sexta-feira, 23 de abril de 2010

LOUVAI AO SENHOR!

_ “Cantai ao Senhor, louvai ao Senhor; pois livrou a alma do necessitado da mão dos malfeitores” (Jr 20.13).

Quando lemos esse texto, isoladamente, podemos até imaginar que essas palavras são fruto de um “animador de auditório gospel” dos dias atuais, tentando se comunicar, incentivar e motivar uma plateia para participar dos cânticos públicos. Mas quando lemos o contexto, tanto o anterior como o posterior, ficamos profundamente perplexos, tanto pelo que o profeta acabara de dizer como pelo que expressa em seguida ao texto supra referido.

Primeiramente ele havia proferido uma contundente profecia contra a cidade de Judá e todo o povo judeu, dizendo-lhes que Deus haveria de enviá-los para o cativeiro babilônico por causa de sua rebeldia contra o Senhor. Essa profecia acarretou a revolta dos líderes eclesiásticos e, principalmente, dos falsos profetas que havia entre eles. Os quais se opunham às palavras proféticas porque elas condenavam suas práticas pervertidas e enganadoras.

Entre esses falsos profetas havia um tal de Pasur, o qual achou-se no direito de agredir e mandar prender o profeta Jeremias, acusando-o de calúnia e desrespeito para com o seu povo. Jeremias, porém, não se calou diante das afrontas e ameaças. Ao contrário, profetizou maldição e punição divina contra os reis e todo o povo de Judá. Anunciou o castigo de Deus contra a rebeldia e incredulidade de seu povo, o qual seria levado cativo para a Babilônia, assim como “toda a riqueza da cidade, todo o fruto do seu trabalho e todas as coisas preciosas”. Todos os tesouros dos reis de Judá, assim como todo o povo, seriam entregues nas mãos dos inimigos. E Pasur, com toda a sua família, iria para a Babilônia, onde haveriam de morrer e serem sepultados. Depois (20.7-12), Jeremias faz uma oração de adoração e exaltação ao Senhor, manifestando a sua perplexidade diante da situação social pervertida do povo a quem tanto amava. E o faz com palavras de profunda emoção e contrição: “Porque, sempre que falo, tenho de gritar e clamar: Violência e destruição... então, isso me foi no coração como fogo ardente; encerrado nos meus ossos; já desfaleço de sofrer e não posso mais... Porque ouvi a murmuração de muitos: Há terror por todos os lados! Denunciai, e o denunciaremos!” (v.8- 10).

O que Jeremias descreve com essas palavras, tão repletas de tristeza e amargura, bem poderia ser a descrição dos fatos que presenciamos diariamente nos noticiários da mídia de nosso país. Se disséssemos que essas palavras foram as manchetes dos jornais de nosso país para comunicar a situação caótica de nossas cidades, onde impera a violência e a corrupção política e social, ninguém estranharia. De fato o mundo não melhorou, e a tendência, segundo a Bíblia, é piorar cada vez mais, até à volta do Senhor Jesus, o qual há de restaurar definitivamente a terra em que vivemos. Ou melhor, há de nos proporcionar uma nova Terra, redimida do pecado e de toda corrupção.

Antes de conclamar seus ouvintes a louvarem ao Senhor, Jeremias ainda apresenta sua confiança na providência e misericórdia divina em meio ao caos vigente: “Mas o Senhor está comigo como um poderoso guerreiro; por isso, tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão; serão sobremodo envergonhados...” (v.11). E conclui sua oração no v.12 invocando ao Senhor para que lhe permita ver a vingança divina contra os que rejeitaram a Palavra do Senhor e viveram buscando apenas seus interesses imediatos e mesquinhos.

Jeremias não se intimidou nem se acovardou diante das afrontas e dos sofrimentos que lhe foram impostos por ele ter sido fiel ao Senhor, tendo que se posicionar contra todos os costumes e práticas contrárias aos preceitos morais e espirituais estabelecidos e determinados por Deus. Ele não se calou, nem se deixou corromper diante da situação de corrupção e violência contra o pobre e o necessitado. Não estava defendendo seus próprios interesses, mas, acima de tudo, procurava cumprir a ordem do Senhor e também defender a causa dos menos favorecidos, os que não tinham voz nem vez naquela sociedade.

Não seria esta postura ética, cristã, que está faltando da parte da igreja do Senhor em nossos dias? Parece que o desejo de aparecer, de agradar a todos e receber os louvores das autoridades constituídas têm sido a forma mais sutil do diabo para fazer calar a voz profética de nossos dias. Já não se ouve falar de homens como Jeremias, Martin Luther King e tantos profetas do passado que levantaram a voz contra os regimes racistas, discriminatórios e injustos. Já não ousamos expressar qualquer palavra contundente sobre a ira de Deus contra o pecado, contra a corrupção social e política da parte de governantes e autoridades corruptas e pervertidas.

A igreja do Senhor está sendo silenciada com os aplausos, títulos de cidadãos honorários e comendas; prestígios sociais, elogios, mimos e exaltações públicas por serviços prestados à comunidade. Ficamos extasiados e orgulhosos ao assistirmos reportagens no Jornal Nacional mencionando a relevância do trabalho social prestado à comunidade por nossas igrejas e denominações. Mas qual seria a atitude de nossa gente, se algum Jeremias se levantasse atualmente para protestar contra a situação perversa e injusta que o nosso povo (não apenas os evangélicos, mas todo o povo sofrido de nossa pátria) está enfrentando devido à corrupção vigente? Qual seria o líder cristão que ousaria ficar sozinho contra a maioria? Quem arriscaria perder o prestígio popular, remar contra a maré para ser a voz profética para este mundo em crise no qual estamos vivendo?

Quem arriscaria seu status e glamur para enfrentar os poderosos deste mundo em obediência unicamente ao Senhor? Mas é exatamente isto que Deus requer de Seus profetas de todos os tempos. Homens e mulheres que foram chamados por Deus para proclamar as virtudes da glória de Deus e proclamar sobre a ira vindoura e o ano aceitável ao Senhor. Deus nos chamou para fazermos a diferença nesta geração perversa e corrompida, entre a qual precisamos ser como astros no mundo. Deus não nos chamou para sermos moldados e acomodados, nos satisfazendo apenas com privilégios e honras da parte de uma sociedade marcada pela corrupção e desonestidade.

Só depois dessa veemente proclamação profética é que Jeremias apresenta seu convite à adoração ao Senhor. Não sem lágrimas de paixão e regozijo pela manifestação poderosa da ação divina. Além disso, o profeta ainda manifesta seu profundo descontentamento e indignidade (v.14-18) diante da situação vivenciada. Ele chega até mesmo a amaldiçoar o dia em que nasceu, tal a perplexidade de seu coração.

É justamente em meio essa explosão de sentimentos que o profeta conclama o povo de Deus a louvar ao Senhor, porque só Ele é digno de toda honra e louvor. Não o faz com leviandade e superficialidade, mas com temor e tremor diante desse Deus santo e poderoso que é o nosso Deus. Não podemos baratear o louvor ao Senhor com melodias humanísticas, tentando levantar o ânimo das pessoas em detrimento ao temor e louvor que devemos unicamente ao Senhor da glória. Com esse mesmo sentimento e propósito, louvemos ao Senhor!

Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

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