quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

NATAL, TEMPO DE CONSOLAÇÃO




"E, ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer” (Lc 2:15).

 O texto acima faz-me lembrar de um Natal de minha infância; o que poderia chamar de   Meu Natal Inesquecível. Eu tinha cerca de nove anos apenas. Nossa família, apesar de pobre, era unida, alegre e bem equilibrada de um modo geral. Meu pai era  agricultor; um pequeno sitiante que saíra da cidade grande (Volta Redonda, RJ), fugindo da poluição e da agitação comercial. Meus irmãos e eu (cinco até então) pouco fazíamos para ajudar na manutenção  da casa.
 
Minha mãe, ao contrário,  trabalhava duro lavando roupas para  ajudar no suprimento do orçamento doméstico. Mas vivíamos tranqüilos, sem grandes preocupações, pelo menos nós, os menores. Naturalmente que os “velhos” tinham lá as suas preocupações e ansiedades, como todos os pais responsáveis, pela alimentação e educação daquelas vidas preciosas, como são todos os filhos.  Mas creio que não eram  tantas as preocupações da família, considerando-se as condições em que vivíamos.

Naquele fim de semana, porém,  as circunstâncias eram por demais  desalentadoras, sombrias. A lavoura de meu pai fora totalmente dizimada por uma  forte geada. O pequeno cafezal era a esperança de fartura e novos investimentos. Sua colheita era esperada com profunda expectativa, ansiedade e muito entusiasmo. De repente, drasticamente, em apenas uma noite de geada, toda a  economia e esforços de anos de trabalho duro e honesto se desfizera.
 
Na noite de Natal haveria, como de costume, a programação festiva em nossa casa, onde  se reunia a congregação da Igreja. Meu pai era o exemplo de resignação e fé. Minha mãe redobrava seus esforços  para minimizar as  dificuldades, lavando roupas aos montões. Eu, que não entendia praticamente nada quanto à gravidade da situação, brincava tranquilamente com os demais  meninos de minha idade.
 
Enquanto aguardávamos o início do culto especial de Natal, um coleguinha pôs-se a choramingar e resmungar ao meu lado. Procurei saber o motivo do seu descontentamento. E ele então começou  a maldizer suas botas novas, por estarem apertando-lhe os pés. Com toda humildade própria de uma criança, perguntei-lhe: "Quer trocar com os meus sapatos? Eles não machucam!"
 
Imediatamente ele parou de chorar. Enxugou as lágrimas, e, verificando as péssimas condições das minhas sandálias (Alpargatas Rodas), velhas, rasgadas, furadas e desfiguradas, disse-me sem pestanejar: "Não precisa, já parou de doer!" Desde então, muitos natais já se passaram, porém, não posso esquecer daquele Natal de minha infância.  Sempre que sou tentado a lamentar e angustiar-me, devido aos "sapatos velhos" que a vida me proporciona, lembro-me daquele inesquecível Natal. 

 

Vanderlei Faria

pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

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