A FÉ SALVÍFICA
A fé evangélica é uma fé confiante. A
fé salvífica é mais que uma opinião correta ou uma linha de raciocínio. A fé
salvífica transcende a toda razão. Veja o ladrão agonizante! Era razoável que
Cristo o notasse? Um assaltante crucificado, um criminoso confesso, alguém que
há poucos minutos atrás o estivera insultando! Era razoável que o Salvador
devesse reparar de qualquer forma nele? Era razoável esperar que ele fosse ser
transportado da beira do inferno mesmo para o Paraíso?
Ah, meu leitor, a cabeça raciocina,
mas o coração não. E a petição desse homem veio do coração. Ele não tinha como
usar suas mãos e pés (e não eram eles necessários à salvação: antes, a
impediam), mas tinha o uso de seu coração e língua. Esses estavam livres para
crer e confessar: “Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca
se faz confissão para a salvação” (Rm 10.10).
Podemos reparar também que a sua fé era uma fé humilde. Ele orou com
conveniente modéstia. Não foi “Senhor, honra-me”, nem “Senhor, exalta-me”, mas
Senhor, se tu quiseres, pense em mim! Se tu somente contemplasses a mim —
“Senhor, lembra-te de mim”.
E, todavia, aquela palavra “lembra-te”
era maravilhosamente perfeita e apropriada. Ele poderia ter dito: Perdoa-me,
Salva-me, Abençoa-me; mas “lembra-te” incluía todas essas. Um interesse no
coração de Cristo incluirá um interesse em todos os seus benefícios! Além
disso, tal palavra era bem adequada à condição de quem a expressou. Ele foi um
proscrito da sociedade — quem se lembraria dele! O público não pensaria mais
nada a respeito dele. Seus amigos ficariam contentes por esquecer dele por
haver desgraçado sua família. Mas há um a quem ele ousa confiar essa petição —
“Senhor, lembra-te de mim”.
Finalmente, podemos notar que a sua fé
era uma fé corajosa. Talvez não pareça à primeira vista, mas uma pequena
consideração tornará isso claro. Aquele que estava pendurado na cruz do centro
era um de quem todos viravam a cara para não olhar e para quem toda a vil
zombaria de uma turba vulgar era direcionada. Toda facção daquele povo se
juntou para escarnecer do Salvador. Mateus nos diz que “os que passavam
blasfemavam dele” e que “da mesma maneira também os príncipes dos sacerdotes,
com os escribas, e anciãos”. Enquanto Lucas nos informa que “também os soldados
o escarneciam” (23.36). Portanto, é fácil entender por que os ladrões também se
juntaram ao alarido de sarcasmos. Não há dúvidas de que os sacerdotes e
escribas sorrissem benignamente sobre eles enquanto assim agiam.
Mas, subitamente, houve uma mudança. O
ladrão penitente, em vez de continuar a troçar e ridicularizar Cristo, volta-se
para o seu companheiro e abertamente o censura, nos ouvidos dos espectadores
ajuntados em redor das cruzes, clamando: “este nenhum mal fez”. Desse modo, ele
condenou toda a nação judaica! Mais ainda; não somente testemunhou da inocência
de Cristo, mas também confessou o reinado dele. E assim, de um só golpe, ele se
retira do favor de seu companheiro e da multidão também!
Falamos hoje da
coragem necessária para abertamente testemunhar de Cristo, mas tal coragem
nesses dias se desbota em expressa insignificância perante àquela mostrada
naquele dia pelo ladrão agonizante.
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