"Alegrai-vos
sempre no Senhor, outra vez vos digo: alegrai-vos” (Fl 4.4).
Quem as proferiu estas palavras, como tantos hoje
em dia, tinha com motivos sobejos de não só estar triste e
choroso, mas, também, revoltado e odiando a tudo e a todos por uma reclusão
injusta e desumana. Não fora a graça de Cristo, e sua plena intimidade
com o Senhor ressurreto, este prisioneiro também teria se desmanchado em
lamentações e lágrimas, com o sentimento ferido por achar-se
abandonado naquele cárcere sujo e frio. E, na verdade, suas palavras em
nada se assemelham com a irresponsabilidade e leviandade de um político que não
sabe o que é padecer as agruras de um sentimento de impotência
diante dos descasos das autoridades constituídas.
Quando ele disse "alegrai-vos no
Senhor", era porque, ainda que a friagem do cárcere, a fome e as
dores causadas pelas chicotadas recebidas lhe provocassem desconforto e
sofrimento; ainda que a escuridão de sua cela fria tirasse seu humor;
ainda que injustiçado e incompreendido; ainda que sem dinheiro e
faminto; ainda que a morte se lhe mostrasse tão próxima;
ainda assim, havia paz reinante em seu coração ferido e alegria
transbordante exalando em sua face como perfume suave ao Senhor.
Você que chora pelos seus
inúmeros e justos motivos pessoais; enxugue seus olhos um pouco,
voltando-se mais uma vez a pensar no encorajamento de quem sentia tanto quanto,
ou muito mais do que você possa imaginar: "Alegrai-vos sempre, no
Senhor!"
Não é alegria do hipócrita que
apenas tenta vender uma boa imagem de seu produto (no caso, de sua
religião). Não é alegria do budista para quem a vida não tem sentido, nem mesmo
razão para se chorar; para quem busca o "nirvana", ou o não
sentir... Nem tão pouco é a alegria do otimista debilóide que atribui
tudo ao acaso, e que um dia a sorte ou o destino trará
a paz de volta... A paz e alegria proclamadas por esse solitário
prisioneiro faz parte da experiência de vida de todos
quantos tiveram uma experiência real e profunda com o Senhor, Autor
e Consumar da fé. Como Maria Madalena, depois que disse "Vi o
Senhor!"
Jesus era a sua maior alegria, a
razão de sua vida. Nada mais tinha tanto valor a ponto de causar-lhe
abatimento e tirar-lhe a paz de espírito. Jesus era a única razão
de sua existência; o resto, era resto tão somente. Não poderia mais ficar
calada e rabugenta no seu canto. Teria que sair cantando e contando em alto e
bom som que ele vive e reina para sempre!
Vanderlei Faria
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