sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A GRAÇA DE PADECER POR CRISTO

_ “Irmãos, rogo-vos que sejais como eu, porque também eu sou como vós; nenhum mal me fizestes. E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne; E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo. Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis” (Gl 4.12-15).


Sempre que leio esse texto sou levado a refletir da seguinte forma: Ou esse texto é verdade e a teologia da prosperidade exposta em nossos dias está equivocada, completamente errada; ou esse texto está errado, fora de contexto, e a pregação atual que arrebata multidões está certa...
Pensemos em algumas considerações:

Paulo diz, sem nenhum constrangimento, que na primeira vez que estivera entre os irmãos da Galácia estava com uma enfermidade visível e repugnante. E que, apesar disso, fora recebido de forma carinhosa e respeitosa, com honras de um anjo, ou mesmo como se fora o próprio Cristo.

Ora, não nos parece que alguma coisa não bate bem com a performance da teologia popular atual?
Se Paulo estava doente, por que fora pregar o evangelho do poder de Deus? Se o evangelho é o poder de Deus, como o próprio Paulo diz, por que ele, Paulo, não invocara ao Senhor para curá-lo antes de se apresentar para pregar esse evangelho que salva e cura o pecador.

E mais, por que não houve constrangimento da parte dos Gálatas pelo fato de que o pregador, a quem eles tanto respeitavam e admiravam, se apresentara de forma tão humilhante e deprimente?
Não nos parece uma tremenda contradição, considerando a pregação do evangelho como a solução para os problemas temporais, físicos, emocionais, financeiros e sentimentais? Contudo, se nos voltarmos para o ensino geral da Bíblia, especialmente do Novo Testamento, vamos verificar que Paulo estava perfeitamente dentro do contexto da mensagem do Senhor Jesus e de Seus demais apóstolos.

Jesus jamais prometeu vida mansa e tranquila, ou ausência de sofrimentos, dores e lágrimas para os verdadeiros servos de Deus. Basta conferir o que ele nos diz, conforme o relato de Seus discípulos. Ao contrário, Jesus afirmou sobre Si mesmo que “o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida pelos pecadores”... Que Ele não tinha onde reclinar a cabeça, etc. e no evangelho de João há uma passagem surpreendente e completamente contra o que pregam os pregadores atuais:

“Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei” (Jo 12.25-28).

Após falar que o Pai há de honrar aquele que O servirem, o Senhor fala da necessidade de Seu sofrimento. E reafirmou que este foi precisamente o propósito para o qual Ele veio ao mundo.
De outra feita o Senhor disse que “aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora e nunca jamais haverá. Não tive4sse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias” (Mc 13.19-20).

Nesse texto o Senhor Jesus diz claramente que haverá um tempo em condições piores ainda, em que somente pela misericórdia divina haveremos de suportar. Ou melhor, por causa da misericórdia de Deus em favor de Seus eleitos esses dias serão abreviados, interrompidos. Isto porque ele mesmo há de nos buscar (a todos que O receberam e estiverem vivos) antes que tais aflições sejam superiores às nossas forças.

E tudo isso, todo o sofrimento que juntamente com Ele haveremos de suportar, seja para a glória do Pai.
Ora, não seria de se esperar (conforme o entendimento da maioria dos pregadores atuais) que o Senhor profetizasse alguma promessa de completo e total livramento de todo tipo de sofrimento para aqueles que O invocassem, isto considerando especialmente que o Senhor acabara de dizer que “o Pai o honra”? Ou seja, que o Pai haveria de honrar a todos quantos deixarem tudo por amor a Jesus. Porém, ao contrário do que se espera ouvor como honra da parte de Deus, ele, o próprio Filho unigênito do Pai, diz claramente que sua alma estava angustiada. E mais, apesar de ser o Filho amado, honrado do Pai, o Senhor acrescenta que não haveria motivo para Ele pedir a libertação daqueles sofrimentos, e sim que foi “para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome”.

Nosso Senhor completa Sua oração intercessória, não com um brado de revolta ou mesmo com uma súplica ou determinação para que aquele mal fosse repreendido e eliminado, mas sim para que o Pai fosse glorificado. Assim, o Senhor não promete livrar-nos de todas as enfermidades, dores e lágrimas, mas sim estar conosco. Mas o Senhor promete, sim, o livramento a todos quanto O amam não DO sofrimento, mas sim em meio ao sofrimento lágrimas e dores. Sim o Senhor está conosco sempre, em todas as circunstâncias; nos consolando e nos dando o suporte necessário para continuarmos fiéis, testemunhando e glorificando o nome do Senhor.

Portanto, antes de buscarmos a cura ou o livramento de alguma tribulação, não deveríamos buscar a glória do Pai em todas as circunstâncias? Isto, claro, se nos encaixamos e concordamos com as palavras anteriores de nosso Mestre e Senhor: “Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará.
Se buscarmos, e até exigirmos que Deus nos cure sempre e nos livre das tribulações na suposição de que isto comprovaria que somos seguidores de Jesus, estaremos buscando a nossa própr5ia glória e honra e não a glória do Pai.

Pela Sua infinita misericórdia, Deus pode nos curar, nos abençoar nos livrando de toda tribulação; mas, se desejamos viver para a Sua glória e honra, a nossa prioridade deve ser o fato de que o Senhor seja honrado e glorificado em toda a nossa vida, mesmo que isso implique em nossa própria morte, pois a recompensa prometida é exatamente para aqueles que são fiéis até a morte.
Seja na vida ou na morte, que possamos agir e dizer como o apóstolo Paulo: “para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1.21).

Isto só ocorre quando vivemos com a disposição de confiar os nossos dias nas mãos do Senhor, para a Sua glória e não simplesmente para contarmos vantagens sobre as bênçãos recebidas do Pai. Porém, isto só é possível quando entendemos e cremos no que o Senhor nos diz através do próprio Paulo: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente o crer nele” (Fl 1.29).
Ainda que pareça estranho à teologia modernista de nossos dias, padecer por amor a Cristo também é fruto da graça de Deus aos Seus verdadeiros discípulos. Amém.




Pr. Vanderlei Faria
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