domingo, 14 de novembro de 2010

QUANDO PEDIR PERDÃO?

Quando nos voltamos para Deus em Sua santidade e majestade, sentimo-nos como Isaías, conforme as suas próprias palavras (Is 6.1-5).

Quando o profeta se vê à luz da santidade de Deus, ele fica arrasado, confuso, humilhado e perdido. Torna-se dolorosamente consciente de sua condição de pecador, digno de condenação. Entretanto, quando ele confessou o seu pecado, a graça de Deus o alcançou e operou nele “tanto o querer como o realizar, segundo a sua (de Deus) boa vontade” (Fl 2.13). Mas antes foi necessário o profeta sentir-se nu diante de um Deus santo e puro. Aí ele sentiu-se completamente transparente, digno de morte. É como nos sentimos diante de Deus quando pecamos. Ele nos faz ver e sentir a malignidade, vergonha e nojo de nosso pecado (Ez 36.31). Só então somos conduzidos por Deus mesmo ao arrependimento sincero, buscando o perdão para nossa alma aflita e angustiada por causa do pecado.

Quando Deus Se revela aos pecadores na Sua magnitude sublime, somos reduzidos a vermes inúteis, imundos, perversos e fúteis. Menos do que nada. Foi assim também que se sentiu o profeta Ezequiel quando Deus lhe disse: “Filho do homem, Põe-te em pé, e falarei contigo” (Ez 2.1). Ou seja, primeiro Deus nos faz ver o que somos em nossa insignificância: “Filho do homem...” – pertencemos à natureza humana perversa e decaída. Depois o Senhor apresenta-lhe a Sua graça infinita: “põe-te em pé, e falarei contigo”. Só podemos ter acesso a Ele quando Ele mesmo determina que assim o façamos, pela Sua misericórdia e graça. Como disse o Pr. Luiz Saião, “quando o nosso coração descobre quem é Deus, descobrimos quem nós somos”.

Foi assim que Davi se viu depois de haver pecado grotesca e vergonhosamente no caso de Bate-Seba (Sl 32, 51). Foi o que aconteceu com Jeremias. Deus lhe falou a respeito de Sua eleição da graça (1.5); sobre a sublimidade de Sua misericórdia. Então o profeta sentiu-se como uma criança, uma vida insignificante (1.6). E na verdade é o que somos diante de Deus. Quando Jeremias se humilhou diante da majestade de Deus, Ele o exaltou, credenciou e capacitou para ser portador de Sua mensagem e santidade (1.7-10). Foi assim que reagiu Jó depois de passar um longo tempo reclamando de Deus pela maneira como estava sendo tratando por Ele (Jó 42.5-6). Foi o que Paulo, apóstolo, demonstrou sentir ao se aproximar da santidade de Deus (Rm 7.7-25). Foi também como o apóstolo João procurou expressar sua intimidade e convivência com Jesus (1 Jo 1.1-4). E é assim também o que eu sinto quando me dirijo a Deus em oração e vejo os meus pecados à luz de Sua santidade. Você já sentiu ou se viu desta maneira?

É o que sinto quando pratico algo semelhante. Envergonho-me e sinto-me desolado, com nojo dos meus próprios pecados. Especialmente quando ofendo ou decepciono alguém por quem nutria uma sincera e pura amizade e consideração, além de sentir que a recíproca era verdadeira. Na verdade, sinto uma completa ruptura no meu interior quando sou levado a pensar, dizer ou agir de forma a ofender e entristecer alguém a quem amo, ou mesmo a quem não conheça suficientemente e com quem não tenha intimidade. Mas, se entristeço alguém com atitudes e palavras inconvenientes, creio que sou eu quem mais sofre e mais se entristece. Sinto-me completamente estilhaçado em meu interior. E pior é que, frequentemente, não há como consertar devidamente os estragos causados naquele relacionamento quebrado. Humanamente não há como esperar que a confiança, respeito e admiração que a outra pessoa nutria por nós continuem da mesma forma. Porém, a Palavra de Deus nos diz que foi precisamente para isto que o Filho de Deus Se manifestou: Para “destruir as obras do diabo” (1Jo 2.8), e para nos reconciliar com Deus e com os nossos semelhantes (Cl 1.18-22), trazendo-nos a paz real e duradoura. Portanto, essa restauração da amizade só pode ser efetuada pela graça de Cristo em nossos corações.

