Quando eu era  jovem, certa ocasião resolvi tentar a vida sozinho, bem  longe de casa. Queria  tornar-me  independente de meus pais, sair do domínio e controle deles. Achava que longe  poderia me divertir, viver tranquilo, sem dar satisfação a ninguém. Estando no Rio de Janeiro, arrumei um emprego bem longe de todos os meus conhecidos: Porto Alegre – RS.  E como que por ironia, fui trabalhar no Estaleiro Só.
Não demorou muito para eu perceber que não conseguia viver solitário, ainda que cercado de  muitas pessoas, porém, sem a influência de meus pais, irmãos, amigos, e, sobretudo, de meu Deus. Depois  de casado, e com a  chegada dos filhos, fui experimentando gradativamente  a dor da separação. Certa feita, minha filha caçula, Vanessa,  recém nascida,  precisou ficar internada muitos dias no hospital. Quando a visitava,  percebia  a tristeza  dos bracinhos estendidos  das demais crianças, quando da despedida de seus pais. Ela nem sequer podia  estender os braços, já que eles estavam presos com medicamentos. Mas,  como era  doloroso  afastar-me  quando ela fitava-me com seus  olhinhos fundos e  tristes!
Mais tarde tive que  separar-me do meu filho, por algum tempo; e agora, mais recente, as sucessivas despedidas de meus queridos, filha, genro e neto, que moram distantes... Então, posso  compreender  perfeitamente como dói a separação de quem se ama.  Ao longo de nossas vidas essas emoções vão se repetindo, seja numa comemoração festiva, seja num momento de tristeza e aflição; queremos estar com quem amamos, compartilhando  nossos sentimentos. Pior ainda quando se trata de uma despedida irreversível, como no caso de morte.  Como é difícil suportar a morte ou a separação  irreparável de um grande amigo, ou de um grande amor! 
Como nos custa entender, suportar e aceitar a fatalidade como parte da vontade de Deus! Ainda que tenhamos a compreensão da vontade soberana de Deus, esses são momentos em que os pensamentos, emoções e indagações nos confundem e nos deixam perplexos.  Mas o fato é que a despedida  nunca é  agradável, embora seja  quase sempre  inevitável. Aprendemos a amar as pessoas, passamos a fazer parte de suas vidas, e elas das nossas. Nossos corações se unem. As recordações afloram em nossas mentes. E continuam indeléveis por muito tempo. Então chega o momento de dizer adeus... Quando, então, sentimos como que um nó na garganta, nos sufocando e nos dando vontade de chorar e gritar: “Onde está o Senhor, nosso Deus, “o Pai de  misericórdia e Deus de toda consolação?”[1] 
Apesar da parte emocional, precisamos  considerar a despedida como um momento de pausa em nossa caminhada terrena. Não é a vida. Faz parte da caminhada, mas não é a caminhada.  Para quem  tem  Jesus Cristo como o Senhor de sua vida, uma despedida aqui jamais  poderá  ser obstáculo ao prosseguimento da caminhada. Ao contrário, a separação deve nos proporcionar o entendimento de que precisamos trabalhar mais. Trabalhar dobrado para suprir  a ausência dos que se foram.
Deus mesmo vem  ao nosso encontro, nos procura em nossa  miséria e abatimento. Não apenas nós sentimos a separação de Deus, Ele mesmo sente e tudo faz para quebrar as barreiras, nos reconciliando consigo mesmo através de Cristo Jesus:  “Pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos  homens  as suas transgressões; e nos  encarregou  da palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores de Cristo, como  se Deus por  nós  vos exortasse. Rogamo-vos, pois,  por Cristo que vos  reconcilieis  com Deus” (2 Co 5.19-20).
Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
[1]  Conforme 2 Coríntios 1.3
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