“Está consumado”
2. Vemos aqui o término de seus sofrimentos.
E qual língua ou pena pode descrever os sofrimentos do
Salvador? Ó, que angústia inexprimível, física, mental e espiritual que ele
suportou! Apropriadamente foi ele designado “o Homem de Dores”. Sofrimentos nas
mãos dos homens, nas mãos de Satanás e nas mãos de Deus. Dor infligida tanto
pelos inimigos quanto pelos amigos. Desde o início ele caminhou entre as
sombras que a cruz lançava de través sobre seus passos.
Ouça seu lamento:
“Estou aflito e prestes a morrer desde a minha mocidade” (Sl 88.15). Que luz
isso lança sobre seus primeiros anos! Quem pode dizer quanto está contido
nessas palavras? Para nós, um véu impenetrável está lançado sobre o futuro;
nenhum de nós sabe o que um dia pode causar. Mas o Salvador conhecia o fim
desde o começo! Alguém apenas precisa
ler os evangelhos para saber como a terrível cruz esteve sempre perante ele.
Nas bodas de Caná, onde tudo era alegria e divertimento, ele
faz solene referência à sua “hora” que ainda não viera. Quando Nicodemos o
entrevistou à noite, o Salvador aludiu ao levantamento do Filho do homem.
Quando Tiago e João vieram lhe pedir dois lugares de honra em seu reino
vindouro, ele fez menção ao “cálice” que ele tinha de tomar e ao “batismo” com
que deveria ele ser batizado. Quando
Pedro confessou que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo, ele voltou-se para
os seus discípulos e começou a lhes mostrar “que convinha ir a Jerusalém, e
padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e
ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia” (Mt 16.21).
Quando Moisés e Elias ficaram diante dele no monte da
transfiguração, foi para falar “da sua morte, a qual havia de cumprir-se em
Jerusalém”. Se é verdade que somos bem incapazes de avaliar os
sofrimentos de Cristo devido à antecipação da cruz, menos ainda podemos sondar
a pavorosa realidade da própria.
Os sofrimentos físicos foram excruciantes, mas mesmo isso foi
como nada se comparado com sua angústia de alma. Para uma consideração de tais
sofrimentos já dedicamos vários parágrafos nos capítulos anteriores, todavia
não nos desculpamos em nada em retornar a eles novamente. Não é demasiado de nossa
parte poder contemplar com frequência o que o Salvador suportou a fim de
assegurar a salvação para nós. Quanto mais estivermos familiarizados com seus
sofrimentos, e quanto mais amiúde meditarmos neles, mais caloroso será nosso
amor e mais profunda a nossa gratidão.
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