_ “Cantai ao Senhor, louvai ao Senhor; pois livrou a alma do necessitado da mão dos malfeitores” (Jr 20.13).
Quando lemos esse texto, isoladamente, podemos  até imaginar que essas palavras são fruto de um “animador de auditório gospel”  dos dias atuais, tentando  se comunicar, incentivar e motivar uma plateia para participar dos cânticos públicos. Mas quando  lemos  o contexto, tanto o anterior  como o posterior,  ficamos profundamente  perplexos, tanto pelo que o profeta acabara de dizer como pelo que  expressa em seguida ao texto supra referido.
Primeiramente ele havia  proferido uma contundente profecia contra a cidade de Judá e todo o povo judeu, dizendo-lhes  que Deus haveria de  enviá-los para  o cativeiro babilônico por causa de sua rebeldia contra o Senhor. Essa profecia acarretou a revolta dos líderes eclesiásticos e, principalmente, dos falsos profetas que havia  entre eles. Os quais se opunham  às palavras proféticas porque elas  condenavam suas práticas  pervertidas e enganadoras.
Entre esses falsos profetas havia um tal de  Pasur, o qual achou-se no direito de  agredir e mandar prender o profeta Jeremias, acusando-o de calúnia e desrespeito para com o seu povo. Jeremias, porém, não se calou diante das afrontas e ameaças. Ao contrário, profetizou  maldição e punição divina contra  os reis e todo o povo de Judá. Anunciou o castigo de Deus contra a rebeldia e incredulidade de seu povo, o qual seria levado cativo para a Babilônia, assim como “toda a riqueza da cidade, todo o fruto do seu trabalho e  todas as coisas preciosas”. Todos os tesouros dos reis de Judá, assim como todo o povo, seriam entregues  nas mãos dos inimigos. E Pasur, com toda a sua família, iria para a Babilônia, onde  haveriam de morrer e serem sepultados. Depois (20.7-12), Jeremias faz  uma oração de adoração e exaltação ao Senhor, manifestando a sua perplexidade diante da situação  social pervertida do povo a quem tanto amava. E o faz  com palavras de profunda emoção e contrição: “Porque, sempre que falo, tenho de gritar e clamar: Violência e destruição... então, isso me foi  no  coração como fogo ardente; encerrado nos meus ossos; já desfaleço de sofrer e não posso mais... Porque ouvi a murmuração  de muitos: Há terror  por todos os lados! Denunciai, e o denunciaremos!” (v.8- 10).
O que Jeremias descreve com essas palavras, tão repletas de tristeza e amargura, bem poderia ser a descrição dos fatos que presenciamos  diariamente nos  noticiários da  mídia de nosso  país. Se disséssemos que  essas palavras foram as manchetes dos jornais de nosso país para comunicar a situação caótica  de nossas cidades, onde impera a violência e a corrupção política e social, ninguém estranharia. De fato o mundo não melhorou, e a tendência, segundo a Bíblia, é  piorar cada vez mais, até  à volta do Senhor Jesus, o qual há de restaurar definitivamente a terra em que vivemos. Ou melhor,  há de nos proporcionar uma nova  Terra, redimida do pecado e de toda corrupção.
Antes de conclamar seus ouvintes a louvarem ao Senhor, Jeremias ainda apresenta sua confiança na providência e misericórdia divina em meio ao caos vigente: “Mas o Senhor  está comigo como um poderoso guerreiro;  por isso, tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão; serão sobremodo envergonhados...” (v.11). E conclui sua oração no v.12 invocando ao Senhor para que lhe permita ver a  vingança divina contra  os que rejeitaram a Palavra do Senhor e viveram buscando apenas  seus  interesses imediatos e mesquinhos.
 Jeremias  não se intimidou nem se acovardou diante das afrontas e dos sofrimentos que lhe foram impostos por ele ter sido fiel ao Senhor, tendo que se posicionar  contra  todos os costumes e práticas contrárias aos preceitos morais e espirituais estabelecidos e determinados  por Deus. Ele não se calou, nem se deixou corromper diante da situação de corrupção e violência contra o pobre e o necessitado. Não estava  defendendo seus próprios interesses, mas, acima de tudo, procurava cumprir a  ordem do Senhor e também defender a causa dos menos favorecidos, os que não tinham voz nem vez naquela  sociedade.  
Não seria  esta postura ética, cristã, que está faltando da parte da igreja do Senhor em nossos  dias? Parece que o desejo de aparecer, de agradar  a todos e receber os louvores das autoridades constituídas têm sido a forma mais sutil do diabo para fazer calar a voz profética de nossos dias. Já não  se ouve falar de homens como Jeremias, Martin  Luther King e  tantos profetas do passado que levantaram a voz contra os regimes  racistas, discriminatórios  e injustos.  Já não ousamos expressar qualquer palavra  contundente sobre a ira de Deus contra o pecado, contra a corrupção social e política da parte  de governantes e autoridades  corruptas e  pervertidas.
A igreja  do Senhor está sendo silenciada com os aplausos, títulos de cidadãos honorários e comendas; prestígios  sociais, elogios, mimos e exaltações públicas por serviços prestados à comunidade. Ficamos extasiados e orgulhosos ao  assistirmos  reportagens no Jornal Nacional mencionando  a relevância  do trabalho social prestado à comunidade por nossas igrejas e denominações. Mas qual seria a atitude de nossa gente, se algum Jeremias se levantasse atualmente para protestar contra a situação perversa e injusta que o nosso povo (não apenas os evangélicos, mas todo o povo sofrido de nossa pátria) está enfrentando devido à corrupção vigente?  Qual seria o líder cristão que  ousaria ficar sozinho contra  a maioria? Quem arriscaria perder o prestígio popular, remar contra a maré para ser a voz  profética  para este  mundo em crise no qual estamos  vivendo?
Quem arriscaria seu status e glamur para enfrentar os poderosos deste mundo em obediência unicamente ao Senhor?  Mas é  exatamente  isto que Deus requer de Seus  profetas de todos os tempos. Homens e  mulheres que foram  chamados  por Deus para  proclamar as virtudes da glória de Deus e  proclamar sobre a  ira vindoura e o ano aceitável ao Senhor. Deus nos chamou para fazermos a diferença nesta geração perversa e corrompida, entre a qual precisamos ser  como astros no mundo. Deus não nos chamou para  sermos moldados  e acomodados, nos satisfazendo  apenas com privilégios e honras da parte  de uma sociedade marcada pela corrupção e desonestidade.
Só depois dessa veemente  proclamação profética é que  Jeremias apresenta seu convite à adoração ao Senhor. Não  sem lágrimas de paixão e regozijo pela manifestação poderosa da ação divina. Além disso, o profeta ainda  manifesta seu profundo  descontentamento e  indignidade (v.14-18) diante da situação vivenciada. Ele  chega até mesmo a  amaldiçoar o dia em que  nasceu, tal a perplexidade de seu coração.
É justamente em meio essa  explosão de sentimentos que o profeta conclama o povo de Deus a louvar ao Senhor, porque só Ele é digno de toda honra e louvor. Não o faz com leviandade e superficialidade, mas com temor e tremor diante  desse Deus  santo e poderoso que é o nosso Deus. Não podemos baratear o louvor ao Senhor com melodias  humanísticas, tentando levantar o ânimo das pessoas em detrimento ao temor e louvor que devemos unicamente ao Senhor da glória. Com esse  mesmo sentimento e propósito, louvemos ao Senhor!
Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br
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