A história humana é composta de conflitos com Deus, com o próximo, com o mundo e conosco mesmos. E todos estes conflitos estão representados no incidente narrado no texto no qual queremos refletir. Portanto, vejamos como a graça de Deus, revelada em Cristo Jesus, se manifestou na vida de um homem desgraçado e infeliz.
_ “Quando, de longe, viu Jesus, correu e o adorou,  exclamando com alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes!  Porque Jesus lhe dissera: Espírito imundo, sai desse homem!  E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião é o meu nome, porque somos muitos.  E rogou-lhe encarecidamente que os não mandasse para fora do país” (Mc 5:6-10).
Os demônios ficaram enfurecidos com a presença de Jesus, com a  manifestação do poder da graça de Cristo Jesus. Eles não se surpreenderam no sentido de terem descoberto ali o poder de Deus e as consequências da presença divina, mas foram impactados com a surpreendente graça em seus domínios.  Foram  despertados para o fato de que  seus dias estão contados (Ap 12:10-12).  Por isso o diabo trabalha com tanta intensidade, porque sabe que tem pouco tempo.
Esse homem era  dominado por forças  incontroláveis, humanamente. Não conseguia exercer  qualquer tipo de autocontrole ou domínio próprio. Não conseguia deter seus impulsos violentos, agressivos.
Mas quando  o Senhor Jesus o alcançou com Sua graça, foi restaurado completamente à sua condição de sanidade mental. Mais que isso, seu estado emocional de paz interior, pessoal, paz com Deus e com a natureza, era tão acima do normal que as pessoas, quando o viram, ficaram apavoradas; temeram mais a sua sanidade do que a loucura anterior:  “Indo ter com Jesus, viram o endemoninhado, o que tivera a legião, assentado, vestido, em perfeito juízo; e temeram” ( Mc 5.15).
O mundo se espanta e se escandaliza com a paz do crente. Não  pode compreender a sensatez, segurança e autocontrole do salvo. Não entende, e na verdade não pode entender mesmo:  “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14).
Por isto as pessoas ficaram tão atemorizadas e confusas diante de um homem  vestido da justiça de Cristo e em paz com Deus, com a natureza e consigo mesmo. Que paz é essa que assombra as pessoas?!
O fato  de que ele próprio se feria com as pedras, simboliza, ou representa seu conflito com o mundo ao seu redor, com a natureza de um modo geral. Ainda que se tenha uma vida religiosa equilibrada, sem Cristo não há esperança para o homem. Não há qualquer esperança em outra parte. Seu estado é de completa desolação. A reconciliação com a natureza se verifica pelo fato de que agora  ele não mais se fere com as pedras, mas delas se serve para assentar-se serenamente, enquanto conversava com Jesus...
O fato de viver sozinho, abandonado e perseguido pelos seus semelhantes, os quais “muitas vezes o prendiam com grilhões e cadeias", retratava seu conflito com o próximo. Constantemente vemos na mídia homens que são caçados e temidos como verdadeiras feras humanas. Alguns dos quais demonstrando nitidamente a influência satânica pela  forma fria, cruel e bárbara como agem com suas vítimas.
Recentemente um leitor escreveu para a Revista Veja: “Não acreditava no diabo, mas, depois do olhar malicioso e frio da foto da capa da edição 1769, não tenho dúvida: é ele!”  Referia-se à foto de Fernandinho-Beira-Mar, publicada pela revista. O homem dominado pelo diabo, acaba se parecendo com ele, embora saibamos que ele é um ser espiritual, sem corpo humano definido. Quando alguém  se identifica tanto com ele, em suas crueldades, passa a ser o retrato falado do próprio diabo... E, é claro, torna-se uma pessoa abandonada e indesejada por  todos, apesar dos seus comparsas e daqueles que procuram-no para levar alguma vantagem de sua amizade...
O homem do texto mencionado por Marcos, foi reconciliado com Deus, com o próximo e consigo mesmo. A reconciliação consigo mesmo ficou  evidente quando o viram "assentado, vestido, em perfeito juízo",  conversando com Jesus. A reconciliação com o próximo ficou  patente no fato de o Mestre enviar-lhe de volta ao convívio de seus familiares e compatriotas. Agora ele estava em condições de viver em família, de valorizar o convívio com seus semelhantes. E, acima de tudo, não seria mais terror e  ameaça à segurança das pessoas, agora ele tinha uma experiência da verdadeira vida para contar.
