sábado, 5 de fevereiro de 2011

ADOÇÃO

Dois dias depois da visita à minha irmã indígena na unidade mista do hospital da cidade, fiquei sabendo pelo nosso irmão que ela já se encontrava na CASAI (Casa de Saúde do Índio). Fui visitá-la, levando a ela maçãs e bananas, que, bem sei, são do seu agrado. Mal o carro parou, o marido dela veio me receber.
- Unhadzo (“minha irmã”) está bem?
- Sim. Respondeu meu cunhado, já me guiando pelo braço até à rede em que ela estava.
- Hekite gele uege? Perguntei, querendo saber como ela estava.
- Enkgele. Respondeu-me com um sorriso. Logo pude ver em seus braços a pequena Fernanda, por quem eu havia orado poucos dias antes. Fernanda, uma linda indiazinha de apenas 4 meses, qua acabara de enfrentar uma difícil parada cardíaca, estava saudável e alegre no colo de sua mãe. Maravilhei-me, não apenas por vê-la restaurada, mas porque me ocorreu o pensamento de que ela havia sobrevivido pelo simples motivo de que Deus queria que ela vivesse para conhecer Sua Palavra de salvação.

Sei de uma história semelhante, ocorrida há muitos anos. Certa mulher, entrara numa creche onde ficavam crianças que eram filhos de pais com hanseníase, por isso elas eram mantidas longe, separadas dos pais. Naquele tempo distante, o contágio com a doença era terrível e, certamente, a maioria daqueles pais definhavam até à morte por causa da hanseníase. Assim, conta a história, que aquela mulher viu ali um bebê cujo destino era uma incógnita. Filho de pais miseráveis e portadores de lepra, o que seria daquela criança? Naquelas condições de pobreza, atraso e falta de higiene, poucas alternativas restariam que pudessem trazer alguma esperança de futuro ao bebê. Providencialmente, naquele dia a visitante viu aquele bebezinho e, por causas insondáveis (porque o amor sempre terá uma causa insondável!), ela o adotou.

Agora, estou olhando para a pequena Fernanda e pensando nessa minha história. A Fernanda e aquele bebê são sobreviventes de suas tragédias particulares. Sei que o bebê da minha história viveu o suficiente para conhecer Jesus Cristo e, então, eu desejo o mesmo para a pequena Fernanda e tantas outras crianças que vivem realidades tão difíceis. Não creio em maldições hereditárias, mas, indubitavelmente, creio em bençãos hereditárias. As bençãos sem medidas que recebemos de Deus Pai e repassamos adiante em resposta de jubilosa gratidão aos que também adotamos. Creio que os filhos adotivos, que se descobrem alvos de uma benção imerecida, repetem, à sua maneira, o padrão da adoção. Sei que fomos adotados por Deus em Cristo Jesus, daí, vendo aquela linda índiazinha, minha sobrinha indígena, logo vi que havíamos adotado o povo dela em amor. Nada demais, eu sei, pois, antes de nós, eles já nos haviam adotado também na família deles.

- Professor, sabe aquele dia que você foi visitar nossa irmã lá na CASAI?
- Sei, claro.
- Tinha uma índia na rede ao lado da minha irmã. Ela é do nosso povo também, mas lá da outra aldeia. Você lembra dela?
- A mãe do Ivan?
- É essa mesmo. Ela me encontrou e disse assim: “Olha, ele parece mesmo da família de vocês. Ele visita e fica aqui com vocês, conversa na enfermaria, traz presente para sua irmã e seu cunhado. Ele se preocupa com vocês, parece parente mesmo”. Professor, sabe o que eu disse para ela? Eu disse: “É, é sim, ele ficou lá em casa morando com meu pai na aldeia. Ele é meu irmão. Ele é da nossa família mesmo”!

-- Blog do Casal 20

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