quarta-feira, 20 de março de 2013

OS SETE BRADOS DO SALVADOR SOBRE A CRUZ – ARTHUR W PINK (33)


 

 

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

3. Vemos aqui a explicação do Getsêmane.

À medida que nosso bendito Senhor se aproximava da cruz o horizonte para ele se escurecia mais e mais. Desde a mais tenra infância ele havia sofrido por causa do homem; desde o princípio de seu ministério público ele havia sofrido por causa de Satanás; porém, na cruz ele devia sofrer na mão de Deus. O próprio Jeová devia ferir o Salvador, e era isso que obscurecia tudo o mais. No Getsêmane ele adentrou na escuridão das três horas de trevas na cruz. Eis o porquê de ele deixar os três discípulos nas imediações do jardim, pois ele devia pisar o lagar sozinho. “A minha alma está profundamente triste” [1], ele clamou. Isso não era recuar, horrorizado, antecipando uma morte cruel. Não era o pensamento da traição por seu próprio amigo com quem estava familiarizado, nem da deserção por seus estimados discípulos na hora da crise, nem da expectativa das zombarias e ultrajes, dos açoites e dos pregos, que oprimia sua alma. Não, toda essa angústia da mais severa ao seu espírito sensível, nada era se comparada com a que ele teve de suportar como Portador do Pecado.

“Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmane, e disse aos seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar. E levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até à morte; ficai aqui, e velai comigo. E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Mt 26.36-39).  Aqui ele observa as negras nuvens surgindo, vê a terrível tempestade chegando, ele premeditava o inexprimível horror daquelas três horas de trevas e tudo o que elas continham. “A minha alma está profundamente triste”, ele clama. O grego é mais enfático. Ele estava cercado de tristeza. Ele estava completamente imerso na ira divina. Todas as faculdades e poderes de sua alma estavam esmagados pela angústia. S. Marcos emprega uma outra forma de expressão — “Ele começou a ficar extremamente atônito” (14.33, KJV).

O original traz o significado de a maior extremidade do pavor, como a que faz com que alguém ficar de cabelo em pé e o corpo arrepiado. E, acrescenta Marcos, “e a ficar muito triste”, o que denota que havia um total abatimento de espírito; seu coração estava derretido como cera à vista do terrível cálice.  Mas o evangelista Lucas, dentre todos, é o que usa os termos mais fortes: “E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até o chão” (Lc 22.44).

A palavra grega para “agonia” aqui, quer dizer estar envolvido em um combate. Antes, ele combatera as oposições dos homens e as do diabo, mas agora ele encara o cálice que Deus lhe dá a beber. Era o que continha a ira não diluída do ódio divino para com o pecado. Isso explica o porquê dele dizer: “Se queres, passa de mim este cálice”. O “cálice” é o símbolo de comunhão, e não poderia haver comunhão alguma em sua ira, mas somente em seu amor.[2] Entretanto, ainda que isso significasse ser cortado daquela, ele adiciona: “Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua”. Todavia, tão grande foi sua agonia que “seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até o chão”.

Pensamos que não pode haver a menor dúvida de que o Salvador verteu gotas de sangue de verdade. Seria diminuir aí o significado dizer que seu suor parecia sangue, mas não o era realmente. Parece-nos que a ênfase está posta na palavra “sangue”. Ele verteu sangue — exatamente como grandes gotas de água comumente. E vemos aqui a adequação do lugar escolhido para ser a cena desse terrível mas preliminar sofrimento. Getsêmane — ah, teu nome te denuncia! Tem o sentido de prensa de azeite. Era o lugar onde o sangue vital das olivas era extraído por pressão gota a gota! O lugar escolhido foi bem nomeado, pois. Era de fato um apropriado escabelo para a cruz, um escabelo de agonia inexprimível e sem paralelos. Na cruz, então, Cristo tomou todo o cálice que lhe foi apresentado no Getsêmane.

pastorvanderleifaria@yahoo.com.br



[1] Nota do tradutor: Mc 14.34.
[2] Nota do tradutor: Comparar com Salmo 116.12,13.

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