segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CONHECIMENTO ESPIRITUAL

"Não é apenas na Bíblia que aprendemos a respeito de homens que se humilharam, confessa­ram seu pecado e conheceram a si mesmos através da luz de Deus. Aprendemos também na história da igreja quantos dos crentes mais santos se aperceberam de sua própria fraqueza e corrupção ao se achegarem à luz de Deus. Os cristãos que vamos mencionar nos parágrafos seguintes têm sido geralmente reconhecidos como dos mais extraordinários crentes da igreja, e, no entanto, sua opinião a respeito de si mesmos é de extrema humildade. Isto se deve a nada mais que ao fato de que quanto mais perto se viver de Deus, mais se conhece a própria fraqueza. Aquele que recebe mais da luz de Deus, invariavelmente vê mais sua própria corrupção. O orgulhoso e o farisaico não viram a luz de Deus.

Martinho Lutero. Quando estava na prisão, Mar­tinho Lutero escreveu uma carta a uma pessoa influente da Igreja Católica Romana, dizendo: "V. Sa. pode pensar que estou sem poder, pois o Imperador pode facilmente silenciar o brado de um pobre monge como eu. Mas V. Sa. deveria saber que ainda vou cumprir o dever que o amor de Cristo me impôs. Não tenho o menor temor do poder do hades, quanto mais do papa e seus cardeais." Vendo-se à luz de Deus, entretanto, este corajoso reformador não se conteve e bradou: "Temo a meu próprio coração mais do que ao papa e todos os seus cardeais. Pois dentro de mim está o papa-mor, isto é, o eu!"

John Knox. Por amor a Jesus, este foi professor, missionário, prisioneiro, escravo, peregrino, refor­mador e estadista. Foi, ao mesmo tempo, um dos mais raros santos do mundo. Em sua última oração, ele observou: "Esta prece é oferecida a meu Deus por mim, John Knox, com a língua meio morta e mente perfeita." São as seguintes as palavras murmuradas naquela oração: "Ó Senhor, tem misericórdia de mim. Não julgues meus inúmeros pecados; perdoa especialmente aqueles pecados que o mundo não consegue reprovar. Durante os dias da minha juventude, nos anos da meia-idade, e mesmo até ao presente momento, passei por muitas batalhas. Descubro que em mim nada há além de vaidade e corrupção. Ó Senhor, só tu conheces o segredo do coração do homem. Por favor, lembra-te que dos pecados que mencio­nei aqui, não existe nenhum com o qual eu esteja satisfeito. Por causa deles, estou sempre entriste­cido, e meu ser os aborrece profundamente. Choro agora por minha corrupção; só posso descansar na tua misericórdia." Esta foi a prece de alguém que havia sido iluminado pela luz de Deus.

John Bunyan. Por pregar o evangelho, John Bunyan foi encarcerado por treze anos. Enquanto estava na prisão, escreveu o que o mundo veio a conhecer como O Peregrino, livro que já foi traduzido em quase tantas línguas quanto a Bíblia. Charles H. Spurgeon disse o seguinte acerca de Bunyan: "Observo que o estilo de John Bunyan é muito parecido com o do Senhor Jesus; ninguém pode suplantá-lo." No entanto, quando Bunyan escreveu a seu próprio respeito, exprimiu este lamento: "Desde a última vez que me arrependi, outra questão trouxe-me muita tristeza, que é a de que se me examinar rigorosamente melhor do que agora faço, descubro pecado. Novo pecado está misturado ao que há de melhor em mim. Por esta razão, não posso deixar de concluir que, não importa quão vaidoso e imaginativo possa ser em relação a mim mesmo e a meu trabalho, ainda que meu passado seja sem mácula, os pecados que cometo em um dia são suficientes para me mandar para o inferno." E como continuasse profunda­mente convencido de pecado, bradou: "Se não for por um tão grande Salvador, quem pode salvar a um pecador tão grande quanto eu?"

George Whitefield. Este homem foi um pregador muito famoso. Ao se aproximar o fim de sua vida, disse o seguinte: "Oxalá eu desfaleça e morra a serviço do Senhor, pois acho que merece que eu morra por ele. Se tivesse mil corpos, cada um deles se tornaria um pregador itinerante por amor de Jesus." A última vez que tomou de uma vela para se recolher, uma enorme multidão reuniu-se à sua porta, insistindo para que pregasse mais uma vez. Ele sabia que ia morrer naquele dia; no entanto pregou até a vela se acabar. A seguir recolheu-se a seu aposento para morrer. Contudo, ouça o que esse homem pensava a respeito de si mesmo: "Em todas as obrigações que cumprimos, há corrupções que a elas se misturam. Se a aceitação de Jesus Cristo se baseasse em nossa obra depois que nos arrepende­mos, nossa obra seguramente nos condenaria, pois nunca podemos oferecer uma oração tão perfeita quanto a lei moral de Deus exige. Não sei o que vocês pensam, mas digo: Não sei orar, sei apenas pecar. Sou forçado a confessar: tenho até de me arrepender de meu arrependimento, até minhas lágrimas têm de ser lavadas no sangue precioso do meu Redentor. Nossas melhores obras nada mais são que refinados pecados."

