domingo, 29 de novembro de 2009

A GRAÇA DA PAZ DE DEUS

PAZ (EIRENE – no grego; SHALON, no hebraico) nunca indica apenas ausência de dificuldades. Significa bem estar total da alma; ainda que em meio às lágrimas, dores e aflições. A paz tem a ver com as relações pessoais; é a integridade do EU interior.

Paz é o sorriso de Deus refletindo na alma do crente. É bonança do coração depois da tempestade do Calvário. É a firme convicção de que Ele, que não poupou nem mesmo seu próprio Filho, antes o entregou por todos nós, certamente também, livremente, nos dará com Ele todas as coisas (Rm 8.32). “Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo coração é firme; porque ele confia em ti” (Is 26.3).

Esta paz sobrepuja todo entendimento... Por natureza o homem está tão completamente incapacitado pra compreender esta maravilhosa paz como um cego para apreciar um glorioso pôr-de-sol (1 Co 2.14).

Mesmo o crente jamais poderá entender plenamente a perfeição deste dom cristocêntrico que excede em valor a todos os demais dons que o homem recebe de Deus. Uma das razões por que é ela tão estimada, é que ela guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.

Os filipenses estavam acostumados a ver as sentinelas romanas a montar guarda. Assim também, se bem que num sentido muitíssimo mais profundo, a paz de Deus montará guarda à porta do coração e da mente. Ela impedirá que torturante angústia corroa o coração, que o manancial da vida (Pv 4.23), a fonte do pensamento, da vontade (1 Co 7.37) e do sentimento (Fl 1.7). Impedirá também que a mente seja invadida por pensamentos indignos”.[1]

Paz, foi o que demonstrou estar sentindo Abraão, subindo o Monte Moriá, tendo sobre seus ombros um compromisso terrível, o sacrifício de seu próprio filho. Em nenhum momento ele faz uma oração reclamando ou pedindo a Deus que mudasse a situação. Pelo contrário; sua mente se concentrava não em seu sofrimento, em sua perda pessoal, ou mesmo no sofrimento do filho, mas apenas na possibilidade de adorar a Deus. Como Jó, carregado de chagas, sofrendo afrontas de amigos e da esposa, sentindo a perda dos bens materiais e dos filhos... Ainda assim podia declarar com firmeza: “Pois eu sei que o meu redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida esta minha pele, então fora da minha carne verei a Deus; vê-lo-ei ao meu lado, e os meus olhos o contemplarão, e não mais como adversário” (Jó,19.25-27).

Como escreveu Paulo: “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus... e, por isso estou sofrendo; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia” (2 Co 5.1; 2 Tm 1.12).

Paz foi o que demonstraram os jovens amigos de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Quando ameaçados de serem lançados na fornalha por não adorarem à estátua do rei Nabucodonozor, responderam com prontidão que permaneceriam firmes no Senhor, independente das circunstâncias: “Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego ao rei: Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste”.[2]

Paz foi a experiência de Paulo desde o início da pregação do evangelho em Filipos. Quando preso num cárcere frio e injustamente, ainda podia sentir-se tranquilo para orar e cantar: “Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam” ([3]). Bruce diz: “Paz e alegria são bênçãos gêmeas do evangelho. Nas palavras de um velho pregador escocês, “paz é alegria em repouso; alegria é paz a dançar” ([4]).
Paz, portanto, é viver com o Senhor, ainda que sofrendo perseguições, dores e injustiças. Como o apóstolo Paulo havia sentido no início de seu trabalho em Filipos. Apesar de achar-se preso injustamente não se sentia amargurado e triste. Pelo contrário, regozijava-se no Senhor... Através de suas cartas, apesar de preso, demonstra ter paz em seu coração para estimular os cristãos a continuarem firmes proclamando a sua fé. É essa paz de Deus que ele deseja que seus leitores possam adquirir para que experimentem o privilégio da vida em Cristo Jesus. É dessa paz que precisamos buscar e experimentar. Amém.

Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br


[1] Hendriksen, William – Comentário do Novo Testamento – Filipenses, P. 253, 254 – Casa Editora Presbiteriana, SP
[2] Dn 3:16-18
[3] At 16.25
[4] Bruce, F.F. – Romanos Introdução e comentário, p. 98 – Ed. Mundo Cristão

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