terça-feira, 4 de janeiro de 2011

ELEIÇÃO E TROPEÇO

“Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum”.

A vida que Deus nos deu em Cristo é fascinante. Sendo um milagre operado pelo Espírito naqueles que crêem, ela traz responsabilidades sérias para cada um de nós. Dentre elas repousa sobre nós a responsabilidade pelo nosso desenvolvimento espiritual diante do Senhor. Por isso Paulo disse acertadamente: “eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento – que só é real quando há vida – veio de Deus” (1 Coríntios 3.6).

De que adianta plantar e regar, se Deus não soprar vida? Deus concede vida, nós plantamos e regamos. Considerando isso, o apóstolo Pedro, escrevendo sua segunda carta “aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e salvador Jesus Cristo” (1.1), apontou o procedimento que cada cristão deveria tomar diante das ameaças, de tempos em tempos, de tropeço: “procurar, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição”.

Sob a inspiração do santo Espírito, Pedro ensinou que proceder de tal maneira não é, como pensam alguns, um elemento desmotivador para a vida cristã. Buscar evidências do nosso chamado interno operado pelo Espírito Santo e evidências de nossa eleição, não são desmotivadores. Pelo contrário, traz-nos benefícios eternos. Ousando parafrasear o que Pedro escreveu, eu diria: se você intenciona permanecer firme na fé e superar todos os tropeços que enfrenta na sua vida, considere, de tempos em tempos, de maneira honesta e profunda, o seu chamado a Cristo e sua eleição. Não há outro modo de se precaver contra tropeços.

O nosso problema, entretanto, é que não temos o hábito da auto-avaliação, sobretudo quando precisamos colocar em xeque a nossa jornada cristã e a nossa salvação, pois tememos os prováveis resultados que tenhamos que enfrentar. Vivemos em um mundo onde a verdade é relativa, permitindo a pluralidade de pensamentos, de crenças e experiências. Conviver com esses valores é mais cômodo.

Cada um estabelecer o próprio parâmetro de avaliação é menos estressante. Com isso, perdemos valores capazes de julgar nosso real estado diante de Deus. Mas quando estudamos as Escrituras, percebemos que nem sempre foi assim na igreja de Jesus. Escrevendo aos irmãos de Corinto, Paulo exigiu: “examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos” (2 Coríntios 13.5). Pelos seus frutos seriam conhecidos (cf. Mateus 7.16).

Estou certo que todos que vieram a este lugar nesta manhã, vieram porque estão interessados em suas almas. São pessoas que querem, sinceramente, ouvir a voz do Senhor a lhes falar ao coração, para que permaneçam “firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor” (1 Coríntios 15.58).

São pessoas preocupadas com coisas eternas, portanto, coisas de grande valor. Como podemos nos precaver de tropeçar? Como podemos permanecer inabaláveis diante de Deus e dos homens? A Bíblia diz: confirmando a nossa vocação e a nossa eleição.

1. O que significa “confirmar a nossa vocação e eleição”?

Acredito que precisamos começar por um conhecimento dos termos em questão. A palavra “vocação”, que tantas vezes aparece no Novo Testamento, é usada para descrever o chamado interno promovido pelo Espírito Santo a uma pessoa que tenha tido um chamado externo – pela leitura das Escrituras ou pela pregação da Palavra de Deus. Descreve o momento em que ouvimos a voz do Senhor nos convocando a segui-lo e servi-lo, renunciando ao mundo e suas paixões, para tomar a cruz a cada dia do tempo de nossa peregrinação.

“Eleição” é a livre escolha de Deus de pessoas para tornarem-se a imagem de seu Filho e herdarem a grande salvação por ele consumada e aplicada. Descreve o decreto de Deus estabelecido desde antes da fundação do mundo para sua própria glória.

O que significa, então, confirmar a nossa vocação e eleição? A palavra “confirmar” – que também pode ser traduzido por “fazer firme”, “certificar” e “atestar” – enfatiza a urgência de um fundamento inabalável para mantermo-nos seguros. Nos papiros antigos, a palavra era um termo técnico para descrever a garantia legal de alguém sobre alguma coisa. Não se tratava de algo meramente emocional, filosófico ou coisa parecida. “Era o preto no branco”. Era algo claro e evidente.

Ora irmãos, quantas pessoas conhecemos que têm colocado sua confiança em coisas sem sentido, que não poderão ser usadas como padrão de julgamento no dia do juízo. Alguns por terem feito tantas obras de caridade; outros por freqüentarem anos a fio uma instituição religiosa; outros por julgarem-se merecedores do reino que está por vir ... Quanta gente iludida!

