domingo, 22 de março de 2009

TRANSFORMANDO LÁGRIMAS EM ALEGRIA

‘À partir do meu aborto, nasceu um ministério para mães solteiras’.
Meu marido Bill e eu já estávamos realizados profissionalmente, mas ainda assim ansiávamos por algo mais profundo em nossa vida pessoal: queríamos ser pais. Quando engravidei em dezembro de 1983, foi como um milagre de Natal. Alguns meses depois, sem qualquer aviso, senti fortes dores. “Estou grávida de apenas cinco meses! Não posso estar em trabalho de parto!”, pensei.

Bill me levou ao hospital, mas era tarde demais. Nossa filha já havia morrido. A morte de nosso bebê provocou uma ferida profunda em minha alma. Meus braços sentiam as dores de não poder segurar a filha que havíamos perdido. Após voltarmos do hospital, Bill e eu nos sentamos calados em nossa sala de estar, tentando administrar nossa perda. Um pensamento que havia ouvido em um sermão anos atrás me veio à mente: “A não ser que haja Sexta-Feira da Paixão, nunca haverá domingo de Páscoa.” Aquelas palavras ganharam novo significado para mim. “Bill, se eu sinto tanta dor na alma causada pelo meu aborto, como será a angústia e a dor de uma mãe que comete um aborto sentindo que esta é sua única opção?”, perguntei.

Conforme os dias passavam, meus pensamentos se voltavam incessantemente para mulheres que abortam seus bebês. E quando eu orava, sentia que deveria fazer algo para ajudá-las. Aos poucos, a partir da perda de nossa filha, a Nurturing Network nasceu. Eu já estava realizada profissionalmente e sabia como planejar estratégias, sabia que precisava descobrir quais mulheres optavam pelo aborto e quais eram suas razões.

As respostas que obtive me tiraram de minha zona de conforto. Nos Estados Unidos, de 1,6 milhões de abortos realizados anualmente, de 70 a 75% são feitos por mulheres a partir dos 20 anos de idade (dados do Center for Disease Control e Alan Guttmacher Institute). A maioria dessas mulheres pertence à classe média. Muitas são universitárias ou estão em seu primeiro emprego. Como jovens profissionais, foram instruídas a não continuar com a gravidez não-planejada, pois “há muito a perder” levando uma gravidez adiante.

Nossa sociedade sofisticada parece não perceber que profissionais e universitárias têm crises na gravidez. E se isso acontecer, espera-se que saibam lidar com elas. Mas a bancária sofre tanto quanto uma colegial. Na verdade, a gravidez para mães solteiras pode ser especialmente difícil para mulheres do mundo dos negócios. Muitas vezes elas perdem a credibilidade e são julgadas pelos colegas como irresponsáveis e ingênuas.

Nossa sociedade diz que estudantes universitárias também deveriam “ser mais espertas”. Nos meses seguintes, meu desafio especial foi responder a estas necessidades. Meu primeiro passo foi fazer uma pesquisa informal. Entrei em contato com dez clínicas de aborto em todo o país e pedi que meu telefone fosse repassado para mulheres que estivessem dispostas a discutir suas experiências de forma anônima. Recebi telefonemas de mais de cem mulheres. Perguntei a elas: “Se você tivesse acesso ao auxílio prático necessário quando engravidou, você optaria por ter a criança?” A resposta que obtive foi um sonoro “Sim!”.

Então perguntei o que seria auxílio “prático” para estas mulheres em crise. Descobri que significava uma rápida transferência de universidade, uma discreta recolocação profissional ou um local de apoio para viver durante a gravidez, onde se sentissem seguras para compartilhar seus problemas.

A maioria destas mulheres gostaria de obter apoio de alguém que compreendesse seus medos e sua solidão. Mencionaram a importância de manter suas responsabilidades profissionais e de pagarem suas contas em dia. Questionei a respeito dos pais dessas crianças que nem sequer chegaram a nascer. Será que poderiam contar com eles? Que apoio às famílias destas mulheres poderia providenciar? O mesmo discurso triste ecoou através das histórias. Homens que eram muito importantes em suas vidas as deixaram para trás. Pais envergonhados rejeitaram suas filhas ou nunca souberam do aborto.

Um tema emergiu claramente: uma mulher nesta situação não tem a experiência da “liberdade de escolha”. Vergonha e dor a levam em direção ao aborto partindo do desespero, pois acredita não ter outra escolha. Quanto mais eu orava sobre o assunto, mais determinada ficava em transformar minha tragédia em bênção para outras mães.

Como cristã, precisava fazer a pergunta essencial: “O que Cristo faria nesta situação?” Se ele estava disposto a curar, vestir, alimentar, então eu deveria fazer isso também. Com isto em mente, achei que o Nurturing Network deveria ser uma central de apoio e cuidado para cada mulher grávida, ajudando-as em suas necessidades em seis áreas principais: trabalho, educação, moradia, cuidados médicos, aconselhamento e finanças. Em dois anos fiz um estudo de marketing, preparei uma estratégia realista e fiz meu planejamento financeiro — o orçamento para o projeto. Então convidei alguns colegas e amigos da época em que eu trabalhava para fazerem parte do projeto. A resposta que obtive foi encorajadora.