E tudo isto evidencia a reconciliação com Deus. A graça de Cristo proporciona paz. E a paz é fruto do Espírito Santo, ou, fruto da graça operando em nós.
Paulo diz claramente que é através das muitas tribulações que herdaremos o reino de Deus. Diz que o mundo, nós e o Espírito Santo gememos por causa das aflições.[1]  Tiago chama de Bem-aventurados os que suportam as aflições.[2]
Pedro, João e Judas também falam sobre o sofrimento dos cristãos de forma até mesmo exaustiva.  Cada um de nós também tem recebido  algo  especial para fazer e viver nesta  terra. Cumpre-nos descobrir os propósitos de Deus para a nossa  vida, sabendo que a vontade de Deus é sempre “boa, perfeita e agradável”. Precisamos discernir a vontade de Deus em meio aos sofrimentos e conflitos da vida.
_ “Tenho observado que, se  seguirmos a Cristo, três coisas nos acontecerão: Primeiro, seremos  libertos de todos os temores. Segundo,  seremos absurdamente felizes. Terceiro, teremos tribulações... A única maneira de  nos libertarmos  desses temores é convencer-nos  de que  se acontecer o pior, poderá  ele ser transformado no  melhor. Jesus disse aos seus discípulos:  ‘Não se turbe o vosso coração,’ não porque seriam protegidos contra  todas as  tribulações, mas porque ‘creriam em Deus.’ Quando Jesus estava  na cruz,  arrancaram-lhe tudo –  exceto duas palavras: ‘Deus meu’. Ele  uniu-se  a elas; nada poderia arrebatá-las  dos lábios  ou do coração. Com elas venceu a morte e com  essa  única frase, salva das  ruínas, construiu um reino eterno”.[3]
Não nos iludamos e nem nos deixemos abater com as acusações satânicas de que Deus não nos ama; ou que   não temos fé suficiente para receber a bênção da cura de nossa enfermidade ou a libertação de algum conflito humano. Embora seja certo que  a nossa fé  precisa ser exercitada e fortalecida, que precisamos  desenvolvê-la sempre. Isso não quer dizer que, pelo fato de termos  uma fé robusta, não seremos atingidos  por enfermidades ou calamidades, acidentes, assaltos ou crimes hediondos. Também não  podemos aceitar a acusação do inimigo tentando  nos fazer desconfiar do amor de Jesus por nós. 
É justamente  porque Ele  nos ama que somos portadores de Sua glória, instrumentos da  operação divina do Seu poder para a salvação e edificação de outras vidas. Antes de saber e querer exigir a libertação dos sofrimentos, precisamos desenvolver a nossa fé, para que, independente do que nos aconteça, o Senhor  transforme  nossa tristeza, lágrimas e dores, em alegria, conforme Ele nos afirma ([4]). E que, de alguma forma (que agora não conseguimos  nem imaginar), o Senhor  vai fazer com que tudo isso coopere, ou concorra, para o nosso bem.   Ou seja, quando perseveramos em oração, estamos dizendo ao Senhor que  cremos em Sua Palavra.
Talvez possamos, de algum modo, contribuir para a edificação e salvação de pessoas queridas, as quais de outra forma não seriam atingidas em sua sensibilidade. Além disso,  precisamos  saber que o nosso sofrimento está estimulando alguém a orar e a falar sobre o evangelho de Cristo. Além de sermos encorajados “pela provisão do Espírito de Jesus Cristo” ([5]); estamos certos de que “segundo a minha ardente expectativa e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a ousadia, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” ([6]).
Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
www.mananciaisdevida.blogspot.com
[1] Rm 8:22-26
[2] Tg 5:7-11
[3] Jones, Stanley –  CRISTO E O SOFRIMENTO HUMANO –  Pg.s: 108, 177
[4] Jo 16.20
[5] Fl 1.19
[6] Fl 1.20-21
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