvintes eram “de semblante  duro e obstinados de  coração”. Então, fatalmente seriam vítimas da condenação divina.
O profeta se imaginava na condição de seus ouvintes, chorava, sentia como se estivesse  na mesma condição deles. Não há como  pregar sobre a salvação apenas com alegria, há que se considerar, com tristeza e empatia  a dramática situação dos incrédulos. Isto, sem dúvida alguma, nos tornará sérios e mais  autênticos para com a mensagem  que  vamos transmitir. Deus ordena que se pregue a Palavra a um povo de  “semblante duro e obstinado de coração”, a um povo que não daria atenção às verdades eternas. Entretanto o profeta deveria pregar. Ao contrário de Jonas que pregou de má vontade para um povo de boa vontade de coração, Ezequiel  deveria pregar de boa vontade a um povo de coração endurecido e mau.  Aparentemente sua mensagem era sem propósito, ou um desperdício de tempo, conversa jogada fora...
Mas o que conta é que era a Palavra de Deus que deveria ser pregada conforme a expressa determinação da vontade de Deus comunicada de maneira clara ao coração do profeta.  Ao mencionar a nossa missão como profetas do Deus Altíssimo, sinto-me profundamente esmagado pelo tremendo peso de responsabilidade que sinto cair sobre mim. Porém, isso não nos deve tirar o ânimo e entusiasmo para pregarmos o evangelho. Pelo contrário, a certeza de que Deus é quem “efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade”[1]  deve nos  motivar e encorajar, tanto no sentido de desenvolver a nossa própria salvação (através da santificação),  com temor e tremor, como também a pregarmos com alegria e santo temor a respeito da salvação de Cristo Jesus. Sabendo que tudo provém de Deus e para Deus.  Que Ele, portanto,  nos  habilite e nos conceda a Sua graça para fazermos o que Lhe apraz !
Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
[1] Fl 1.13
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