“E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe”
(João 19. 25).
O Senhor Jesus evidenciou sua perfeição na maneira com que cumpriu
plenamente as obrigações de toda relação que ele manteve, quer para com Deus,
quer para com os homens. Na cruz nós contemplamos seu terno cuidado e
solicitude para com sua mãe, e nisto temos o padrão de Jesus Cristo apresentado
a todos os filhos para que eles o imitem, ensinando-lhes como se portarem para
com os seus pais de acordo com as leis da natureza e da graça. As palavras que
o dedo divino gravou nas duas tábuas de pedra, e que foram dadas a Moisés no
Monte Sinai, nunca foram anuladas. Elas ainda estão em vigor enquanto a terra
perdurar. Cada uma delas está incorporada no ensino didático do Novo
Testamento.
As palavras de Êxodo 20.2 são reiteradas em Efésios 6.1-3: “Vós,
filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a
teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá
bem, e vivas muito tempo sobre a terra”.
O mandamento para os filhos honrarem os seus pais vai muito além de uma
mera obediência a essa vontade expressa, embora, certamente, inclua essa. Ele
envolve amor e afeição, gratidão e respeito. Com frequência se pensa que esse
quinto mandamento é dirigido aos jovens somente. Nada pode estar mais longe da
verdade. Inquestionavelmente ele se dirige a eles em primeiro lugar, pois na
ordem da natureza os filhos são sempre primeiramente jovens. Mas concluir que
tal mandamento perca força quando a infância é deixada para trás é não entender
pelo menos metade do seu significado profundo.
Como sugerido, a palavra “honra” vai além de obediência, embora essa seja
seu sentido principal. No curso do tempo os filhos crescem até alcançar a
virilidade, que é a idade de plena responsabilidade pessoal, a idade quando
eles não mais estão debaixo do controle dos seus pais, todavia, as suas
obrigações não cessaram. Eles devem aos seus pais um débito que eles nunca
podem se desobrigar plenamente. O mínimo dos mínimos que podem fazer é manter
os seus pais em alta estima, colocá-los no lugar de superioridade e
reverenciá-los. No Exemplo perfeito encontramos tanto obediência como estima
manifestadas.
O fato de que o último Adão não veio a este mundo como o primeiro Adão -
em plena posse das glórias distintivas da humanidade: totalmente desenvolvido
em corpo e mente – mas como um bebê,
tendo que passar por todo o período da infância, é um fato de tremenda
importância e valor pela luz que ele lança sobre o quinto mandamento. Durante
seus primeiros anos, o menino Jesus estava sob o controle de Maria, sua mãe, e
de José, seu pai legal. Isso é belamente demonstrado no segundo capítulo de
Lucas. Quando chegou aos doze anos,
Jesus foi levado por eles até Jerusalém para a festa da Páscoa. O retrato
apresentado é profundamente sugestivo se a devida atenção lhe for dada.
No final da festa, José e Maria partem para Nazaré, acompanhados pelos
seus amigos e supondo que Jesus estivesse com eles. Mas, pelo contrário, ele
tinha permanecido na cidade real. Após um dia de jornada sua ausência foi
descoberta. Imediatamente eles voltaram para Jerusalém, e ali o encontraram no
templo. Sua mãe o interroga assim: “Quando os pais viram o menino, também ficaram
admirados. E a sua mãe lhe disse: —Meu filho, por que foi que você fez isso
conosco? O seu pai e eu estávamos muito aflitos procurando você” (Lc 2.48).
O fato de que ela o buscara “aflita” implica fortemente que ele quase
nunca havia estado fora da esfera imediata da influência dela. Não encontrá-lo
por perto foi para ela uma nova e estranha experiência, e o fato de que ela,
assistida por José, o buscou “aflita” revela a bela relação existente entre
eles no lar em Nazaré! A resposta que Jesus deu à sua pergunta, quando
corretamente entendida, também revela a honra que tinha por sua mãe. Estamos
bem de acordo com o Dr. Campbell Morgan de que Cristo não a repreendeu aqui. Em
grande medida, trata-se de uma questão de achar a ênfase correta: “Não sabeis?”.