Quando me dirijo a Deus em oração, a percepção da majestade e santidade divina faz-me sentir como disse o salmista no Sl 90.3-12. O Senhor reduz-me ao pó. Ou ainda como escreveu Isaías, como um grão de pó na balança de Deus. O pó do pó, porque o texto diz: “Para ele as nações são como a gota de um balde, como o pó das balanças; ele considera as ilhas com um grãozinho. Todas as nações são insignificantes diante dele; ele as considera menos do que nada, algo inútil... Vós sois nada, e o que fazeis é inútil; quem vos escolheu é abominável”.[1] Ou seja, sou pó do pó, porque o Senhor Se refere às nações como “um pingo que cai de um balde”, ou como “pó fino que se levanta”, eu então sou pó do pó. Ou, como disse o Dr. Luiz Saião, sou um pó em pé prestes a me tornar um pó deitado. Foi assim que Isaías se viu quando foi confrontado com a sublimidade da majestade divina (Is 6.1-3).

É sempre assim, enquanto não contemplamos Deus em Sua santidade não conseguimos nos ver em nossa miséria e pecado. Mas quando o Senhor Se nos permite contemplar a Sua pureza e santidade, não há como deixar de reconhecer nossas mazelas e pecados, prostrados e reverentes diante dEle. E quando isto acontece, somos maravilhosamente levantados pelas potentes mãos do Salvador nos redimindo do pecado e nos trazendo de novo a paz da reconciliação com Ele e com nossos semelhantes. Glória, pois, a Ele de eternidade a eternidade!


Verifique se você pode dizer amém a esta oração, a qual foi proferida por um servo de Deus do passado:[2]




Uma Oração Matutina

Ó poderoso e glorioso Deus! Transbordas de incompreensível poder e majestade! Nem mesmo o céu dos céus podem conter a Tua glória! Desde o céu, olha para baixo, para mim, para este Teu indigno servo. Aqui me prostro junto ao estrado do Teu trono de graça. Mas olha para mim, ó Pai, pelos méritos e pela mediação de Jesus Cristo, Teu Filho amado, somente em quem Tu Te agradas! Quanto a mim, não sou digno de estar em Tua presença, nem falar, com meus lábios impuros, a um Deus santo como és.

Ó Senhor, aqui me apresento culpado e merecedor da Tua maldição, com todas as misérias desta vida e com os tormentos eternos do fogo do inferno, após o fim desta miserável vida. Tudo isso virá sobre mim, se me tratares de acordo com os meus merecimentos. Sim ó Senhor, eu confesso que é graças à Tua misericórdia, que dura para sempre, e à Tua compaixão, que nunca falha, que já não fui consumido há muito tempo. Mas Contigo está, ó Senhor, a misericórdia e copiosa redenção. Por isso, na multidão das Tuas misericórdias, e confiando nos méritos de Cristo, rogo à Tua divina Majestade que não entres em juízo com o Teu servo. Rogo-Te, também, que não sejas extremamente rigoroso em assinalar o que até aqui fiz de errado. Se o fizeres, nenhuma carne será justificada aos Teus olhos, e nenhum ser vivo resistirá em Tua presença.

Sê, pois, misericordioso para comigo, e lava-me de toda a impureza do meu pecado com os méritos do precioso sangue que Jesus Cristo derramou por mim. É, visto que Ele suportou o fardo da maldição que me era devida por minhas transgressões, livra-me, Senhor, dos meus pecados e de todos aqueles juízos que pendem sobre a minha cabeça e que me são devidos por causa dos meus pecados. Afasta-os para longe da Tua presença como o Oriente dista do Ocidente. Enterra-os no enterro de Cristo, a fim de que jamais tenham forças para ressurgir contra mim para me envergonharem nesta existência ou para condenar-me no mundo futuro. E eu Te rogo, ó Senhor, não somente que laves e elimines os meus pecados com o sangue de Teu Cordeiro imaculado, mas também que expurgues o meu coração, por Teu Espírito Santo, da escória da minha corrupção natural. Faze-o, Senhor, para que eu sinta cada vez mais o Teu Espírito mortificar o meu pecado em seu maligno poder e em sua prática. Assim poderei no dia de hoje servir-Te, ó Deus eterno, com mais liberdade da mente e da vontade, com justiça e retidão.

E dá-me graça para que, pela direção e assistência do mesmo Espírito, eu mantenha perseverantemente como Teu servo fiel e sincero até o fim da minha vida. Rogo-te essas bênçãos para que, quando findar esta vida mortal, faças de mim um participante da imortalidade e da felicidade eterna no reino celestial.

Estas e todas as outras graças que Tu sabes que me são mais que necessárias, hoje e sempre humildemente peço e almejo de Tuas mãos, ó Pai. E dou-Te glória da forma da oração que o próprio Senhor Jesus Cristo me ensinou a dizer-Te:
“Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome...” Amém.

Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

[1] Is 40.15, 17; 41.24 – Almeida Século 21
[2] Bayly, Lewis – A PRÁTICA DA PIEDADE, Pg.s 166-171 – PES (Um excelente livro que eu gostaria de recomendar a todos quantos amam ao Senhor da glória eterna).

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