quinta-feira, 28 de março de 2013

OS SETE BRADOS DO SALVADOR SOBRE A CRUZ – ARTHUR W PINK (41)


“Tenho sede”

2. Vemos aqui a intensidade dos sofrimentos de Cristo.

Vamos primeiro considerar esse brado do Salvador como uma expressão de seu sofrimento corporal. Para perceber algo do que há por trás de tais palavras devemos relembrar e rever o que as precede. Após instituir a Ceia no cenáculo, seguida pelo longo discurso pascal a seus apóstolos, o Redentor transferiu-se para o Getsêmane e ali, por uma hora, passou pela mais excruciante agonia. Sua alma estava extremamente triste. Enquanto ele contemplava o terrível cálice dele escorria, não suor, mas grandes gotas de sangue.

 
Sua luta no Jardim foi finda com o aparecimento do traidor acompanhado pelo bando que viera prendê-lo. Ele foi trazido perante Caifás e, ainda que fosse metade da noite, foi examinado e condenado. O Salvador foi retido até de manhã cedo, e após as fatigantes horas de espera haverem terminado, foi levado para diante de Pilatos. Seguindo um longo julgamento, ordens foram dadas para que se o açoitassem. Em seguida, foi conduzido, talvez atravessando direto pela cidade, à corte de julgamento de Herodes e, depois de uma breve aparição perante esse prelado romano, foi entregue às mãos dos brutais soldados. Novamente foi ele escarnecido e chicoteado, e outra vez foi levado através da cidade, de volta a Pilatos.

 
Mais uma vez houve a enfadonha demora, as formalidades de um julgamento, se é que uma tal farsa seja merecedora desse nome, seguida pela sentença de morte dada. Então, com as costas sangrando, carregando sua cruz sob o calor do sol do já quase meio-dia, ele caminhou até às escarpadas alturas do Gólgota. Atingindo o lugar designado da execução, suas mãos e pés foram pregados ao madeiro. Por três horas ele ficou ali pendurado com os inclementes raios solares incidindo sobre sua cabeça coroada de espinhos. Isso foi seguido pelas três horas de trevas que agora o cobria. 

 
Aquela noite e aquele dia foram horas nas quais uma eternidade foi condensada. Todavia, durante toda ela, nem uma só palavra de murmuração passou em seus lábios. Não havia queixa alguma, nenhum rogo por misericórdia. Todos os seus sofrimentos foram suportados em augusto silêncio. Como uma ovelha muda perante seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca.[1] Mas agora, no fim, seu corpo arruinado, dorido, sua boca ressecada, ele clama, “Tenho sede”. Não foi um apelo por compaixão, nem um pedido pela mitigação de seus sofrimentos; ele expressou a intensidade das agonias por que estava passando.

pastorvanderleifaria@yahoo.com.br



[1] Nota do tradutor: Isaías 53.7.

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