“ESTÁ CONSUMADO”
A Escritura indica
que há uma obra especial peculiar a cada uma das pessoas divinas, ainda que,
como as pessoas mesmas, não é sempre fácil distinguir entre suas respectivas
obras. Deus Pai está especialmente envolvido no governo do mundo. Ele governa
sobre todas as obras de suas mãos. Deus Filho está especialmente envolvido na
obra redentora: ele foi quem veio aqui para morrer pelos pecadores. Deus Espírito está
especialmente envolvido com as escrituras: ele foi quem moveu os santos homens
de outrora para falarem as mensagens de Deus, assim como é quem agora dá
iluminação espiritual e entendimento, e guia na verdade. Mas é com a obra de
Deus Filho que estamos aqui particularmente interessados. Antes que o Senhor
Jesus viesse a essa terra uma obra definida foi confiada a ele.
No princípio do
livro isso foi escrito por ele, e ele veio a fazer a vontade registrada de
Deus. Mesmo quando garoto de doze anos, os “negócios” do Pai estavam diante de
seu coração e ocupavam a sua atenção. Outra vez, em João 5.36, encontramo-lo
dizendo: “Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o
Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço”. E, na última noite
antes de sua morte, naquela maravilhosa oração sacerdotal, descobrimo-lo
falando: “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a
fazer” (Jo 17.4).
Em seu livro sobre
os sete ditos de Cristo na cruz, o Dr. Anderson-Berry lança mão de uma
ilustração da história a qual, por sua contundente antítese, revela o sentido e
a glória da obra completa de Cristo. Isabel, Rainha da Inglaterra, o ídolo da
sociedade e a líder da alta sociedade europeia, quando em seu leito de morte,
voltou-se para a sua dama de companhia e disse: “Ó, meu Deus! Está acabado.
Chego ao fim disso — o fim, o fim. Ter somente uma vida e acabado com ela! Ter vivido, e
amado, e triunfado; e agora saber que está terminado. Pode-se desafiar tudo o
mais, menos isso”. E, enquanto a ouvinte assistia a isso sentada, poucos
momentos depois, a face cujo sorriso mais leve trouxera seus cortesãos aos seus
pés, tornava-se numa máscara de argila sem vida, e retribuía a ansiosa
contemplação de sua serva com nada mais do que um fixo olhar vazio. Tal foi o
fim de alguém cuja meteórica carreira fora invejada por metade do mundo.
Não podia ser dito
que ela “consumara” alguma coisa, pois consigo tudo foi “vaidade e aflição de
espírito”. Quão diferente foi o fim do Salvador — “Eu glorifiquei-te na terra,
tendo consumado a obra que me deste a fazer”. A missão na qual Deus enviou seu
Filho ao mundo estava agora acabada. Na realidade, não foi terminada até que
desse seu último suspiro, mas a morte viria em instantes e, antecipando-se a
isso, ele brada, “Está consumado”. A difícil obra está feita.
A tarefa
divinamente dada a ele está executada. Uma obra mais digna de honra e mais
importante do que qualquer outra jamais confiada ao homem ou aos anjos estava
completada. Aquilo por que deixara a glória celeste, aquilo pelo qual ele
tomara sobre si a forma de servo, aquilo pelo qual ele havia permanecido na
terra por trinta e três anos para fazer, estava agora consumado. Nada mais
tinha para ser adicionado. A meta da Encarnação é atingida. Com que jubiloso
triunfo ele aqui deve ter visto a árdua e custosa obra que lhe foi entregue
agora aperfeiçoada!
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