Como o expositor anteriormente mencionado bem o diz: “É como se ele tivesse
dito: ‘Mãe, certamente você me conhece bem o suficiente para saber que nada
pode me deter, senão os negócios do Pai”.
A sequência é igualmente bela, pois lemos “E desceu com eles, e foi para
Nazaré, e era-lhes sujeito” (Lc 2.51). E assim, por todo o tempo o Cristo de
Deus deu o exemplo para os filhos obedecerem aos seus pais. Mas há mais. Aconteceu com Cristo o mesmo que
nos sucede: os anos de obediência à Maria e José terminaram, mas não os anos de
“honra”. Nas últimas e terríveis horas de sua vida humana, no meio dos
sofrimentos infinitos da cruz, o Senhor Jesus pensou naquela que o amava e a
quem ele amava; ele pensou na sua necessidade presente e proveu para a sua
necessidade futura encomendando-a aos cuidados daquele discípulo que mais
profundamente entendeu o seu amor.
Seu pensamento em Maria naquela hora e a
honra que ele lhe deu foi uma das manifestações de sua vitória sobre a dor.
Talvez se requeira uma palavra com relação à forma com que nosso Senhor se
dirige à sua mãe – “Mulher”. Até onde os
registros dos quatro evangelhos vão, nunca ele a chamou de sua “Mãe”. Para nós
que vivemos hoje, a razão para isso não é difícil de ser discernida. Olhando
para os séculos vindouros com previsão onisciente, e vendo o horrível sistema
de Mariolatria tão logo sendo erigido, ele se refreou de usar uma palavra que
de alguma forma sustentasse essa idolatria –
a idolatria de prestar à Maria a veneração que só a seu Filho é devida;
a idolatria de adorá-la como sendo “A Mãe de Deus”.
Por duas vezes nos registros dos evangelhos, encontramos sim nosso Senhor
se dirigindo a Maria como “Mulher”, e é mais digno de nota que ambas se
encontram no de João, o qual, como bem sabido, apresenta a deidade de nosso
Salvador. Os sinóticos o expõe em suas relações humanas; tal não se dá com o
quarto evangelho. O de João apresenta Cristo como o Filho de Deus, e como tal,
acima de todas as relações humanas, e daí a perfeita consonância de mostrar o
Senhor Jesus aqui se dirigindo a Maria como “Mulher”. O ato de nosso Senhor na
cruz, encomendando-a aos cuidados de seu amado apóstolo, é mais bem entendido à
luz da viuvez de sua mãe. Ainda que os evangelhos não registrem especificamente
a sua morte, há poucas dúvidas de que José morrera antes do tempo em que o
Senhor Jesus começou seu ministério público.
Nada é informado sobre o marido dela após o incidente relatado em Lucas 2,
quando Jesus era um menino de doze anos. Em João 2 Maria é vista nas bodas de
Caná, mas não se fala nada sobre se José estava presente. Foi em vista da
viuvez de Maria, portanto, e também do fato de que o tempo agora chegara,
quando não mais seria um conforto para ela com sua presença corporal, que seu
amoroso cuidado é manifestado. Permita-me apenas uma breve palavra de
exortação. Provavelmente tais linhas poderão ser lidas por várias pessoas
adultas que ainda têm pais e mães vivos. Como você está tratando deles? Está
verdadeiramente “honrando-os”?
Esse exemplo de Cristo na cruz não o deixa envergonhado? Pode ser que você
seja jovem e vigoroso, e seus pais, de cabelos grisalhos e doentes; mas diz o
Espírito Santo: “não desprezes a tua mãe, quando vier a envelhecer” (Pv 23.22).
Pode ser que você seja rico, e eles, pobres; então não deixe de prover por
eles. Pode ser que eles vivam em um estado ou uma terra distante, então não
seja negligente, deixando de escrever-lhes palavras de apreço e alegria que
darão brilho ao término de seus dias. São obrigações sagradas: “Honra a teu pai
e a tua mãe”.
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