quinta-feira, 15 de abril de 2010

TENSÃO PRÉ DESPEDIDA - TPD

A vida é uma permanente despedida – uma Via de Despedida. Como Eliseu, quando sentia-se no auge de sua TPD de Elias. Em 2 Reis 2.1-6, diz a Bíblia que Eliseu, por três vezes disse a Elias: "Tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E, assim, ambos foram juntos".

Creio que todos nós já experimentamos sentimentos semelhantes, quando nos preparamos para uma longa viagem, ou quando alguém a quem amamos está prestes a se despedir de nós; seja por tempo determinado, ou quando nos parece ser definitivo e irreversível a separação. O fato é que a despedida entre pessoas que se amam, se admiram, se prezam, é sempre algo doloroso, emocionante, triste. Dói na alma, machuca o coração.

Pessoalmente, sinto uma tremenda dificuldade em fazer qualquer tipo de viagem que cause a minha ausência e distanciamento dos meus queridos; ainda que seja por pouco tempo. O fato é que sentimos vontade de absorver, reter, cada gesto cada palavra, cada expressão e atitude da pessoa amada. Pensamos em desistir ou impedir que tal viagem ou distanciamento aconteça. Se possível fora, pararíamos o tempo, congelaríamos aqueles momentos antecedentes a tal despedida. Ficamos impregnados da pessoa amada. Há um sentimento de posse que relutamos em deixar escapar, abrir mão. É o auge da TPD.

Na verdade, essas palavras expressam o sentimento que invade o nosso coração quando nos preparamos para viajar, ou quando alguém a quem amamos está prestes a fazê-lo. É algo inexplicável. Um turbilhão de emoções e pensamentos afloram em nossa mente e coração. É quando mais sentimos vontade de estar perto, juntos, curtindo, sorvendo cada minuto, e sem sabermos como.

Queremos estar juntos uns dos outros sempre, em todo o tempo. Queremos demonstrar o afeto que nutrimos uns pelos outros, até então inconfessáveis, não revelados. Esses momentos nos proporcionam um tipo peculiar de emoção. Não conseguímos contê-las, reprimi-las, evitá-las. Sentimo-nos premidos pela necessidade de expressar, desabafar nossas emoções mais íntimas.

Nesses momentos é que sentimos como a vida é fugaz e passageira, o quão dependentes somos uns dos outros e a nossa relutância em aceitar a independência, ainda que passageira, temporária, das pessoas amadas. Assim, procuramos valorizar e aproveitar cada instante juntos, irmanados. Percebemos, assim, que cada momento de nossa vida é sempre uma despedida. Queremos ouvir, queremos falar, compartilhar, interagir. Enfim, queremos VIVER intensamente cada momento em sua plenitude. É quando mais sentimos o quanto somos importantes para alguém e o quão importantes são aqueles que nos cercam.

Então, como Eliseu, queremos estar ao lado, passo a passo, das pessoas amadas. "Tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei" – dizemos. As palavras de Eliseu expressam o mesmo que gostaríamos de dizer aos nossos queridos. E na verdade assim o fazemos quando podemos. Procuramos reter ao máximo a companhia da pessoa amada. Este também foi o sentimento demonstrado pelo apóstolo Pedro para com o Senhor Jesus. E Lucas diz: "não sabendo, porém, o que dizia". Era uma "prosa" descontrolada, sem sentido, sem nexo.
Na verdade, nós também não sabemos o que dizer em momentos como esses.

Mas, o que mais me impressiona é que o assunto ao qual o Senhor conversava com Moisés e Elias era, precisamente, a respeito de Sua partida. E era também o propósito de Jesus em conduzir os discípulos àquele monte. Ou seja, prepará-los adequadamente para aquele dia de Sua separação física dos mesmos. Portanto, os discípulos de Jesus, enquanto estavam sendo preparados para a despedida do Mestre, procuravam aproveitar ao máximo a bendita companhia. E, sem que percebessem, estavam sendo treinados para enfrentar a TPD – ou a dor da separação. Então, o que fazer, como agir diante da TPD, ou em momentos como esses? Vejamos alguns pontos fundamentais que podemos extrair para nossa reflexão no sentido de vencer a TPD.

