“Tenho
sede”
Todos sabemos que as provações internas da alma reagem no corpo,
destruindo os nervos e afetando o vigor — “O espírito abatido virá a secar os
ossos” (Pv 17.22); “Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu
bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o
meu humor se tornou em sequidão de estio” (Sl 32.3,4).
O corpo e
a alma são solidários um com o outro. Lembremo-nos de que o Salvador havia
acabado de emergir das três horas de trevas, durante as quais a face de Deus
havia se retirado dele enquanto sofria a fúria de sua ira derramada. Esse grito
de sofrimento do corpo diz-nos, então, da severidade do conflito espiritual que
ele tinha acabado de passar! Falando com antecedência pela boca de Jeremias
dessa hora mesma, ele disse:
“Não vos comove isto a todos vós que passais pelo
caminho? atendei, e vede, se há dor como a minha dor, que veio sobre mim, com
que me entristeceu o Senhor, no dia do furor da sua ira. Desde o alto enviou
fogo a meus ossos, o qual se assenhoreou deles; estendeu uma rede aos meus pés,
fez-me voltar para trás, fez-me assolada e enferma todo o dia” (Lm 1.12,13).
Sua “sede” foi o efeito da agonia de sua alma no feroz calor da ira divina.
Falava da seca da terra onde o Deus vivo não está.
Mais
ainda: claramente expressava seu anelo por comunhão novamente com ele, de quem
ficara separado por três horas. Não foi o próprio Cristo quem disse, pelo
espírito de profecia, e o faz agora, assim que emergiu das trevas: “Como o
cervo brama pelas correntes de águas, assim suspira a minha alma por ti, ó
Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando entrarei e me
apresentarei ante a face de Deus?” Não identificam as palavras seguintes quem
fala e não revelam elas o tempo em que aquele anelo e “suspiro” foram
expressos? “As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite,
porquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?” (Sl 42.1-3).
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