segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Meus irmãos e amigos,

Recebi esta excelente reflexão do amado colega,
Paulo César Campos Lopes do Vale

- ´´Não sei se vocês puderam acompanhar o caso de seqüestro da menina Eloah, em Santo André. Todos aqui em casa acompanhamos e, não sei vocês, ficamos estarrecidos com o desfecho. Chocados mesmo!

Desde então, venho pensando sobre as estruturas de pensamento que dominam a mentalidade de nossa sociedade. Já não basta mais usarmos termos como pós-modernidade ou contemporaneidade. Vivemos, sim, em um mundo pós-cristão. O que quero dizer não é que não creia mais nos princípios do Cristianismo, ou da Reforma Protestante. Mas que a mentalidade atual em nada preza valores estabelecidos e vigentes até alguns anos atrás, onde ainda se valorizava a integridade da vida, bem como o controle emocional. Ouvíamos, é verdade, sobre aqueles capazes de matar em nome do amor (platônico, mas não bíblico), mas isso não nos ofendia porque tudo era teoria. Não foi o caso em Santo André.

É desesperadora a condição desse homem pós-cristão. Não há princípios sociais ou de preservação. Ele mata. Como fruto de uma irracionalidade, que o rebaixa à condição animalesca, ele mata. Ele mata como a criança quando brinca com formigas; ele mata como se fosse a barata que nos importuna. Ele simplesmente mata.

Fico a pensar, então, na minha condição pastoral. Eu tenho o Evangelho; eu amo o Senhor Jesus; eu amo o seu rebanho, a igreja; modestamente, tenho algum preparo para exercê-la; consigo articular bem boa parte dos temas teológicos, filosóficos, políticos, econômicos, lingüísticos, pedagógicos, e por aí vai. Mas ao mesmo tempo, me pego (optei pelo português-brasileiro) considerando como pregar e ensinar para um homem pós-cristão; como, no dizer do apóstolo Paulo, "destruir fortalezas, anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o pensamento à obediência de Cristo" (2 Co 10.4,5). Trata-se de um desafio grande demais. Elevado.

Antes que comecem os rótulos, não estou em crise no sentido "não sei de onde venho e nem para onde vou". Não é nada disso. Estou lúcido, consciente dos meus deveres e a quem devo agradar. Mas estou profundamente decepcionado com o mundo a minha volta. Espero não chegar às raias de homens pessimistas como Schopenhauer (risos!). Aliás, não tenho disposição para isso, pois ele era um pessimista pagão (na visão cristã), inclinado à pensamentos budistas. Mas foi capaz de influenciar muitos importantes, como Nietzsche.

Irmãos e amigos, estas palavras são apenas reflexões. Não me preocupei com o estlo ou qualquer coisa parecida. Quis apenas compartilhar. Somos uma igreja e desejamos ser relevantes no mundo e não alienados. Precisamos abandonar a condição verdadeira, da qual somos constantemente acusados, de que não nos importamos; de que tudo para nós está na vida porvir (ainda que também seja verdade!). Para sermos relevantes, precisamos conhecer o modo como pensam os nossos contemporâneos. Nisso Deus também será exaltado.

A fé cristã não é um chamado para o monastério da vida; ou para a clausura. Estamos no mundo, pensamos no mundo, e, pelo Evangelho, devemos influenciar o mundo. A sociedade fez escolhas. Dentre elas, a de colocar no quarto de bagunças os princípios da fé cristã. Reconhecem-na apenas como uma antiguidade ou relíquia deixada pelos pais onde reina a pena de jogar fora. Para não ofender a mente dos pais, preferem guardar e não usar. Contudo, removeram tais princípios, colocaram outros, e o desespero aumentou. Testes e mais testes vêm sendo feitos. Nada dá certo. Não será a hora de retornarmos com as "antiguidades", mas que funcionam? Eles já tiveram a chance de provar seus sistemas e pensamentos.

Termino com as palavras de Fernando Pessoa: "Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu procurador". Pensemos juntos. Pensar é um atributo divino comunicado aos homens. Pensemos.``

Abs.

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