terça-feira, 16 de novembro de 2010

RELATO DA MÃE DO “FILHO PRÓDIGO”.

Hoje fiquei sabendo que meu filho mais novo quer ir embora de casa. Apenas fui comunicada disto pelo pai dele, o meu marido, conforme os nossos costumes que mesmo aceitando, não concordo! Não consegui dormi porque não podia imaginar alguém que tem tudo em casa, como uma boa família, com todas as necessidades supridas, ir, sair de casa sem uma meta de chegada.

Como toda mãe de minha época, pensei que ele iria para a casa de um tio, montar um negócio em outra cidade, outro país ou algo que o coração de mãe arranja sempre como um bálsamo de engano-santo para suportar o pensar sobre. Mas não! No dia seguinte soube pelo pai dele que esta conversa já vinha rolando em casa entre os homens, e que a decisão do menino ( mãe sempre chama os filhos de meninos, tenham a idade que tiverem) era irrevogável.

A tristeza de meu marido tinha como base, um possível fracasso dele como pai ou nossa como família. Pedi um prazo a todos para conversar com a criança. Deixaram sem alento, mas aí começamos a ter problemas com o outro filho que passou a reclamar a falta de atenção, já que o pai e agora eu, nos preocupávamos com este “ marginal dentro de casa, que quer herança antes do pai morrer, que isto poderia matar o pai, e que ele em vida, já estava perdendo pai e mãe por causa de um filho que pedia, exigia algo que jamais passara na sua cabeça”. Filosoficamente ele tinha razão, mas um dia quando ele tiver filhos, sentirá o que é ser pai e entenderá a “cegueira de uma mãe” ( palavras dele). Procurei o meu filho para conversar, a princípio como se a atitude dele fosse normal.

- “ O que você fará com tanto dinheiro? Montará uma empresa, um negócio em outro pais, em outro lugar?
- “ Não,... não vou montar nada, vou “montar” neste dinheiro como se ele fosse um cavalo e vou cavalgar pelo mundo afora, até o cavalo morrer... vou fugir da mesmice que tenho aqui em casa, na região, e quero conhecer prazeres do mundo para comparar com o que tenho aqui em casa. Não é nada pessoal com a senhora, meu pai e meu irmão, mas é esta coisa de todos os dias, da obediência cega ao meu pai, desta religiosidade que me é imposta, dos prazeres do mundo que devo evitar mesmo nunca sabendo que gosto esta coisa tem. Eu quero sair sim, aproveitar a vida como dizem que é errado, mas só saberei se é tão errado mesmo depois que conhecer tal coisa.”

Eu, como mãe me senti metralhada pelas palavras, porque eu fiz uma pe rgunta simples e ele me fez um discurso inicial. Meu filho, mais tarde chamado de pródigo ( as pessoas não sabem direito o que significa esta palavra) mesmo vendo meu rosto lívido e com sabor de mãe quando perde, respondeu-me prontamente quando insisti para ele não fazer isto. “ A senhora acha que mesmo sem ter o poder do meu pai, mesmo sem o poder me dizer não, vai me convencer de ficar? Agora que já deixei claro para o meu pai o que quero, ele concordou, eu vou demonstrar fraqueza porque uma mulher, mesmo sendo minha mãe me convenceu? A senhora pode ter razão, mas vou assim mesmo!”

E foi,.... meu filho se foi, levando sua parte a que teria direito, e parte de mim e de meu marido porque a sensação de fracasso invadiu o nosso relacionamento. O pior é que notando a nossa tristeza de todos os dias, o filho que ficou, boa gente, sempre nos cobrava a ausência presente. Com razão,... mas fazer o que? Todos os dias, por um bom tempo, meu marido me mandava fazer a mesa para refeições, sempre colocando taça, prato e talheres no lugar onde deveria estar o nosso filho que foi. Nas orações, movido pela emoção, meu marido sempre o citava e muito, o que passou a ser chamado de “pródigo”. E esquecemos, de uma certa maneira,... do que ficou! Nunca imaginamos a possibilidade da não volta.

Eu, como mãe sonhadora, gostaria de vê-lo chegando com muitos cavalos, ovelhas, dinheiro multiplicado, empregados e dezenas de escravos; um vitorioso! Mas este dia não chegava, e como parte de mim já estava morrendo em vida, comecei a me acostumar com a ausência, aceitando depressivamente a ausência do caçula. Mas,.... isto, na vida de vitoriosos com Deus, sempre tem um “mas divino”; eu estava na cozinha temperando carne de cordeiro, quando ouço o nosso velho, o pai de meus filhos gritando lá no portão. Eu não entendia bem o que acontecia, porque não era do feitio dela gritar tanto assim e então alto.

Com meus olhos já gastos pelo tempo, pude pouco ver meu marido abraçado com um homem (coisa que nunca eu tinha visto ou imaginado) mais alto do que ele, sujo,...imundo, cabelos e barbas enormes, com roupas rotas e que chorava também! Fui me aproximando e quando reconheci o que chegara, caí de joelhos e agradeci a Deus por estar vendo aquela cena; ... depois como se me arrastasse, abracei-me à ele e choramos os três.

Não fizemos nenhuma cobrança, nenhuma pergunta, não fizemos acusações tipo “ eu te avisei que ia se dar mal”. Não, fizemos como Deus faria, abraçamos, beijamos ( filhos nunca estão sujos para os pais) porque é como se beijássemos a nós mesmo e a “Deus em reposta viva”! Pronto,... recebemos de volta aquele que tinha se ido, mas agora vamos lutar para recuperar aquele que nunca se foi, o que pode ser mais difícil; mas vamos orar e conversar... Pode não dar certo agora, mas amanhã Deus saberá como agir e cá estarei para abraçar toda minha família,... digo, a família que é do meu marido onde estou inserida...!

Aplicação: por mais que entendamos ou queiramos ser entendidos, não podemos dar mais atenção a um dos filhos (os outros cobrarão, com certeza); uma família tem que ter uma mãe; nunca perder as esperanças e sempre guardar um lugar à mesa para um filho distante ou perdido; ter de tudo em casa, materialmente falando, não é o suficiente; ficar falando dos prazeres do mundo a serem evitados, tem que ter uma certa didática, porque pode acontecer o contrário, ao invés de afastar, pode impelir ( assim como falar contra drogas); pais não são escravos dos filhos ( sejam bons ou maus), mas também não são donos, porque filhos não são paridos: estão sempre em nós.


OBS. O papiro que contem estas palavras, foi descoberto no “Monte Imaginação” que fica no sul do coração jerusalênico de um romancista cristão (Francys Osollev).

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