Augustus Toplady. Este santo homem calculou que se pecasse pelo menos uma vez a cada segundo, em dez anos teria mais de trezentos milhões de pecados. Conseqüentemente, escreveu um hino muito glorioso, que tem dado descanso a inúmeras almas opressas pelo pecado. É o que diz: "Rocha eterna, foi na cruz, que morreste tu Jesus."
Escrevendo a respeito de si mesmo, Toplady tinha isto a dizer: "Não há no mundo alguém tão miserável quanto eu! Nada deixo além de fraqueza e pecado. Não há bem algum em minha carne; no entanto sou tentado a ser altivo. O melhor que já produzi na vida me qualifica para a condenação." Não obstante, morrendo de tuberculose em Lon­dres, repousou a cabeça pecadora no peito do Salvador, anunciando: "Sou o homem mais feliz do mundo inteiro!"

Jonathan Edwards. Este cristão era extrema­mente espiritual e foi muito usado pelo Senhor. Toda vez que pregava, inúmeras pessoas se sen­tiam tocadas em seus corações, choravam por seus pecados, e pediam o perdão do Senhor. Sendo uma pessoa extremamente honesta, ele com toda a humildade escreveu as seguintes palavras: "Mui­tas vezes, sinto profundamente quão cheio de pecado e impureza sou. Devido a esse sentimento irresistível, muitas vezes tenho de bradar em alta voz. Às vezes, choro por muito tempo. Por este motivo, tenho de me isolar de vez em quando. Sinto agora minha própria maldade e a corrupção do meu coração mais profundamente até do que antes de eu me arrepender. Faz tempo que com­preendi que minha corrupção é de todo indestrutí­vel, tendo enchido meus pensamentos e imagina­ção; e, ao mesmo tempo percebo que minha sensibilidade para com o pecado é fraca demais. Fico surpreso por não ter maior consciência do pecado. O que mais espero no momento é ter um coração contrito para me prostrar humildemente diante de Deus."

David Brainerd. Aos vinte e cinco anos de idade, David Brainerd foi trabalhar entre os índios pobres dos Estados Unidos. Ele labutou, sofreu, orou e jejuou até que o Espírito de Deus desceu sobre eles de maneira tal que muitos se converte­ram e passaram a viver para o Senhor. Cinco anos mais tarde, ele foi para o descanso eterno.
Jonathan Edwards proferiu as seguintes palavras no sepultamento de David Brainerd, seu filho na fé: "Que todos os servos de Deus observem este homem extraordinário — ele e sua santidade, divindade, vida e trabalho sacrificial. Como ele a si mesmo ofereceu com tudo o que tinha, tanto no coração como na prática, para a glória de Deus. Quão seguro e firme foi em todo tipo de dor e tristeza em situações penosas. Tudo isso serve de encorajamen­to para nós, para que saibamos quão grande é o trabalho que devemos fazer na terra, quão encanta­doras e preciosas são as experiências e conduta que temos em Cristo, e quão admirável é o fim delas."
No entanto, a seu próprio respeito, este servo do Senhor observou: "Ai, minha impureza íntima! Ai, minha vergonha e iniqüidade diante de Deus! Ai, quando estou pregando, quanto sou orgulhoso, egoísta, hipócrita, ignorante, malicioso, sectário e falto de amor, zelo, ternura e paz!"

Hudson Taylor. O Sr. Frost, diretor canadense da Missão do Interior da China, trabalhou com Hudson Taylor na China por muitas décadas. Certa vez, ao falar de Taylor, o Sr. Frost disse: "Tive a oportunidade de orar com o Sr. Taylor milhares de vezes, mas jamais o ouvi orar sem confessar seu pecado."

Todos esses viveram mais perto de Deus do que o normal das pessoas e no entanto tinham esse sentimento com relação a si mesmos. Pergunto aos muitos crentes normais que existem entre nós — aqueles que não têm vivido tão perto de Deus assim e não possuem tal senso de sua própria corrup­ção — estamos mais adiantados do que estes gran­des servos de Deus? Todos terão de responder com uma negativa. Não sentir os próprios defeitos não significa que se é bom. Muito pelo contrário, sim­plesmente mostra quanto lhes falta o autoconhecimento. Mas estes grandes servos de Deus sentiram tão fortemente sua depravação por estarem próxi­mos de Deus. Receberam mais luz de Deus; conhe­ciam o padrão absoluto da santidade divina. Esta­vam, por conseguinte, mais conscientes de sua própria pobreza que a maioria dos cristãos."

Trecho extraído do livro: "Conhecimento Espiritual", escrito por: T.S. (Watchman) Nee

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