segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A TRISTEZA SEGUNDO DEUS

Quando somos atingidos por doenças, tragédias, ou injustiças sociais, quase sempre usamos esta expressão: “Por que eu?” Ainda vale a pena ser crente? Qual a recompensa de todo o sacrifício e renúncia de vocês? Qual a vantagem, ou o que vocês ganham com essa fé inabalável? Não seria fanatismo essa atitude cristã?”

O que não fazemos por nossos filhos e netos, principalmente quando algum deles se encontra gravemente enfermo!

Cresci na certeza de que Deus ouve e responde as orações de Seu povo, curando as suas enfermidades, segundo a Sua boa e perfeita vontade. Iniciei meu ministério com a convicção e expectativa de que Deus haveria de manifestar a Sua glória, curando muitos enfermos em nossa comunidade, atendendo graciosamente às nossas orações.

Porém, a facilidade para obtermos ajuda e tratamento profissional da medicina, e os recursos humanos disponíveis, com o tempo tornaram-me bem menos dependente do Senhor em momentos de aflição. E até mesmo descrendo da possibilidade de Deus atuar de modo especial e sobrenatural na cura das enfermidades, tendo delegado essa responsabilidade aos médicos e demais profissionais da área... Então, minha oração se restringia apenas em pedir a Deus que agisse através dessas pessoas. A pedir a Deus que nos conduzisse ao tratamento adequado, ou ao profissional mais competente possível, a fim de sermos socorridos convenientemente em momentos de necessidades. Apesar disso, Deus, em Sua infinita misericórdia, nos surpreendia com o Seu poder e graça.

Mas por que estes fatos são tão raros em nossos dias? Por que estórias como essas parecem tão extraordinárias entre nós? Será que o nosso Deus mudou? Será que Ele delegou aos profissionais da medicina toda a responsabilidade de cuidar dos enfermos? Ou seria a nossa incredulidade e falta de oração a causa dessa ausência de curas e milagres entre o povo de Deus? Gostamos de cantar: “O nosso Deus não muda”. E é verdade! Porém, nós mudamos, nos embrutecemos, nos acomodamos com um tipo de cristianismo formal, sacramental ou teórico. Confiamos mais em nossa denominação (ou dominação) do que na Palavra de Deus. Tornamo-nos “religiosos” em excesso no zelo doutrinário, sem, contudo, vivenciar a fé em sua plenitude. Com medo de cairmos no ridículo e exageros dos extremistas, acabamos não buscando a Deus em oração para sermos abençoados e para abençoar os outros.

Não somos nós os curadores. Não podemos ter a pretensão de prometer a cura daqueles que nos procuram com esse objetivo, mas também não podemos fugir de nossa responsabilidade e privilégio de clamar a Deus em favor dos enfermos ao nosso redor.

Na verdade, a misericórdia divina vem a nós, não por causa da nossa justiça ou méritos pessoais. Porque "A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã... Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor".[1] É bom saber disso. Porém, não precisamos esperar que uma enfermidade cruel nos atinja para nos voltarmos contritos aos pés de Jesus. Podemos buscá-Lo já, mesmo que tudo esteja aparentemente indo bem. Podemos dizer agora mesmo: "Eu creio em ti, Senhor! Ajuda-me a crescer mais na fé, para vencer os obstáculos que porventura venham a me atingir! Eu quero viver a verdadeira vida cristã, porque o Senhor disse: "O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e atenham em abundância" (Jo 10.10).

Jesus começou Seu ministério no jardim de oração do deserto, onde foi tentado. Passou pela “via dolorosa”, no jardim de oração do Getsêmani, e concluiu sua missão ao orar ao Pai entregando o Seu espírito. A oração foi o principal ensino de Jesus para Seus discípulos, e para todos nós. Infelizmente, também, o mais negligenciado. Precisamos pedir a Deus que nos possibilite a louvá-Lo e adorá-Lo em tempos de aflição, aceitando a Sua vontade soberana sobre nossas vidas. Precisamos considerar que o Senhor Jesus é o fundamento de nossa fé. É certo que cremos nEle como nosso Salvador e Senhor; mas essa fé precisa ser ativa, operante, dinâmica e progressiva, crescente. Essa fé deve nos levar a uma constante lembrança de que o Senhor está vivo, envolvido com os nossos interesses pessoais. Sua presença é real, plena e envolvente. Essa fé nos trará convicções fortes, inabaláveis. Certezas para nos apropriarmos de atitudes corretas, vitoriosas; e nos mover às realizações positivas.
Deus Se agrada de nossa oração em meio ao sofrimento, nos reponde e nos conforta.[2] Descansamos na certeza da soberania de Deus, quando Ele nos conforta em meio aos sofrimentos.[3] O que não podemos é perder a oportunidade que o sofrimento, a enfermidade e a tristeza nos proporcionam para a reflexão, oração e o clamor a Deus a fim de que Ele nos conceda o discernimento claro e necessário quanto ao que Ele quer fazer em nós, por nós e através de nós, quando vêm as tribulações; “porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” (2Co 7.10).


Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

[1] Lm 3.22, 23a, 26
[2] Is 38.4-5; 2Co 1.3-6
[3] Is 38.16-17

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