Não se trata de um procedimento psicológico, do tipo “estou bem comigo mesmo”. Não se trata de algo argumentado com a sabedoria humana. Mas alguma coisa que pode e deve ser testada por um padrão absoluto: a Escritura Sagrada.

Essa confirmação é alcançada pelo testificar do Espírito. Paulo escreveu: “o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8.16).

Essa confirmação é alcançada pela evidência da obra do Espírito. João escreveu: “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão ... Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte” (1 João 3.10,14).
Essa confirmação é alcançada pelo fruto do Espírito. Paulo escreveu: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra essas coisas não há lei” (Gálatas 5.22,23).

O testificar do Espírito, a obra do Espírito e o fruto do Espírito são parâmetros retos que devemos utilizar para sabermos como estamos na fé. Eles não falham porque são divinos. Utilizemo-los.

2. Com que intensidade precisamos “confirmar a nossa vocação e eleição”?

O texto diz: “... procurai, com diligência cada vez maior ...”. O termo “diligência” enfatiza a urgência do pedido para determinarmos viver exclusivamente para Deus. Não se trata de um exercício esporádico, mas algo que continuamente deve ser observado por todos aqueles que estão interessados no estado de suas almas. Esse procedimento, de acordo com o texto, deve ser acrescido a cada vez de exigências maiores.

O apóstolo Paulo escreveu: “nós, porém, temos a mente de Cristo” (1 Coríntios 2.16). Em outro lugar lemos: “... até que todos cheguemos ... à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4.13). Pode um homem chegar a tal condição sem um procedimento diligente cada vez maior? Ou será que somos suficientes para essas coisas? Espero que saibamos que não somos suficientes, mas a graça nos basta.

Diligência no procedimento dessas coisas envolve conhecimento da Escritura. Jesus disse: “errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mateus 22.29). Ela é padrão para toda espécie de julgamento. Ele é a nossa única regra de fé e prática.

Diligência no procedimento dessas coisas envolve oração. Quando oramos conhecemos mais a Deus e a nós mesmos. Essa comunhão doce do salvo com seu salvador aperfeiçoa sua vida de tal forma que seu desejo não será outro senão tornar-se como seu senhor.

Diligência no procedimento dessas coisas envolve avaliação pessoal. Paulo escreveu: “examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos” (2 Coríntios 13.5).
Conhecer a Escritura – uma tarefa inesgotável –, profunda comunhão com Deus através da oração e avaliação pessoal de tempos em tempos são os devidos procedimentos diligentes que precisamos ter para mantermo-nos firmes na fé.

3. O que se espera alcançar ao “confirmar a nossa vocação e eleição”?

O texto diz: “... porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum”. Esta declaração é a declaração de um homem convicto. A promessa da salvação de Deus é para aqueles que têm fé genuína e perseverante. A verdadeira fé persevera até o fim e, inevitavelmente, produzirá fruto. A Escritura afirma: “aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mateus 24.13).

Jesus disse: “esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão” (Lucas 13.24). Será que realmente pensamos que nossa entrada no céu poderá ser alcançada sem que haja profunda reflexão de nossa parte em nos acomodarmos as exigências de Deus para nós? Certamente que não!

A Bíblia diz que devemos vigiar e orar para não entrar em tentação. Vigiar implica em “confirmar nossa vocação e eleição”. Dessa maneira, “não tropeçareis em tempo algum”. Se desejarmos permanecer firmes na presença do Senhor não podemos deixar de buscar em nossas vidas as evidências verdadeiras do nosso chamado para o evangelho e da nossa eleição. Não podemos descansar. Nossas almas são muito preciosas.

Nisso tudo há um grande consolo: a certeza de que “jamais, em tempo algum, tropeçaremos”. Isso é o que está escrito. Os chamados e eleitos não abandonarão definitivamente o Senhor de suas vidas. Ele lhes será sempre um bálsamo a encorajá-los na caminhada rumo ao céu. Sua promessa diz: “e eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mateus 28.20).

Irmãos amados, Deus sempre deu-nos coisas para o nosso bem-estar. Acerca da doutrina da eleição não é diferente. Quando compreendida no seu escopo bíblico ela é altamente encorajadora, animadora e consoladora. Deus não nos daria nada para prejudicar o seu povo amado. Sendo assim, sempre que precisarmos nos certificar de alguma coisa busquemos a resposta na sua bendita palavra. Tudo o que precisamos crer e viver foram revelados pela bondade do Senhor.

A Deus toda a glória!
Postado por Paulo César Valle

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