– Precisamos compreender que a vida, cada momento que vivemos, é sempre uma despedida. Cada oportunidade que temos nesta vida é sempre uma despedida de alguém ou de alguma coisa. Vivemos o tempo do fim.
– Todo momento é importante, ainda que seja um laser ou uma brincadeira de criança. São momentos únicos, definitivos e irreversíveis. Não podemos esperar que haja um replay dos bons momentos vividos, nem mesmo desejar revivê-los plenamente. Apenas relembrá-los.
– Não podemos congelar o tempo e as oportunidades; mas podemos reter as boas lembranças das pessoas queridas. Podemos continuar a amá-las, ainda que distantes. Precisamos nos dar conta do quão importante são as pessoas com quem convivemos, mesmo aquelas que nos aborrecem e nos irritam. De certa forma, todas elas nos proporcionam oportunidades para crescermos, expressarmos amor, compreensão, respeito, ternura, perdão e compaixão.
– Precisamos extrair desses momentos significativos lições que enriqueçam nossas vidas. E, uma dessas lições que podemos extrair dos ensinos de Jesus em circunstâncias semelhantes é que a vida terrena é sempre uma ponte, uma despedida. Estamos sempre e continuamente em TPD.

A vida é uma constante crise, ou tensão pré-despedida. A cada momento de nossas vidas estamos nos despedindo de alguém ou de alguma coisa. Seja física, mental, emocional, ou espiritualmente. Estamos sempre em situação de partida, viajando sempre, passando. Esta convicção, ou constatação, nos torna mais responsáveis e vigilantes quanto às nossas atitudes, reações e decisões que tomamos. Isto porque, sentimos o quão marcantes e definitivos são nossos atos, palavras e relacionamentos. Estamos sempre influenciando, marcando vidas. Assim como ficamos impregnados, tocados, contagiados e fortemente impactados com as lembranças daqueles que se vão, ou daqueles que ficam.

Creio que esses momentos aumentam nosso afeto e amor de uns para com os outros. Aprendemos a expressar, com mais eficácia, nossos sentimentos de carinho, afeto e admiração, às vezes contidos, não compartilhados. Sinto uma tremenda necessidade de desabafar tais sentimentos. Por isso escrevo e quero ler, ouvir e sentir, cada vez mais, a manifestação de amor e carinho daqueles que correspondem com meu afeto. Quero que todos saibam o quanto me regozijo e me emociono com tais demonstrações. E tudo isso nos torna mais humanos, mais íntimos, mais afetivos de uns para com os outros; e mais gratos ao nosso Pai celeste por nos proporcionar tais emoções. Não podemos nos esquecer que Jesus estava sempre advertindo Seus discípulos para o fato de que o fim era iminente. Também nós, precisamos estar sempre alertas para o fato de que quando nascemos demos o primeiro passo para a morte; iniciamos um longo (ou curto) processo de TPD. O evangelista Lucas nos apresenta um resumo do ensino de Jesus para enfrentarmos e vencermos a TPD:
_ Orando (Lc 9.28).
_ Meditando na Palavra (Lc 9.30-31).
_ Observando, ou meditando, na majestade da glória de Deus (Lc 9. 32-36).
_ Buscando, ouvindo e tendo comunhão com o Senhor Jesus Cristo (Lc 9.35).
_ Agindo, exercitando o ministério cristão para com os aflitos (Lc 9.37-43).
Que o Senhor nos abençoe a fim de que possamos nos apropriar desse ensino e das consolações celestiais para, assim, superarmos a TPD. Amém.

Pr. Vanderlei Faria
pastorvanderleifaria@yahoo.com.br

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