“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
A maldição é desterro da
presença e glória divinas. Isso explica
o sentido de vários tipos do Antigo Testamento. O boi que era morto anualmente
no Dia da Expiação, após seu sangue ter sido espargido sobre e diante do
propiciatório, era removido para um lugar “fora (exterior) do arraial” (Lv
16.27) e ali seu cadáver era queimado por inteiro. Era no centro do acampamento
que Deus tinha sua residência, e a exclusão do acampamento significava
banimento de sua presença. Assim também com o leproso. “Todos os dias em que a
praga estiver nele, será imundo; imundo está, habitará só; a sua habitação será
fora do arraial” (Lv 13.46) — isso porque aquele era o tipo encarnado do
pecador. Aqui, ainda, está o antítipo da “serpente de bronze”.
Por que Deus instruiu Moisés a colocar uma
“serpente” sobre uma haste, e ordenou aos israelitas mordidos para olhar para
ela? [1] Imagine
uma serpente como tipo de Cristo, o Santo de Deus! Sim, mas ela representava-o
como “[feito] maldição por nós”, pois a serpente era a lembrança da maldição.
Na cruz, então, Cristo estava cumprindo esses símbolos do Antigo Testamento.
Ele estava “fora do arraial” (compare Hebreus 13.12) — separado da presença de
Deus. Ele era o “leproso” — feito pecado por nós. Ele era como a “serpente de
bronze” — feito maldição por nós. Daí, também, o profundo significado da coroa
de espinhos — o símbolo da maldição! Levantado, coroado de espinhos, para
mostrar que estava levando a maldição em nosso lugar.
Aqui, também, está a significação das três horas de
trevas que cobriram a terra como uma mortalha de morte. Era uma escuridão
sobrenatural. Não era noite, pois o sol estava em seu zênite. Como bem o disse
o Sr. Spurgeon, “Fez-se meia noite ao meio dia”. Não foi eclipse algum. Os
astrônomos competentes nos dizem que ao tempo da crucificação a lua estava à
sua maior distância do sol. Mas esse brado de Cristo dá o sentido das trevas,
enquanto que essas nos dão o significado daquele amargo brado. Somente uma
coisa pode explicar tal escuridão, visto que uma coisa apenas pode interpretar
tal clamor — que Cristo havia tomado o lugar dos culpados e perdidos, que ele
se pôs no lugar para levar os pecados, que ele estava sofrendo o julgamento
devido por seu povo, que ele que não conheceu pecado “[Deus] o fez pecado” por
nós.
Aquele brado foi proferido para que a nós fosse concedido saber do que se
passava ali. Era a manifestação da expiação, por assim dizer, pois três (três
horas) é sempre o número de manifestação. Deus é luz e as “trevas” é o sinal
natural de sua repulsa. O Redentor foi deixado sozinho com o pecado do pecador:
tal era a explicação das três horas de escuridão. Assim como repousará sobre o
condenado eternamente uma dupla miséria no lago de fogo, a saber, a dor do
sentido e a dor da perda; do mesmo modo, Cristo, em correspondência, sofreu a
ira de Deus derramada sobre si e também o afastamento de sua presença e
comunhão.
Para o crente a cruz é interpretada em Gálatas
2.20: “Estou crucificado com Cristo”. Ele foi o meu substituto; Deus
considera-me um com o Salvador. Sua morte foi a minha. Ele foi ferido por
minhas transgressões e ferido por minhas iniquidades. O pecado não foi
afastado, mas descartado. Como disse alguém: “Porque Deus julgou o pecado sobre
o Filho, ele agora aceita o pecador crente no Filho”. Nossa vida está escondida
com Cristo em Deus (Cl 3.3).
Eu estou encerrado em Cristo porque Cristo foi
excluído de Deus. Ele sofreu em nosso lugar, ele salvou seu povo assim; A
maldição que caiu sobre sua cabeça, era por direito devida por nós. A
tempestade que curvou sua bendita cabeça, é apaziguada para sempre agora E o
descanso divino é meu no lugar, enquanto ele está coroado de glória.[2] Aqui então está a base da nossa salvação.
Nossos pecados foram levados.
As reivindicações divinas contra nós foram
plenamente satisfeitas. Cristo foi desamparado por Deus por um tempo para que
pudéssemos desfrutar da sua presença para sempre. “Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste?” Que toda alma crente dê a resposta: ele adentrou as terríveis
trevas para que eu pudesse andar na luz; ele bebeu o cálice de angústia para
que eu pudesse beber o cálice de gozo; ele foi abandonado para que eu pudesse
ser perdoado!
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
[1] Nota do
tradutor: Números 21.8.
[2] Nota do tradutor: Trecho de um hino. No original: He suffered
in our stead, he saved his people thus;/The curse that fell upon his head, was
due by right to us./The storm that bowed his blessed head, is hushed for ever
now/And rest Divine is mine instead, while glory crowns his brow.
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