sábado, 16 de março de 2013

OS SETE BRADOS DO SALVADOR SOBRE A CRUZ – ARTHUR W PINK (29)


A PALAVRA DE ANGÚSTIA


 

 “E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lama sabactani; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27.46).

 

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

 ESSAS SÃO PALAVRAS DE CHOCANTE IMPORTÂNCIA.

 A crucificação do Senhor da glória foi o mais extraordinário evento que já aconteceu na terra, e esse brado do padecente foi a mais extraordinária expressão daquela aterradora cena. Que um inocente fosse condenado, que o sem culpa fosse perseguido, que um benfeitor fosse cruelmente sentenciado à morte, não era nenhum acontecimento novo na história.
 
Do assassínio do justo Abel àquele de Zacarias houve uma longa lista de martírios. Mas aquele que pendurado estava na cruz do centro não era nenhum homem comum, era o Filho do Homem, aquele no qual todas as excelências se encontravam — o Perfeito. Seu caráter era como sua túnica, “tecida toda de alto a baixo, [e] não tinha costura”.[1]

 No caso dos outros maltratados havia deméritos e manchas que poderiam proporcionar aos seus assassinos algo com que culpá-los. Mas desse o juiz falou: “Não acho nele crime algum”.[2]  E mais. Esse Sofredor não era apenas um homem perfeito, mas o Filho de Deus. Todavia, não era estranho que o homem quisesse destruir Deus. “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus” (Sl 14.1), tal é o seu desejo. Mas é estranho que aquele que era Deus manifestado na carne devesse permitir a si mesmo ser assim tratado por seus inimigos. É extremamente estranho que o Pai que se deleitava nele, cuja própria voz declarara dos céus abertos, “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”, devesse entregá-lo a uma morte tão vexaminosa. 
 
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”  Essas são palavras de estarrecedora miséria. A própria palavra “desamparaste” é uma das mais trágicas em todas as línguas humanas. O escritor jamais se esquecerá da sensação que teve ao passar uma vez por uma cidade deserta, sem habitante algum — uma cidade desamparada. Que calamidades são conjuradas por tal palavra — um homem desamparado de seus amigos, uma esposa desamparada de seu marido, uma criança desamparada por seus pais! Mas uma criatura desamparada por seu Criador, um homem desamparado de Deus — Ó, isso é o mais horrendo de tudo.
 
Esse é o mal dos males. Isso é a calamidade climatérica. Verdade, os homens caídos, em sua condição não renovada, não o acham. Mas aquele que, pelo menos em certa medida, aprendeu que Deus é a essência de toda perfeição, a fonte e a meta de toda excelência, cujo clamor é “Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!” (Sl 42.1), prontamente endossará o que acaba de ser dito. O clamor dos santos em todas as eras tem sido, “Não nos desampare, ó Deus”.[3] Pois o Senhor esconder sua face de nós por um momento que seja é insuportável. 
 
Se isso é verdade quanto aos pecadores regenerados, quão infinitamente mais o é quanto ao Filho amado do Pai!  Aquele que estava pendurado no madeiro maldito tinha sido desde toda eternidade  o objeto do amor do Pai. Empregando a linguagem de Provérbios 8, o Salvador padecente era aquele que “estava com ele e era seu aluno”, que estava “cada dia as suas delícias”. Seu próprio gozo fora contemplar a face do Pai. A presença do Pai fora seu lar, o seio do Pai o lugar de sua habitação, a glória do Pai ele compartilhara antes que houvesse o mundo.
 
Durante os trinta e três anos que o Filho estivera na terra ele desfrutara de comunhão ininterrupta com o Pai. Nunca um pensamento que estivesse fora da harmonia com a mente do Pai, nunca uma volição que não fosse originária da vontade do Pai, nunca um momento que fosse passado fora de sua presença consciente. O que então deve ter significado estar por ora “desamparado” por Deus! Ah, o ocultamento da face divina dele foi o mais amargo ingrediente daquele copo que o Pai tinha dado ao Redentor para beber.

 

pastorvanderleifaria@yahoo.com.br



[1] Nota do tradutor: João 19.23.
[2] Nota do tradutor: João 18.38.
[3] Nota do tradutor: Citação livre de 1Reis 8.57.

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