Utilizando os recursos de um bazar juntamente com a mobília de minha antiga casa, comecei o Nurturing Network no Dia das Mães, em 1985. Com um número restrito de voluntários, abri o primeiro escritório em Osterville, Massachussetts (Estados Unidos), onde morávamos na época.
Meu objetivo inicial era simples: queria ajudar uma mulher por mês. Mas no primeiro mês auxiliamos 12 mulheres! Isso chegou há mais de 9 mil mulheres. Todas ficaram sabendo a nosso respeito por meio de outras pessoas, de outras organizações, da televisão, do rádio, de jornais e revistas. O Nurturing Network cresceu e agora tem mais de 22 mil voluntários nos Estados Unidos e em mais 23 países, amigos dedicando-se a ajudar gestantes que necessitam dos mais variados tipos de apoio. Estes voluntários podem ser profissionais como médicos, psicólogos, famílias que tenham um quarto a mais em sua casa e queiram praticar a hospitalidade ou pessoas compassivas que possam ajudar financeiramente. Todo tipo de apoio é necessário, e por cada ação somos profundamente gratos.

Ainda me lembro de Muriel, uma jovem gestante que nos procurou. Apesar de não estar ameaçada em seu emprego, sua situação era sensível. Aos 28 anos, havia trabalhado muito e se destacara profissionalmente em uma firma de design de interiores em uma grande cidade. Sonhava em retornar à universidade para cursar Arquitetura e precisava do emprego para pagar as mensalidades. Ao longo das semanas, conforme sua barriga mostrava os primeiros sinais, Muriel temia perder o emprego quando sua gravidez se tornasse óbvia. Ela nunca havia pensado a respeito do aborto. Era algo que só ouvira falar em noticiários e não a afetava. Agora parecia ser uma solução prática e rápida.

Muriel não costumava assistir à TV. Mas em uma sexta-feira à noite, ela ligou a TV e me ouviu falar a respeito do Nurturing Network em um programa de entrevistas. Ela nos ligou no meio da noite e deixou um recado. Na manhã seguinte conversamos por horas. Em prantos, falou sobre o medo de perder o emprego e a impossibilidade de cursar a universidade. Seus pais não teriam dinheiro para pagar as mensalidades, ainda mais com as despesas de uma criança. Quando perguntei sobre o apoio do namorado, ela disse: “Phil não está pronto para as responsabilidades do casamento, e nem eu. Um casamento às pressas seria um desastre.”

Com empatia, ouvi seu relato e lhe assegurei de que poderíamos ajudá-la. Em poucos dias encontramos uma casa para ela próxima de uma faculdade de Arquitetura em outro estado. O casal com quem Muriel se hospedou a ajudou nas provas para a universidade e também auxiliou para que ela encontrasse um emprego de meio-período. Algumas semanas após o parto, ela entregou sua filha para adoção, pois tinha convicção de que crianças merecem viver em um lar com pai e mãe. Foi uma decisão difícil e solitária, mas Muriel encarou a situação como a oportunidade de encontrar uma boa solução para uma situação pessoal agonizante.

A confiança, o respeito e a auto-estima de Muriel cresceram tremendamente no processo de transformar sua gravidez indesejada em bênção. Alegrei-me, pois testemunhei o crescimento emocional e espiritual dessa mulher. Os momentos mais tristes que vivemos no Nurturing Network são aqueles em que recebemos um telefonema ou uma carta de alguém que veio buscar ajuda tarde demais, como uma mulher que telefonou de uma lavanderia, chorando muito.

Ela tinha visto nosso cartaz que oferecia ajuda e o telefone para contato: “Fiz um aborto ontem! Não sabia que vocês existiam! Se eu soubesse...” Estas palavras machucam meu coração, mas me mantêm viva e encorajada para o trabalho. Nos dias em que me sinto cansada, em que parece que as horas e a energia não são suficientes, ouço a voz daquela mulher. E ouço Outra voz também: “Meu jugo é suave e meu fardo é leve.”

O Nurturing Network continua a prometer a mães e crianças necessitadas: vocês não estão sozinhos. Com a ajuda de Deus, os carregaremos em nossos braços. Vocês não precisam abrir mão da vida de seus filhos quando o desespero chegar. No meio de tudo o que você está vivendo, não se esqueça em nenhum momento de que seu bebê é o melhor presente: o presente do amor, o presente da vida.

Una McManus é escritora e mora em Maryland (Estados Unidos). Para entrar em contato com Mary Cunningham Agee no Nurturing Network escreva para: The Nurturing Network, Campus of Franciscan University, University Blvd., Steubenville, OH 43952. EUA.

No Brasil você pode fazer contato com: CERVI [Centro de Reestruturação para a Vida], organização não-governamental que oferece assistência integral a mulheres que passam por gravidez indesejada, valorizando a opção pela vida. Criada no Brasil em março de 2000, CERVI é uma extensão do projeto americano Life International (www.lifeinternational.com) e tem sua sede em São Paulo, SP. Saiba mais: www.cervi.org.br Contatos: (0XX11) 3822-2001 ou
cervi.vida@terra.com.br Copyright © 2008 por Christianity Today International(Traduzido por Karen Bomilcar)

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