sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O LUGAR DA ORAÇÃO NA VIDA

Como sabemos, e como também nos parece, o homem está clara e completamente destituído de todo o bem e desprovido de meios para encontrar sua própria salvação. Por conseguinte, para que ele obtenha socorro para a sua necessidade, ele deve ir além e buscá-lo fora de si mesmo.
[Pela escritura é] também demonstrado que o Senhor, amável e espontaneamente, manifesta-se-nos a si mesmo em Cristo, em quem ele nos oferece toda felicidade no lugar de nossa miséria, toda abundância no lugar de nossa pobreza, abrindo-nos os tesouros do céu, de maneira que podemos nos converter com plena confiança a seu Filho amado; para que dele dependa toda nossa expectação, nele descansando e se lhe apegando com toda esperança.

Esta, na verdade, é aquela filosofia secreta e oculta que não pode ser aprendida por raciocínios lógicos; uma filosofia entendida completamente apenas por aqueles cujos olhos Deus tem de tal forma aberto para que vejam a luz em sua luz.

No entanto, após termos sido ensinados pela fé a conhecermos aquilo que nos é indispensável ou nos falta e que está em Deus e em nosso Senhor Jesus Cristo, em quem aprouve ao Pai que habitasse toda plenitude, resta-nos beber, como que de uma fonte inesgotável, aquilo que buscamos nele mediante a oração e que sabemos estar ali. Porque, de outro modo, conhecer a Deus como o soberano Senhor e dispensador de todo bem, que nos convida a que apresentemos nossas petições e, ainda assim, não se aproximar ou pedir-lhe algo, é o mesmo que se ouvíssemos falar que há para nós um tesouro disponível e o deixássemos enterrado.

Por isso, o apóstolo, para mostrar que a fé desacompanhada de oração a Deus não pode ser genuína, estabeleceu esta ordem: como a fé provém do evangelho, assim, pela fé, nossos corações são instruídos a invocarmos o nome de Deus (Rm 10.14). E isto é o que [a escritura ensina], a saber, que o Espírito de adoção, que sela o testemunho do evangelho em nossos corações, nos concede coragem para fazermos nossas petições conhecidas por Deus, com gemidos que não podem ser expressos, fazendo-nos clamar: Abba, Pai (Rm 8.26).

João Calvino

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