segunda-feira, 18 de março de 2013

OS SETE BRADOS DO SALVADOR SOBRE A CRUZ – ARTHUR W PINK (31)


 

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

1. Aqui vemos a enormidade do pecado e o caráter de seu salário.

O Senhor Jesus foi crucificado ao meio dia, e na luz do Calvário tudo foi revelado em seu verdadeiro caráter. Ali, a própria natureza das coisas foi plena e finalmente exibida. A depravação do coração humano — seu ódio por Deus, sua ingratidão abjeta, seu amor às trevas no lugar da luz, sua preferência por um assassino no lugar do Príncipe da vida — foi horrivelmente mostrada. O terrível caráter do diabo — sua hostilidade contra Deus, sua insaciável inimizade contra Cristo, seu poder de pôr no coração do homem a traição ao Salvador — foi plenamente exposta. Assim, também, as perfeições da natureza divina — a inefável santidade de Deus, sua justiça inflexível, sua ira terrível, sua graça sem par — foi de todo conhecida. E ali também foi que o pecado — sua vileza, sua torpeza, sua não sujeição a leis — foi claramente exibido.

Aqui nós vemos a horrenda extensão a que o pecado chegará. Em sua primeira manifestação ele tomou a forma de suicídio, pois Adão destruiu sua própria vida espiritual; em seguida o vemos em forma de fratricídio — Caim matando seu próprio irmão; mas na cruz o clímax é atingido, com o deicídio — o homem crucificando o Filho de Deus.  Porém, não apenas vemos a hediondez do pecado na cruz, mas ali também descobrimos o caráter de seu horrível pecado. “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).
 
A morte é a herança do pecado. “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). Não houvesse pecado nenhum, não haveria morte alguma. Mas o que é “morte”? É aquele pavoroso silêncio que reina supremo após se dar o último fôlego e o corpo ficar sem movimentos? É aquela cadavérica palidez que vem sobre a face quando o sangue cessa de circular e os olhos ficam sem expressão? Sim, é isso, mas muito mais. Algo de longe mais patético e trágico do que a dissolução física está contido no termo.

O salário do pecado é a morte espiritual. O pecado separa de Deus, que é a fonte de toda vida. Isso foi manifestado no Éden. Antes da Queda, Adão desfrutava de bendita companhia com seu Criador, mas na própria véspera daquele dia que marcou a entrada do pecado em nosso mundo, enquanto o Senhor Deus entrava no Jardim e sua voz era ouvida por nossos primeiros pais, o par culpado escondeu-se entre as árvores do lugar. Não mais poderiam eles gozar de comunhão com ele que é sempre Luz, antes, ficaram alienados dele. Assim, também, se deu com Caim: quando interrogado pelo Senhor ele disse: “Da tua face me esconderei” (Gn 4.14).
 
O pecado exclui da presença de Deus. Essa foi a grande lição ensinada a Israel. O trono de Jeová estava no meio deles, todavia não era mais acessível. Ele habitava entre os querubins no santo dos santos e a esse ninguém poderia chegar, com exceção do sumo sacerdote, e ele, apenas um dia por ano, levando sangue consigo. O véu pendurado tanto no tabernáculo quanto no templo, vedando o acesso ao trono divino, testemunhava o solene fato de que o pecado separa dele.

O salário do pecado é a morte, não somente física, mas espiritual; não meramente natural mas, essencialmente, morte penal. O que é morte física? É a separação da alma e do espírito do corpo. Assim, a morte penal é a separação da alma e do espírito de Deus. A palavra da verdade fala daquela que vive em prazer como “embora viva, está morta” (1Tm 5.6, ARA). Repare, ainda, como a maravilhosa parábola do filho pródigo ilustra a força do termo “morte”.

Após o retorno do pródigo o pai disse: “Este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado” (Lc 15.24). Enquanto ele estava na “terra longínqua”, não havia cessado de existir; não, ele não estava morto fisicamente, mas espiritualmente — estava alienado e separado de seu pai! Agora, na cruz, o Senhor Jesus estava recebendo o salário que era devido por seu povo. Ele não tinha pecado algum que fosse seu, pois era o Santo de Deus. Mas estava levando nossos pecados em seu próprio corpo no madeiro (1Pd 2.24).
 
Ele tinha tomado o nosso lugar e estava padecendo o Justo pelo injusto. Ele estava carregando o castigo que nos traz a paz [1]; e o salário de nossos pecados, o sofrimento e castigo que era devido a nós, era “morte”. Não meramente física, mas penal; e, como dissemos, isso significava separação de Deus, e daí o Salvador ter clamado: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Assim, também, será com aquele que for impenitente até o fim. O pavoroso destino que aguarda o perdido é, dessa forma, exposto: “os quais sofrerão, como castigo, a perdição eterna, banidos da face do senhor e da glória do seu poder” (2Ts 1.9, ARA).

Separação eterna daquele que é a fonte de todo bem e a origem de toda bênção. Ao ímpio, Cristo dirá: “Apartai-vos de mim, malditos” [2] — banimento de sua presença, um eterno exílio de Deus, é o que espera o condenado eternamente. Essa é a razão por que o Lago de Fogo — a eterna morada daqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida — é designada “A Segunda Morte” (Ap 20.14). Não que haverá extinção do ser, mas separação eterna do Senhor da Vida, uma separação a qual Cristo sofreu por três horas enquanto estava pendurado no lugar do pecador. Na cruz, então, Cristo recebeu o salário do pecado.

pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

 



[1] Nota do tradutor: Isaías 53.5.
[2] Nota do tradutor: Mateus 26.41.

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