sábado, 3 de julho de 2010

ACORDANDO, NOS BRAÇOS DO PAI

Um médico de 53 anos desafiou a todos os leitores deste artigo,a definirem a palavra SAUDADE.

Dr. Rogério Brandão, oncologista,29 anos de trabalho como médico cancerologista,homem experimentado diante do sofrimento e diante da dor.Calejado diante da morte,ficou pela primeira vez - perplexo e grandemente emocionado.

Ele escreveu assim:Posso afirmar que cresci e fui modificadocom os dramas vivenciados pelos meus pacientes.Não conhecemos nossa verdadeira dimensão até que, pegos pelaadversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além.Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco,onde dei meus primeiros passos como profissional.

Comecei a frequentar a enfermaria infantil e apaixonei-me pela oncopediatria.Vivenciei os dramas dos meus pacientes, crianças vítimas inocentes docâncer. Com o nascimento da minha primeira filha,comecei a me acovardar ao ver o sofrimento das crianças.Até o dia em que um anjo passou por mim!

Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos,calejada por dois longos anos de tratamentos diversos,manipulações, injeções e todos os desconfortos trazidospelos programas de quimioterapias e radioterapias.Mas nunca vi o pequeno anjo fraquejar.Eu a vi chorar muit as vezes; também vi medo em seus olhinhos;porém, isso é humano!

Um dia, cheguei ao hospital cedinhoe encontrei meu anjinho sozinho no quarto.Perguntei por sua mãe.A resposta que recebi naquela manhã,até hoje, não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.

- Tio,(disse-me aquele anjinho) - às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido noscorredores.. . Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muitasaudade.Mas, eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!Como médico, fiquei intrigado e perguntei ao anjo diante de mim:

- E o que morte representa para você, minha querida?- Olha tio, eu sei que sou pequenininha,mas quando eu era mais pequena ainda,às vezes eu pedia para dormir na cama do meu pai,pois tinha medo do escuro,e, no outro dia, eu acordava tranquila na minha própria camapois meu pai me levava no colo para o meu quarto.O senhor entendeu não é?(Lembrei das minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos,elas faziam exatamente assim. Iam dormir conosco em algumas noites.)

- É isso mesmo. (eu respondi ao meu anjo)

- Sabe tio, um dia eu vou dormir e eu sei,tenho certeza absoluta que o meu PAI virá me buscar.Vou acordar na casa dEle, lá no céu, e esta sim,será a minha vida verdadeira!Fiquei mudo olhando para aquela menininha. Não sabia o que dizer.

Chocado com a maturidade,que o sofrimento acelerou em sua grande vida,a fé, a visão e a espiritualidade daquela criança.- E minha mãe vai ficar com saudades. (ela concluiu).

Emocionado, contendo as lágrimas e um soluço, perguntei:

- E o que saudade significa para você, minha querida?

- Saudade é o amor que fica!

Hoje, eu estou com 53 anos de idade,e desafio qualquer um a dar uma definição melhor,mais direta e simples para a palavra saudade: é o amor que fica!Meu pequeno anjo já se foi há muito tempoe descansa nos braços do PAI,não sente mais dores e nem precisa de injeções e tratamentos,mas a sua frase ainda ecoa em meu coração:

- SAUDADE É O AMOR QUE FICA!

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