domingo, 23 de janeiro de 2011

A VOZ DA HUMILDADE

A voz da humildade: “E disse-me: Filho do homem...” ( Ez 2.1a).

A Palavra de Deus dirigida ao profeta, no texto acima, começa convocando-o para exercer o ministério com humildade.

_ Filho do homem! “A frase filho do Homem é um hebraismo que enfatiza a sua insignificância ou a mera humanidade de Ezequiel. ‘Filho de’ indica ‘participando da natureza de...’ Adam – homem> significa mais que ‘Ser Humano’, é uma expressão para ‘humanidade’. Ex.: ‘Outeiro,[1] filho de azeite’; ‘Numa noite nasceu, e numa noite pereceu’,[2] símbolo do perecível; ‘Filho da paz...’[3] Assim, pois, é a característica da fragilidade humana do profeta diante do poder e majestade de Deus. Essa expressão ocorre mais de 90 vezes no livro de Ezequiel”.[4] A humildade deve ser algo prioritário não só para o pregador do evangelho, mas também para todo aquele que crê no Senhor Jesus.

Como disse Spurgeon: “Devo destacar que em todas as velhas histórias (bíblicas), há uma característica bastante evidente. Sempre que Deus realiza um feito poderoso, Ele o faz por meio de um instrumento bem insignificante... Este é um dos fatos mais verdadeiros com respeito a todos os feitos de Deus... Deus não atua por intermédio dos cavalos e da carruagem de Faraó, mas sim pela vara de Moisés; Suas maravilhas não são feitas com o furacão nem com a tempestade; Ele as realiza por meio de uma pequena e calma voz, para que a glória possa ser Sua e a honra seja absolutamente Sua.

Acaso isso não abre espaço para que eu e você sejamos encorajados? Por que não podemos ser usados para realizar algum feito poderoso para Deus aqui? Além disso, Ele se serviu de alguém que possuía grade fé... Deus tem misericórdia de quem Ele quer. Agirá conforme Lhe apraz; ninguém pode reter a Sua mão. “Bem”, dirá alguém, “mas eu não espero ver grandes coisas”. Então, meu caro amigo, você não ficará desapontado, porque não irá vê-la; todavia aqueles que esperam grandes coisas, as verão. Homens de grande fé realizaram grandes coisas... Todos os poderosos feitos de Deus, têm sido o resultado de muita oração, junto com uma grande fé...”[5]

Antes de exercer a função profética, Ezequiel foi lembrado pelo próprio Deus, que era parte da natureza humana, carente da graça e do amor de Deus. Na qualidade de profetas do Deus Altíssimo, também nós, somos diariamente levados a entender e aceitar a nossa fragilidade. Quando temos a humildade para admitir que algo precisa ser mudado em nós, e que não podemos continuar vivendo conforme os padrões mundanos; quando a vida cristã passa a não significar e representar nenhuma diferença da vida do mundo; ou quando perdemos a alegria da salvação e o prazer da comunhão cristã, da koinonia Espiritual...

Quando passamos a andar segundo o conselho dos ímpios; nos detemos no caminho dos pecadores, nos assentamos na roda dos escarnecedores, perdendo o prazer na lei do Senhor, e nela não meditando, nem de dia nem de noite. Ao contrário do Salmo primeiro, tornamo-nos como árvore plantada em terra seca, tórrida, a qual não dá fruto no tempo próprio. Ou mesmo, nunca dá fruto, como recomendou o Senhor.[6] A vida, então, passa a ser como árvore seca, cujas folhas caem e se espalham com o vento; "São semelhantes à moinha que o vento espalha" (Sl 1.4). Nos tornamos como um vale de ossos secos...[7]

Uma das nossas maiores dificuldades ministeriais resulta de nossa incompreensão desse assunto. Somos demasiadamente influenciados pela cultura secular no que diz respeito à supervalorização de nossa autoimagem; de nosso autoconceito; ou mesmo da tão propalada autoestima. Temos a tendência de enfatizar demasiadamente o sucesso e a valorização popular, social. Por causa disso a humildade cristã passou a ser vista como algo deplorável, ou mesmo como mediocridade. Porém, quando nos esquecemos de viver com humildade, Deus mesmo providencia os meios necessários para nos fazer beijar a lona e colocar nossa boca no pó. Não podemos perder o senso de reverência diante do Santíssimo; “Pois o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb 12.29).

Creio que é impossível exercermos a humildade por nós mesmos, por nossa própria vontade. Ezequiel fora lembrado, pelo próprio Deus, que era parte da natureza humana. Portanto, carente da graça e do amor de Deus. Na qualidade de profetas do Deus Altíssimo, somos, diariamente, levados a entender e aceitar a nossa fragilidade. Não podemos nos orgulhar daquilo que fazemos para o Senhor, posto que, sem Ele nada podemos fazer, conforme João 15.5. Precisamos de um coração inflamado com as coisas de Deus, e quebrantado diante da grandiosidade de nossa missão.

Há orgulho em demasia pelo fato de se ocupar uma posição de destaque e honra na denominação. Falta-nos humildade para reconhecermos que “Toda boa dádiva e todo o dom perfeito são do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Há orgulho em demasia pela posição financeira e social elevada que se possa estar num determinado momento. Como pregadores, portadores da mensagem santa, precisamos desenvolver uma profunda reverência, respeito e temor para com o Senhor da mensagem. Não podemos ter a pretensão de capacitação pessoal superior para lidarmos com o sagrado de forma leviana.

Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br


[1] Is.5.1
[2] Jn 4.10
[3] Lc 10.6
[4] Taylor, John B. – EZEQUIEL – Introdução e Comentário, p.57
[5] Spurgeon, C. H. – Sermões do ano de Avivamento – 1859 – P. 30-31 – Ed. PES
[6] Jo 15
[7] Ez 37.1-3

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