quinta-feira, 21 de março de 2013

OS SETE BRADOS DO SALVADOR SOBRE A CRUZ – ARTHUR W PINK (34)


 
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

4. Aqui vemos a inabalável fidelidade a Deus do Salvador.

O abandono do Redentor por Deus era um fato solene, e uma experiência que nada lhe deixava senão apoiar-se em sua fé. A posição de nosso Salvador na cruz foi absolutamente singular. Isso pode ser prontamente visto ao se contrastar suas próprias palavras faladas durante seu ministério público com aquelas proferidas na própria cruz. Antes dizia ele: “Eu bem sei que sempre me ouves” (Jo 11.42); agora ele clama, “Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves” (Sl 22.2)! Antes dizia ele: “E aquele que me enviou está comigo; o Pai não me tem deixado só” (Jo 8.29); agora ele clama, “Deus meu, Deus meu, por que me DESAMPARASTE?” Ele não tinha absolutamente nada agora em que descansar senão o pacto e a promessa de seu Pai; e em seu clamor de angústia, sua fé se torna manifesta. Foi um brado de aflição, mas não de desconfiança.  Deus havia se retirado dele, mas note como sua alma ainda se apega a ele. Sua fé triunfou segurando-se em Deus mesmo em meio às trevas. “Deus meu”, diz, “Deus meu”, tu com quem está a infinita e perpétua força; tu que apoiaste até aqui minha humanidade e, conforme tua promessa, sustentaste teu servo — Ó, não fiques longe de mim agora. Deus meu, eu me apóio em ti. Quando todos os confortos visíveis e sensíveis haviam desaparecido, da invisível proteção e refúgio de sua fé o Salvador se vale. No salmo de número vinte e dois a inabalável fidelidade do Salvador a Deus fica mais aparente. Nesse precioso texto fala-se das profundezas de seu coração. Ouça-o:  “Em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste. A ti clamaram e escaparam; em ti confiaram, e não foram confundidos. Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que me vêem zombam de mim, estendem os beiços e meneiam a cabeça, dizendo: Confiou no Senhor, que o livre; livre-o, pois nele tem prazer. Mas tu és o que me tiraste do ventre, o que me preservaste estando ainda aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe” (Sl 22.4-10).

O próprio ponto em que seus inimigos procuraram levantar contra ele foi a sua fé em Deus. Escarneceram dele por sua confiança em Jeová — se ele realmente confiava no Senhor, o Senhor livrá-lo-ia. Porém, o Salvador continuava confiando ainda que não houvesse livramento algum, confiava ainda que desamparado por um período! Foi lançado sobre Deus desde o ventre e ainda é lançado sobre ele na hora de sua morte. Ele prossegue: “Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude. Muitos touros me cercaram; fortes touros de Basã me rodearam. Abriram contra mim suas bocas, como um leão que despedaça e que ruge. Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas. A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar, e me puseste no pó da morte. Pois me rodearam cães; o ajuntamento dos malfeitores me cercou, transpassaram-se as minhas mãos e os pés. Poderia contar todos os meus ossos; eles vêem e me contemplam. Repartem entre si os meus vestidos, e lançam sortes sobre a minha túnica. Mas tu, Senhor, não te alongues de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me. Livra a minha alma da espada, e a minha predileta da força do cão” (Sl 22.11-20).

Jó tinha dito de Deus “Ainda que ele me mate, nele esperarei” e, embora a ira divina contra o pecado repousasse sobre Cristo, ele ainda confiava. Sim, sua fé fez mais do que confiar, ela triunfou — “Salva-me da boca do leão, sim, ouve-me, desde as pontas dos unicórnios” (Sl 22.21). Ó, que exemplo o Salvador deixou para o seu povo! É relativamente fácil confiar em Deus quando brilha o sol, o teste chega quando tudo está em escuridão. Mas uma fé que não confia em Deus na adversidade tanto quanto na prosperidade não é a fé dos seus eleitos. Devemos ter fé para vivermos — fé de verdade — se a tivermos para por ela morrer. O Salvador fora lançado sobre Deus desde a madre, fora lançado sobre Deus momento a momento durante todos aqueles trinta e três anos, o que não é de se maravilhar, então, que na hora da morte seja encontrado ainda lançado sobre Deus. Seus companheiros cristãos podem estar tristes contigo, podes não mais contemplar a luz da face divina. A Providência parece olhar com desdém para ti, entretanto, ainda dizes, Eli, Eli, Deus meu, Deus meu.

pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

 

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