A PALAVRA DE CONTENTAMENTO
"E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas
tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou" (Lucas
23.46).
“E, CLAMANDO JESUS
com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo
dito isto, expirou" (Lc 23.46). Essas palavras postas diante de nós foram
o último ato do Salvador antes de expirar. Foi um ato de contentamento, de fé, de
confiança e amor. A pessoa a quem ele confiou o precioso tesouro de seu
espírito foi seu próprio Pai. Pai é um título que traz encorajamento e
segurança: um filho, desde que seja querido, bem pode confiar qualquer
preocupação nas mãos de um pai, em especial um tal Filho nas mãos de um tal
Pai. Aquilo que foi entregue nas mãos do Pai foi o seu “espírito”, que estava
preste a se separar do corpo. A
Escritura mostra o homem como sendo um ser tricotômico: “espírito, e alma, e
corpo” (1Ts 5.23).
Há uma diferença entre a alma e o espírito, ainda que não
seja fácil afirmar onde não são eles similares entre si. O espírito parece ser
o mais elevado panorama de nosso ser complexo. É isso que particularmente
distingue o homem das bestas, e que o liga a Deus. O espírito é aquilo que Deus
forma dentro de nós (Zc 12.1); portanto, é ele chamado o “Deus dos espíritos de
toda a carne” (Nm 16.22). Na morte, o espírito volta a Deus, que o deu (Ec
12.7).
O ato pelo qual o Salvador pôs seu espírito nas mãos do Pai foi um ato
de fé — “[eu] entrego”. Foi um bendito ato com a intenção de ser um precedente
para todo seu povo. O último ponto observável é a maneira na qual Cristo
executou seu ato: ele expressou tais palavras “com grande voz”. Ele falou para
que todos pudessem ouvir, e para que seus inimigos, que o julgavam destituído e
desamparado por Deus pudessem saber que ele não mais o estava, antes, que ainda
era amado por seu Pai, e podia pôr seu espírito confiantemente em suas mãos.
“Pai, nas tuas
mãos entrego o meu espírito”. Foi a última coisa que o Salvador disse antes de
expirar. Enquanto pendurado na cruz, por sete vezes seus lábios moveram-se para
falar. Sete é o número da inteireza ou perfeição. No Calvário, então, como em
todo lugar, as perfeições do Bem-Aventurado foram mostradas. Sete é também o
número de descanso em uma obra encerrada: em seis dias Deus fez céu e terra e,
no sétimo, descansou, contemplando com satisfação aquilo sobre o que
pronunciara ser “muito bom”. Assim também aqui com Cristo: uma obra fora-lhe
dada para fazer, e tal obra estava agora feita. Exatamente como o sexto dia
levou à conclusão a obra de criação e reconstrução, assim a sexta declaração do
Salvador foi “Está consumado”. E, exatamente como o sétimo dia foi o dia de
repouso e satisfação, assim a sétima elocução do Salvador trá-lo ao lugar de
descanso — as mãos do Pai.
Por sete vezes o
Salvador agonizante falou. Três dessas elocuções diziam respeito aos homens: a
um deu a promessa de que deveria estar com ele naquele dia no Paraíso; a um
outro confiou sua mãe; à massa de expectadores fez menção de estar com sede.
Três dessas elocuções foram dirigidas a Deus: ao Pai ele orou por seus
assassinos; a Deus ele expressou seu triste lamento; e agora, nas mãos do Pai,
ele entrega seu espírito. Ao ouvido de Deus e dos homens, dos anjos e do diabo,
ele bradara em triunfo: “Está consumado”.
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