quarta-feira, 7 de julho de 2010

UM MOMENTO DE PAUSA

Quando eu era jovem, certa ocasião resolvi tentar a vida sozinho, bem longe de casa. Queria tornar-me independente de meus pais, sair do domínio e controle deles. Achava que longe poderia me divertir, viver tranquilo, sem dar satisfação a ninguém. Estando no Rio de Janeiro, arrumei um emprego bem longe de todos os meus conhecidos: Porto Alegre – RS. E como que por ironia, fui trabalhar no Estaleiro Só.

Não demorou muito para eu perceber que não conseguia viver solitário, ainda que cercado de muitas pessoas, porém, sem a influência de meus pais, irmãos, amigos, e, sobretudo, de meu Deus. Depois de casado, e com a chegada dos filhos, fui experimentando gradativamente a dor da separação. Certa feita, minha filha caçula, Vanessa, recém nascida, precisou ficar internada muitos dias no hospital. Quando a visitava, percebia a tristeza dos bracinhos estendidos das demais crianças, quando da despedida de seus pais. Ela nem sequer podia estender os braços, já que eles estavam presos com medicamentos. Mas, como era doloroso afastar-me quando ela fitava-me com seus olhinhos fundos e tristes!

Mais tarde tive que separar-me do meu filho, por algum tempo; e agora, mais recente, as sucessivas despedidas de meus queridos, filha, genro e neto, que moram distantes... Então, posso compreender perfeitamente como dói a separação de quem se ama. Ao longo de nossas vidas essas emoções vão se repetindo, seja numa comemoração festiva, seja num momento de tristeza e aflição; queremos estar com quem amamos, compartilhando nossos sentimentos. Pior ainda quando se trata de uma despedida irreversível, como no caso de morte. Como é difícil suportar a morte ou a separação irreparável de um grande amigo, ou de um grande amor!

Como nos custa entender, suportar e aceitar a fatalidade como parte da vontade de Deus! Ainda que tenhamos a compreensão da vontade soberana de Deus, esses são momentos em que os pensamentos, emoções e indagações nos confundem e nos deixam perplexos. Mas o fato é que a despedida nunca é agradável, embora seja quase sempre inevitável. Aprendemos a amar as pessoas, passamos a fazer parte de suas vidas, e elas das nossas. Nossos corações se unem. As recordações afloram em nossas mentes. E continuam indeléveis por muito tempo. Então chega o momento de dizer adeus... Quando, então, sentimos como que um nó na garganta, nos sufocando e nos dando vontade de chorar e gritar: “Onde está o Senhor, nosso Deus, “o Pai de misericórdia e Deus de toda consolação?”[1]

Apesar da parte emocional, precisamos considerar a despedida como um momento de pausa em nossa caminhada terrena. Não é a vida. Faz parte da caminhada, mas não é a caminhada. Para quem tem Jesus Cristo como o Senhor de sua vida, uma despedida aqui jamais poderá ser obstáculo ao prosseguimento da caminhada. Ao contrário, a separação deve nos proporcionar o entendimento de que precisamos trabalhar mais. Trabalhar dobrado para suprir a ausência dos que se foram.

Deus mesmo vem ao nosso encontro, nos procura em nossa miséria e abatimento. Não apenas nós sentimos a separação de Deus, Ele mesmo sente e tudo faz para quebrar as barreiras, nos reconciliando consigo mesmo através de Cristo Jesus: “Pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores de Cristo, como se Deus por nós vos exortasse. Rogamo-vos, pois, por Cristo que vos reconcilieis com Deus” (2 Co 5.19-20).

Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
[1] Conforme 2 Coríntios 1.3

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